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Comunidade internacional hesita em intervir no Mali

27 de setembro de 2012

Primeiro-ministro Modibo Diarra (foto) pediu ajuda militar para expulsar grupos radicais islâmicos do norte. ONU ainda hesita por receio de desastre. Fonte oficial terá dito que intervenção "está a ser preparada".

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O primeiro-ministro maliano Modibo Diarra diante da Assembleia Geral da ONU (26.09)
O primeiro-ministro maliano Modibo Diarra diante da Assembleia Geral da ONU (26.09)Foto: Reuters

O Xeque Modibo Diarra estava visivemente nervoso quando subiu ao pódio para discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi com um tremor na voz que o primeiro-ministro do Mali declarou que o seu país precisa de ajuda internacional. Diarra pediu a autorização de uma intervenção de tropas estrangeiras para, como afirmou, libertar o norte do Mali dos grupos radicais islâmicos: "Requeremos uma resolução do Conselho de Segurança para o envio de uma tropa de intervenção internacional. Queremos que participe quem quiser e puder ajudar a restabelecer a integridade territorial do Mali".

Mas Diarra vai ter que pacientar. É certo que o seu governo já chegou a um acordo com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre um envio de mais de 3 mil soldados para Bamako, de modo a assistir as tropas malianas a reconquistar o norte.

Mas o Conselho de Segurança da ONU hesita em autorizar a intervenção. O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, explica: "Uma intervenção militar tem que ser cuidadosamente preparada. Senão pode ter consequências graves para a situação humanitária e desencadear novos fluxos de refugiados".

Por seu lado, segundo a agência noticiosa AFP, uma fonte próxima do presidente Dioncounda Traoré teria dito esta quinta-feira (27.09) que o Mali "sentiu um empenho da comunidade internacional para com o nosso lado, uma solidariedade com o Mali" durante uma reunião centrada sobre a região do Sahel, em Nova Iorque, à margem da Assembléia Geral da ONU.

A mesma fonte terá dito que "sabemos que a Argélia está a criar uma frente de resistência, sem dúvida juntamente com a Mauritânia e o Níger. Mas Paris vai fazer de tudo para obter a convocação do Conselho de Segurança e uma resolução autorizando a intervenção. Não nos perguntamos quando a guerra vai começar, mas 'como reunir todas as condições para realizá-la?'. Para nós, a intervenção não vai demorar, ela está a ser preparada", afirmou esta fonte oficial.

Vácuo no poder

A situação no norte do Mali é complicada. Há cerca de meio ano que grupos fundamentalistas islâmicos controlam dois terços do país. O que foi possível graças ao vácuo no poder após o golpe de Estado militar em março deste ano e à desestabilização causada pela revolta dos tuaregues.

Os grupos Mujao e Ansar Dine instalaram um regime de terror, decepando as mãos de alegados ladrões, lapidando alegados casais adúlteros, e recrutando crianças e jovens como combatentes. Ambos mantêm ligações estreitas com a rede terrorista Al-Qaida do Magreb Islâmico, AQMI, que agrupa todos os movimentos radicais da região.

Wolfram Lacher, especialista para a zona do Sahel da Fundação Ciências e Política em Berlim diz que os grupos não têm grande força militar, mas que estão bem coordenados: "Não se trata apenas de terroristas internacionais, também estão representados grupos de interesses locais muito fortes. Travar a guerra contra estes grupos pode vir a ser um desastre para a CEDEAO", avalia.

Autoridades malianas pediram ajuda militar para expulsar grupos radicais islâmicos como o Ansar Dine (foto) do norte do país
Autoridades malianas pediram ajuda militar para expulsar grupos radicais islâmicos como o Ansar Dine (foto) do norte do paísFoto: Reuters

Os benefícios da instabilidade no Mali

Isto porque também os líderes dos clãs locais beneficiam da instabilidade no Mali. Muitos estão envolvidos no contrabando de armas e drogas entre o Mali e o norte de África. Por isso Lacher não acredita no êxito de uma intervenção da CEDEAO. "Sobretudo porque a CEDEAO não inclui os dois Estados mais influentes a norte do Mali, a Argélia e a Mauritânia. E estes dois países são contra uma intervenção. O que significa que a CEDEAO não tem do seu lado as duas mais importantes potências regionais", explica o especialista.

Caso a ONU acabe por autorizar a internvenção, as tropas da CEDEAO ficarão dependentes da ajuda da Europa e dos Estados Unidos da América. O presidente francês, François Hollande, já prometeu apoio pelo menos na forma de dinheiro e material.  

Autores: Peter Hille/Cristina Krippahl/RK/AFP
Edição: António Rocha

27.09 Mali - MP3-Mono

Imagem de vídeo mostra militantes radicais islâmicos armados patrulhando ruas de Gao, no Mali, em junho deste ano
Imagem de vídeo mostra militantes radicais islâmicos armados patrulhando ruas de Gao, no Mali, em junho deste anoFoto: AFP/Getty Images