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UNITA vence no Zaire, população diz temer represálias

Firmino Chaves (Mbanza Congo)
31 de agosto de 2022

UNITA foi o partido mais votado no Zaire, terra de petróleo em que muitos se dizem sentir "esquecidos" pelo Governo. A oposição destronou o MPLA, que venceu na maioria das províncias, segundo os dados finais da CNE.

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Marcha da UNITA no Zaire "contra a ditadura", julho de 2022
Marcha da UNITA no Zaire "contra a ditadura", julho de 2022Foto: Firmino Chaves/DW

Aseleições de 24 de agosto na província angolana do Zaire entraram no livro de recordes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Pela primeira vez, o maior partido da oposição consegue três mandatos parlamentares no ciclo provincial do Zaire, deixando para trás o MPLA, com apenas dois deputados. 

A vitória divide opiniões entre a população. Alguns dizem que este resultado pode colocar a província na "lista negra" do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa o país há mais de 45 anos. Outros temem algo pior, como o acicatar das divisões entre a população.

"A vitória esmagadora da UNITA na província poderá suscitar o ódio", comenta o cidadão Garcia Tovola. "E a situação económica vai agudizar-se cada vez mais, as famílias vão cada vez mais viver na miséria".

Adalberto Costa Júnior, líder do partido da oposição UNITA durante um comício em Luanda, maio de 2022
UNITA, de Adalberto Costa Júnior, obteve 52,12% dos votos no Zaire, contra 36,26% do MPLA (dados finais da CNE)Foto: Julio Pacheco Ntela/AFP

Chamada de atenção para o MPLA

O cidadão César Júnior está mais otimista. Os resultados no Zaire farão com que o MPLA "preste mais atenção à província, porque senão, nas próximas eleições, perderá todos os deputados para a oposição", assegura.

Até aqui, a província do Zaire era representada na Assembleia Nacional por três partidos políticos: o MPLA, com três deputados, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e a UNITA, com um deputado cada.

"O Executivo tinha o Zaire como um bastião, onde o voto era sempre certo. Não precisava de investir muito no Zaire, preferia investir nas zonas em que perdia as eleições", mas esse tempo acabou, conclui César Júnior.

Zaire mostrou descontentamento

O ativista Pedro Kiankanu também vê os resultados destas eleições como uma chamada de atenção para quem governa. A juventude "despertou", o Zaire mostrou o seu descontentamento.

Presidente reeleito, João Lourenço
Muitos populares do Zaire estão insatisfeitos com o trabalho do líder do MPLA, João LourençoFoto: JULIO PACHECO NTELA/AFP

"Já não estamos preparados para engolir sapos. Nos próximos tempos, se o Governo do MPLA não resolver os problemas do Zaire, o MPLA terá sempre como resposta um 'não' nas urnas", diz Kiankunu.

Apesar da vitória da UNITA no Zaire, os resultados finais das eleições gerais de 24 de agosto apresentados na segunda-feira pela Comissão Nacional Eleitoral ditaram a vitória do MPLA no país.

Para o professor e ativista Carlos Donquel, é uma grande derrota para o povo da província: "Durante os cinco anos de governação, João Lourenço não prestou atenção ao Zaire e não se preocupou nem um pouco com a província. Nós somos a província que mais contribui para o Orçamento Geral do Estado (OGE), mas até aqui somos esquecidos. Imagine-se uma província como a nossa, que produz tanto petróleo, viver nas condições em que vive."

A DW contactou o secretário provincial da UNITA para possíveis pronunciamentos, mas fomos informados de que se encontra na capital, Luanda. Também não foi possível obter uma reação do MPLA.

"O MPLA tem de perceber o grande trabalho que o espera"