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Conflitos forçam moçambicanos a fugir de Tete

Amós Zacarias (Tete)2 de março de 2016

Apesar de as tensões entre RENAMO e FRELIMO terem diminuído nos últimos dias, moradores continuam a abandonar os distritos de Moatize e Tsangano. Violência gera refugiados e afeta comércio e rede hoteleira.

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Terminal dos transportes de Moatize, onde chegam muitos refugiadosFoto: DW/A. Zacarias

Apesar de não ter havido registo de confrontos militares nos últimos dias entre homens armados da RENAMO e as forças de segurança da FRELIMO na província de Tete, várias pessoas continuam a abandonar as regiões de Nkondedzi e Chibaene, nos distritos de Moatize e Tsangano.

Em Nkondedzi, mais de seis mil moçambicanos já terão atravessado a fronteira para o Malawi à procura de segurança. Algumas centenas optaram por encontrar refúgio noutros pontos da província de Tete.

O criador de gado Raúl Macaza, que vive na comunidade próxima aos locais dos confrontos, retirou há uma semana todo gado daquela zona, por temer novas confrontações. Macaza passou toda a noite a levar os animais a pé de Nkondedzi até a vila de Moatize.

“Eu também não podia ficar lá sozinho, com os animais, enquanto os donos estão a sair. As casas estão fechadas, os currais sem animais. Naquele dia fui obrigado a tirar o gado”, conta.

Moradores que ainda resistiam em deixar suas casas decidiram sair em busca de lugares mais seguros. Eles alegam que as forças de defesa estão a cometer atrocidades contra as pessoas que ainda continuam nas comunidades.

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Raúl Macaza, de Nkondedzi: "As casas estão fechadas, os currais sem animais. Fui obrigado a tirar o gado"Foto: DW/A. Zacarias

“Quando as forças de defesa chegam costumam queimar as casas. Nós estamos cansados de dormir no mato”, relata Lasten Gift, que se refugiou em Nkondedzi.

Gift vivia na zona de Ndande. Apesar de perder a casa, deixou um terreno agrícola. Mas agora receia regressar por medo de morrer. “O problema é que quando as forças de defesa chegam, matam as pessoas que estão a trabalhar. Temos muito medo de andar e fazer a nossa vida”, relata.

Um transportador de passageiros que opera na rota que liga a cidade de Tete à vila de Angónia, no norte da província, diz que nas últimas semanas tem transportado muitos residentes de Nkondezi que procuram abrigo em Moatize. Os refugiados só pretendem retornar aos seus locais de origem quando já não houver tensão político-militar.

Tensão político-militar

A RENAMO reitera que, a partir deste mês, vai governar nas seis províncias onde reclama ter vencido nas eleições de 2014. Facto que também está a precipitar a fuga de pessoas de Nkondedzi, por receio de novos confrontos.

A Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Tete garante que há calma e tranquilidade em Nkondedzi e Chibaene. “Na província de Tete, a situação político-militar está calma. Mas o que pode acontecer nos próximos dias não sabemos. Esperemos para ver”, afirma Luís Núdia, porta-voz do comando provincial em Tete.

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Luís Núdia, porta-voz do comando provincial da PRM em Tete diz que a situação está calma em Nkondedzi e ChibaeneFoto: DW/A. Zacarias

O governador da província, Paulo Auade, disse ao canal de televisão moçambicano STV que os refugiados no centro de Kapise, no Malawi, onde se encontram muitos moçambicanos, são malawianos assolados pela seca, que procuram ajuda. “Não há nenhum refugiado. Aqueles que estão no Malawi são deslocados. Se verificar bem, tem mais crianças e mulheres do que homens armados”, ressalvou.

Enquanto prevalece a tensão político-militar muitas empresas que operam na província de Tete começam a acumular prejuízos, devido à retração de investimentos. “Se não houver estabilidade política, obviamente não haverá estabilidade económica. O económico nunca se separa do político”, alerta Hermínio Nhantumbo, vice-presidente do Conselho Empresarial de Tete.

O setor hoteleiro também está a ressentir-se dos impactos do recrudecimento dos ataques em Nkondedzi. Nos últimos dias, vários hotéis em Tete registam uma ocupação diária de apenas três a quatro pessoas.

“As empresas estão restringidas a investir em Tete, porque as coisas não estão como antes. Com estes conflitos, o fluxo dos hóspedes tende a reduzir”, relata Clemente Ibrahimo, administrador de um hotel em Moatize.

As mineradoras que operam em Tete evitam pronunciar-se oficialmente sobre os impactos da tensão política, alegando que o assunto cabe às autoridades governamentais.

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