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Dados pouco fiáveis dificultam combate à Covid-19 em África

Martina Schwikowski | ac
24 de abril de 2020

Os especialistas preocupam-se com a falta de informações fiáveis sobre o número de infeções de Covid-19, mas também com a falta de testes. África precisa de estratégias e alternativas na luta contra o novo coronavírus.

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No Instituto Pasteur, em Dakar, procuram-se novas estratégias de combate à Covid-19Foto: Getty Images/AFP/Seyllou

Apenas 0,5 - é esse o número de camas reservadas a cada 1.000 nigerianos nos hospitais do imenso país da África Ocidental, em caso de emergência, de acordo com os  números oficiais da Organização Mundial de Saúde (OMS). No leste do continente, no Quénia, a situação é apenas um pouco melhor, com 1,4 leitos disponíveis por 1.000 habitantes.

Em termos de camas de cuidados intensivos a situação é ainda mais preocupante: em 43 países africanos, existem menos de 5.000 leitos em unidades de cuidados intensivos, anunciou há dias a OMS. São cerca de cinco camas para um milhão de pessoas, em comparação com 4.000 camas por milhão de habitantes na Europa.

Números aterrorizantes em tempos de coronavírus, que também se está a espalhar pelo continente africano. Mas ninguém sabe exatamente se os números da OMS estão corretos, visto terem sido levantados há muito tempo: a pesquisa sobre a situação na Nigéria foi feita no ano de 2005, a contagem de de camas hospitalares no Quénia remonta a 2010, as informações mais recentes para o continente são de 2011.

Südafrika Corona-Pandemie
África: Ninguém dispõe de números fiáveis sobre o número de infeçõesFoto: Getty Images/AFP/M. Spatari

Poucos testes, números imprecisos

De qualquer das formas está a ficar claro que os sistemas de saúde em África estão, já há muito tempo, estão a atingir os seus limites. "No Quénia, o sistema de saúde, em tempos normais, está severamente stressado por doenças como malária, cólera, HIV/SIDA, e agora, com a crise do coronavírus ficou ainda mais sobrecarregado", diz Kathryn Tätzsch, responsável por desastres internacionais na organização de apoio humanitário World Vision, em Nairóbi. O número de pacientes com pneumonia tem aumentado desde janeiro. "Há muito poucas vagas em unidades de cuidados intensivos e, para além disso, esses cuidados são muito caros: custam 1.200 euros por dia", diz Tätzsch em entrevista à DW.

A OMS vem alertando há algum tempo que a África Subsaariana pode tornar-se o próximo epicentro da pandemia. Os cálculos dos modelos assumem pelo menos 300.000 mortos. E há outro problema: "As capacidades de teste são limitadas, muitos países fizeram apenas algumas dezenas de testes. O Quénia começou recentemente a fazê-lo", afirma Tätzsch.

Em Kano, no norte da Nigéria, a situação é semelhante, como refere o correspondente da DW, Nasir Salisu Zango: "Os médicos que contactei dizem que o Governo não está preparado para a luta. Os membros das equipas de enfermagem dizem que temem pela sua segurança. O medo de ser infectado pelos pacientes é grande". E aqui também, as informações sobre o número de infetados não são confiáveis.

Nenhuma fonte fiável

Esta é também a conclusão dos pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHT). "Os dados sobre o número de pessoas infetadas com o coronavírus e as capacidades de tratamento em África são muito incompletos", diz Francesco Checci. "Isso significa que não há fontes confiáveis sobre o grau de propagação do vírus no continente africano." Também é difícil determinar em que medida clínicas, médicos e enfermeiros estão em condições de responder à crise, conclui Checci.

Kenia Mombasa | Coronavirus | Desinfektionsraum
No Quénia foram feitos poucos testes, como no resto do continente africanoFoto: DW/F. Musa Abdalla

Por que não existem dados confiáveis ​​para avaliar a situação? "O setor de saúde na África subsaariana bate-se com uma escassez crónica de pessoal e equipamentos sanitários, portanto o ponto de partida para a recolha de dados é muito precário", afirma Checci. Felizmente, existem maneiras de contornar a falta de dados para que a OMS, a União Africana (UA) e os governos africanos possam tomar decisões. "Podemos usar modelos matemáticos para prever tendências e desenhar estratégias para responder à crise".

Mas isso também abriga problemas: as previsões atuais para a pandemia em África baseiam-se em avaliações da crise na Europa e na China, diz Checci. Em África, no entanto, a situação pode desenvolver-se de maneira diferente: por exemplo, através de mais infeções nas áreas urbanas pobres e menos pessoas doentes nas áreas rurais.

Mais medidas de prevenção

Ninguém sabe exatamente até que ponto os países africanos estão preparados para enfrentar a pandemia. "Portanto, a prevenção continua a ser a única estratégia sensata", afirma Checci, salientando que a prevenção deve ser a estratégia a seguir em África.

Isolamento dos doentes, distanciamento social e proteção prioritária dos grupos de alto risco seriam as medidas mais promissoras, segundo o funcionário da LSHT. "Se todas as três estratégias forem bem combinadas e seguidas, elas oferecerão uma oportunidade para os governos africanos reduzirem as pressões sobre os sistemas de saúde sem medidas drásticas e os danos económicos previsíveis, que poderiam ser piores que o próprio vírus".

Kenia Corona-Pandemie
Máscaras artesanais como medida de prevenção: alguns cidadãos descobriram o negócio Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba