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Diálogo volta a falhar em Moçambique depois de novo ataque

Leonel Matias (Maputo)16 de junho de 2014

A quatro meses das eleições gerais, marcadas para 15 de outubro, o país vive um clima de perplexidade: enquanto discurso político reafirma a intenção de ir a votos, o diálogo entre o Governo e a RENAMO não avança.

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Foto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

Falhou esta segunda-feira (16.06) a ronda negocial semanal entre o Governo moçambicano e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido da oposição, para tentar pôr termo à tensão político-militar que se regista no país.

Não foram reveladas publicamente as razões do adiamento, mas sabe-se que a delegação do Governo teria manifestado indisponibilidade, alegando razões de agenda.

Na véspera, no final de uma visita à província central de Tete, o Presidente Armando Guebuza garantiu que o Governo está a trabalhar para que a RENAMO pare com os ataques que tem protagonizado na região centro do país.
Uma emboscada preparada por homens armados, alegadamente da RENAMO, no domingo (15.06), causou a morte de quatro militares das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e deixou 13 feridos, nas proximidades do rio Mucodza, a 12 quilómetros da vila de Gorongosa, na província central de Sofala.

Os últimos dias foram marcados por uma declaração do líder da principal força da oposição, Afonso Dhlakama, em que ameaçou retornar à guerra e dividir o país caso não se registem progressos na mesa de diálogo.

Analistas desvalorizam ameaças de Dhlakama

No entanto, o analista Egídio Vaz , em entrevista à DW África, enquadra as ameaças da RENAMO "como uma linguagem político-estratégica que visa pressionar e viabilizar as suas exigências na mesa de negociações".

Por seu lado, o analista Tomás Vieira Mário partilha do mesmo ponto de vista e mostra-se confiante que as partes consigam alcançar um acordo, porque, tal como sublinhou, não existe outra saída senão essa. "A retórica política exprime apenas o seu desencanto com o desenrolar do processo, mas eu acreditto que, neste momento, devem estar a avançar as concertações sobre o esquema de observação internacional", comenta.
No entanto, o analista reconhece que "o tempo está a passar, o presidente da RENAMO está ainda nas matas da Gorongosa e não está a poder organizar as suas bases". Ainda assim, "o seu partido, nas províncias, tem estado a mobilizar os seus militantes, o que é sinal que a RENAMO está determinada a ir às eleições" a 15 de outubro, afirma Tomás Vieira Mário .

Egídio Vaz admite, como cenário mais provável, que as eleições possam acontecer sem o desarmamento e o acantonamento dos homens armados da RENAMO.

Acredita, no entanto, que até lá as duas partes vão alcançar um acordo para o fim da tensão político-militar. Desde logo porque "a guerra civil e, principalmente, essas guerras de baixa intensidade nunca tiveram como pano de fundo alcançar, por via militar, o poder", considera Egídio Vaz.

Para o analista político, "o objetivo da RENAMO será justamente pressionar o Governo a negociar os termos de paz. O Governo também dificilmente poderá vencer essas forças irregulares por via armada. Apesar destes confrontos, o Governo e a RENAMO demonstram estar interessados em seguir a via política como a mais apropriada para presseguir os seus interesses políticos". Além disso, a "guerra está a ser desaprovada pela população", remata Egídio Vaz..

Desarmamento da RENAMO é ponto de discórdia

O ponto de discórdia, neste momento, tem a ver sobretudo com as condições de desarmamento da RENAMO e com a exigência deste partido, rejeitada pelo Governo, para que os seus homens sejam integrados nos comandos gerais do exército e da polícia.
Tomás Vieira Mário considera que deve ser encontrado um meio-termo entre as duas partes, o que seria "colocar a questão em termos de quais são as formas de constituição de um exército republicano que obedeça ao poder político e não interfira em eleições - esse é o ponto fulcral. Enquanto as partes não chegarem a acordo há-de haver este impasse".

No entanto, o analista Tomás Vieira Mário é otimista: "eu penso que, no fim, poder-se-á encontrar um meio termo entre as posições extremadas", pondera.

Os dois analistas não colocam a possibilidade de a RENAMO não vir a participar nas eleições, destacando que este partido constitui ainda uma força incontornável para a democracia moçambicana, facto reconhecido pelo Tribunal Constitucional num acórdão.

Egídio Vaz e Tomás Vieira Mário referem, igualmente, que a RENAMO já provou que tem capacidade para desestabilizar e pode reforçar as suas ações militares caso as eleições ocorram sem ela.

Diálogo volta a falhar em Moçambique depois de novo ataque

Mosambik Krise Präsident Armando Guebuza mit Soldaten 24.10.2013
Governo e RENAMO desentendem-se sobre a integração dos homens do principal partido da oposição no exércitoFoto: Ferhat Momade/AFP/Getty Images
Mosambik Afonso Dhlakama Führer der Oppositionspartei RENAMO 2013
Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, tem ameaçado retornar à guerra e dividir o paísFoto: Getty Images/AFP
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