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PolíticaAlemanha

Vitória social-democrata na Alemanha

Johannes Beck | Thiago Melo | AFP | Reuters | AP | DPA
27 de setembro de 2021

SPD aparece na liderança eleitoral, segundo o resultado final da votação deste domingo na Alemanha. Em segundo, CDU já amarga o seu pior resultado na história. Líderes começam a falar sobre as possíveis coligações.

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Olaf Scholz: "Um grande vitória nesta noite longa"Foto: Habbibal Hanschke/REUTERS

O Partido Social-Democrata (SPD) conseguiu vencer votação deste domingo (26.09) na Alemanha com uma pequena vantagem sobre a união dos dois partidos conservadores, a União Democrata-Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU).

A votação entra para a história, uma vez que definirá quem será o novo chanceler alemão, que assume o lugar de Angela Merkel. Mas também porque os resultados são os piores já conquistados até agora pela CDU, partido da própria Merkel.

Desde o início da noite eleitoral, as projeções apontavam os sociais-democratas do SPD na liderança, com alguns ganhos em comparação com o último pleito de 2017 e mais de 25% dos votos, seguido pelos conservadores da CDU, com cerca de 24%. Depois vem os Verdes que conquistam o terceiro lugar, com fortes ganhos e cerca de 14%. 

O resultado final provisório publicado na madrugada da segunda-feira:

  • SPD em primeiro lugar, com 25,7% (+5,2%) e 168 deputados
  • CDU/CSU em segundo lugar com 24,1% (-8,9%) e 158 deputados
  • Os Verdes em terceiro lugar com 14,8% (+5,8%) e 97 deputados
  • FDP, o partido liberal, em quarto lugar com 11,5% (+0,7%) e 75 deputados
  • AfD, a extrema-direita, em quinto lugar com 10,3% (-2,3%) e 67 deputados
  • A Esquerda em sexto lugar com 4,9% (-4,3%) e 32 deputados

Também foi eleito um deputado pelo partido da minoria dinamarquesa SSW (Südschleswigscher Wählerverband). Este partido é isento da barreira dos cinco por cento normalmente em vigor na Alemanha e volta ao Bundestag, o parlamento da Alemanha, depois de muitas décadas sem representação a nível federal. 

Com um total de 735 deputados, o próximo parlamento será o maior da história da Alemanha. Na legislatura passada, tinha fracassada uma reforma para diminuir o alto número dos parlamentares, que é resultado do complexo sistema eleitoral na Alemanha.

"SPD tem mandato para formar uma coligação"

O candidato a chanceler do SPD, Olaf Scholz, falou de "uma grande vitória nesta noite eleitoral longa". Disse que os cidadãos querem que ele seja o novo chanceler. 

O Secretário-Geral do Partido Social Democrata (SPD), Lars Klingbeil, reagiu logo após os primeiros dados preliminares divulgados pela pesquisa à boca de urna e disse que o seu partido tem um mandato claro para formar uma coligação.

"O SPD tem o mandato de governar. Queremos que Olaf Scholz seja chanceler", disse Klingbeil.

"Sempre soubemos que seria uma corrida renhida. Sabíamos que seria uma campanha eleitoral renhida", disse Klingbeil à emissora pública ZDF. Klingbeil chamou um "sucesso louco" ao SPD, dizendo que estava muito contente.

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Membros do SPD celebram os primeiros resultados das eleiçõesFoto: Leon Kuegeler/REUTERS

Resultados "amargos" para a CDU

O secretário-geral da CDU manifestou o seu desapontamento com os resultados das sondagens à boca das urnas. "As perdas são amargas em comparação com as últimas eleições" em 2017, quando a CDU/CSU obteve mais de 30%, disse Paul Ziemiak à imprensa.

Ziemiak mostrou confiança ao dizer que a CDU ainda esperava liderar uma coligação que incluísse os Verdes e o FDP.

O líder do CDU/CSU, Armin Laschet, também manifestou o seu desejo de formar uma coligação com os Verdes e o partido liberal FDP. "Quero liderar uma coligação do futuro", disse Laschet quando se apresentou aos membros do seu partido em Berlim. Esteve rodeado de muitos políticos do seu partido, como a chanceler Angela Merkel.

Laschet falou em Berlim ao lado de políticos da CDU, incluindo a chanceler cessante Angela Merkel
Laschet falou em Berlim ao lado de políticos da CDU, incluindo a chanceler cessante Angela MerkelFoto: Sean Gallup/Getty Images

Apesar de ganhos, os Verdes estão desapontados

A candidata a chanceler dos Verdes, Annalena Baerbock, elogiou o desempenho do seu partido como o seu "melhor resultado da história" num discurso aos seus apoiantes em Berlim. O resultado preliminar de cerca de 14% está bem à frente do seu melhor resultado anterior de 10,7% em 2009.

"Concorremos pela primeira vez para moldar este país como uma força líder", disse Baerbock. A certa altura, durante a campanha, o partido chegou a liderar as pesquisas com quase o dobro dos resultados atuais. "Queríamos mais", admitiu, mas disse que isso não resultou devido aos erros do partido e aos seus erros. "Este país precisa de um Governo climático", salientou Baerbock: "É isso que continuamos a lutar".

A candidata principal dos Verdes salientou que no voto dos jovens alemães o seu partido ficou em primeiro lugar. "Trata-se de uma questão de justiça entre gerações", disse Annalena Baerbock, que se mostrou aberta a iniciar conversas com os liberais sobre possíveis coligações.

"Fizemos ganhos significativos, mas é difícil para mim estar realmente satisfeito com estes ganhos", disse o secretário-geral do partido Michael Kellner, citado pela agência noticiosa DPA, avançando que o partido tem uma clara preferência por uma coligação com o SPD.

Bundestagswahl 2021 | Wahlparty der Grünen
Annalena Baerbock e Robert Habeck, líderes dos Verdes, reagem aos primeiros resultados da votação de domingoFoto: Tobias Schwarz/AFP/Getty Images

 

Liberais e Verdes provavelmente decidem futuro chanceler

O partido liberal ficou em quarto lugar atrás dos Verdes e conseguiu consolidar os resultados de dois dígitos com uma campanha focada no tema de reformas da tributação (menos impostos) e da digitalização. 

Christian Lindner, o líder dos liberais (FDP), disse que seria favorável uma coligação liderada pelo CDU/CSU juntamente com os Verdes. "Acho que a probabilidade de colocarmos a nossa política em prática é maior nesta constelação. Há uma ala de esquerda muito forte no SPD". Pelas cores dos três partidos participantes, que lembram a bandeira de um país caribenho, esta coligação também é designada como "Jamaica".

Mas Lindner também fez questão de não excluir uma coligação liderada pelo SPD com os Verdes. Esta coligação chama-se "Ampel" (semáforo, em alemão) pelas cores vermelho (SPD), amarelo (FDP) e verde. Lindner convidou os Verdes a iniciar conversas entre os dois partidos para sondar possíveis pontos em comum, antes de negociar com o SPD e/ou o CDU/CSU.

Sabe-se que os Verdes têm uma preferência forte por uma coligação liderada pelo SPD, já que pensam que este partido possibilitará mais medidas a favor do meio ambiente e uma política social mais interventiva.

A nível dos estados da Alemanha, há exemplos para as duas coligações. Em Schleswig-Holstein, no norte do país, governa uma coligação entre o CDU, os Verdes e o FDP com sucesso. Robert Habeck, um dos dois líderes dos Verdes, já foi ministro nesta coligação. Na Renânia-Palatinado, no oeste da Alemanha, governa uma coligação entre o SPD, os Verdes e o FDP, que já conseguiu ser reeleita em março deste ano. O secretário-geral nacional do FDP, Volker Wissing, é tido como um dos arquitetos desta coligação.

Lindner, líder dos liberais, falou em Berlim logo após a divulgação das projeções da votação
Lindner, líder dos liberais, falou em Berlim logo após a divulgação das projeções da votaçãoFoto: Annegret Hilse/REUTERS

Outras opções de coligação não são possíveis ou improváveis

Uma coligação à esquerda entre o SPD, os Verdes e a Esquerda não seria possível, já que não têm a maioria dos deputados necessária para eleger o chanceler.

Uma reedição da "grande coligação" entre o CDU/CSU e o SPD, que governou durante os últimos anos sob liderança de Angela Merkel, teria uma maioria dos deputados. Mas como nenhum dos dois grandes partidos gostaria de repetir esta coligação, ela não é muito provável.

Dadas as previsões, reunir o próximo Governo de coligação para a maior economia da Europa pode ser um longo e complicado processo de negociações. Na Alemanha, o partido que termina em primeiro lugar está mais bem colocado, mas não garantido, para formar o novo Governo. Por isso, Angela Merkel permanecerá como líder até que os partidos estabeleçam uma nova coligação entre si e um novo Governo esteja em funções. No noite eleitoral, alguns políticos disseram que gostariam de poder apresentar o novo Governo até o Natal.

Bundestagswahl 2021 | Wahlparty der CDU
Apoiadores da CDU reagem aos primeiros resultados em BerlimFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

Direita populista e Esquerda perdem apoio

Os resultados deste domingo revelam que a Alternativa para a Alemanha (AfD) perdeu apoio nas eleições deste domingo, em comparação à votação de há quatro anos. O partido, conhecido pelo seu discurso populista, não conseguiu colocar na agenda destas eleições a sua questão central: a migração. Apesar das perdas, o co-líder do partido Tino Chrupalla disse estar "muito satisfeito" com o resultado e congratulou-se com as pesadas perdas para o bloco da chanceler Angela Merkel.

"Temos uma base eleitoral central que consolidámos", disse Chrupalla, acrescentando que o objetivo dos partidos tradicionais de empurrar a AfD para fora do Bundestag tinha falhado. 

No outro lado do espectro político, a Esquerda também perdeu votos. O partido ficou reduzido à quase metade dos votos e até ficou abaixo da barreira do cinco por cento. Somente porque elegeu três deputados diretamente em círculos eleitorais de Berlim e Leipzig consegue formar mais uma vez um grupo parlamentar. A lei eleitoral prevê no caso de pelo me nos três mandatos diretos uma exeção da barreira dos cinco por cento. 

O seu líder Dietmar Bartsch culpou as querelas constantes no partido pelo mau resultado. “Não podemos continuar assim”, disse.

Bundestagswahl 2021 | Wahlparty der Linkspartei
O susto foi grande na EsquerdaFoto: Cathrin Mueller/REUTERS

Eleições estaduais: social-democratas ganham em Berlim e em Meclemburgo-Pomerânia Ocidental

Em paralelo à votação nacional, houve eleições estaduais em dois estados. Ambos foram ganhos pelo partido social-democrata SPD. Em Berlim, os Verdes conseguiram um resultado inesperado e durante algumas horas desta noite eleitoral, até pareciam como possíveis vencedores. A CDU sofreu o seu pior resultado de sempre na capital. É provável que a candidata principal do SPD, Franziska Giffey, será próxima primeira-ministra estadual de Berlim. Ela pode continuar a coligação atual entre o SPD e os Verdes e a Esquerda ou formar várias outras coligações. 

As eleições em Berlim foram marcadas por problemas de organização. Houve longas filas e em vários locais de votação, os boletins esgotaram durante à tarde. Boletins foram trocados entre vários distritos e tiveram que ser substituídos. Em alguns lugares, a votação apenas terminou mais de uma hora após o fecho oficial das urnas.

Bundestagswahl - Warteschlange in Berlin
Eleitores enfrentaram longas filas e a falta de boletins em algumas zonas de BerlimFoto: Monika Skolimowska/dpa/picture alliance

No estado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, no nordeste da Alemanha, as eleições correram sem sobressaltos. Neste caso, a vitória foi clara. O SPD ficou em primeiro lugar à grande distância do segundo partido, o AfD da direita populista. A CDU teve outro resultado desastroso e ficou apenas em terceiro lugar. Manuela Schwesig, do SPD, deve continuar como primeira-ministra. E pode formar várias coligações com a Esquerda, os Verdes e/ou o FDP.

Em direto da sede do partido vencedor das eleições alemãs

Johannes Beck
Johannes Beck Chefe de redação da DW África
Thiago Melo da Silva
Thiago Melo Jornalista da DW África em Bona
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