1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Sociedade civil dá nota negativa às eleições em Moçambique

Leonel Matias (Maputo)
17 de outubro de 2018

Uma semana depois das eleições, continuam a fazer-se ouvir críticas. Plataforma Votar Moçambique diz que processo não foi livre, justo nem transparente. Embaixador da Alemanha pede clarificação das contestações.

https://p.dw.com/p/36j9h
Lokalwahlen in Beira, Mosambik
Foto: DW/Arcénio Sebastião

A plataforma da sociedade civil Votar Moçambique convocou esta quarta-feira (17.10) uma conferência de imprensa em Maputo para deixar clara a sua posição sobre as autárquicas de 10 de outubro: "As eleições não foram nem livres, nem transparentes nem justas", frisou Edson Cortês, o diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização filiada no Votar Moçambique, citando o comunicado divulgado pela plataforma.

A opinião, diz Cortês, resulta de informações recolhidas pelo consórcio através de uma rede de pesquisadores, monitores, correspondentes e observadores espalhados pelas 53 autarquias moçambicanas.

"Conseguimos descortinar situações claras de intimidação aos eleitores, aos membros e candidatos dos partidos da oposição, a ação da polícia que sempre foi parcial no sentido de beneficiar o partido no poder e  a falta de transparência e de imparcialidade dos órgãos eleitorais", enumerou o diretor do CIP.

Mosambik Quelimane Lokalwahlen Polizei
Polícia fortemente armada durante a votação em Quelimane.Foto: DW/Marcelino Mueia

Além disso, acrescentou, a plataforma sente que "por parte dos titulares dos cargos públicos no mais alto nível nunca houve nenhuma posição condenatória para com os atos de violência e os ilícitos eleitorais que estavam acontecendo".

O comunicado da plataforma da sociedade civil aponta outras irregularidades, como a falta de coordenação entre os órgãos de gestão eleitoral. E dá o exemplo: em Monapo, depois da contagem provisória da CNE e do STAE ter dado vitória à RENAMO, a comissão distrital de eleições local apresentou os resultados oficiais que dão vitória à FRELIMO.

A Votar Moçambique denuncia, igualmente, que, de forma contínua, os órgãos eleitorais manifestaram relutância em divulgar resultados eleitorais nos municípios onde a oposição apresentava vantagem na contagem de votos.

Embaixador da Alemanha pede calma e clarificação

Detlev Wolter, Generalkonsul Deutschlands in Donezk (Ukraine)
Detlev WolterFoto: Generalkonsulat der Bundesrepublik Deutschland

O grupo de organizações da sociedade civil juntou-se a outras vozes que apelam a todos os que se sentirem lesados para recorrerem a todos os mecanismos legais para o tratamento das suas reclamações.

Também o embaixador da Alemanha, Detlev Wolter, considera que é necessário muito calmamente ouvir e clarificar o processo nos quatro municípios onde há contestações.

"A reconciliação, a tolerância, a paz e o processo de descentralização são um contributo muito importante para a estratégia de um futuro mais próspero e mais estável de Moçambique", disse o diplomata, frisando que o seu país subscreve a declaração da União Europeia que felicitou os moçambicanos pela maneira ordeira e geralmente pacífica destas eleições.

Qual o papel dos observadores?

A atuação dos observadores internacionais tem sido criticada no país, por sectores que chegam a questionar o seu paradeiro na hora do apuramento dos resultados, que são contestados pelos dois maiores partidos da oposição, a RENAMO e o MDM.

Sociedade civil dá nota negativa às eleições em Moçambique

Porém, o Diretor Executivo da Fundação Mecanismo de apoio a Sociedade civil, João Pereira, considera que "não cabe à observação internacional fazer um julgamento de um processo nacional. Cabe às organizações da sociedade civil nacionais alimentar as organizações internacionais com evidências concretas para poder chegar a uma conclusão exata".

Já o Diretor do Centro de Integridade Pública, Edson Cortês, considera que há uma mudança em relação ao passado em que os observadores se limitavam a dizer que, apesar de ter havido irregularidades, não tinham sido suficientes para manchar o processo.

Cortês cita comunicados de duas organizações internacionais divulgados nos últimos dias que aconselham os partidos sentindo-se lesados "a usar meios legais para canalizarem as suas reclamações".

"Isso pode mostrar que, de forma diplomática, mesmo os observadores internacionais conseguiram ver o quão as eleições não foram livres, transparentes e justas", conclui.

Saltar a secção Mais sobre este tema