1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Combate à "fuga de cérebros" pode passar pelas vantagens da migração circular, dizem especialistas

21 de junho de 2012

Contas feitas, são milhares os trabalhadores qualificados que todos os dias saem dos seus países de origem em busca de novas oportunidades. Analistas alemães consideram que migração circular pode ter "triplo proveito"

https://p.dw.com/p/15IcJ
ARCHIV - Migranten und Migrantinnen stehen am 01.10.2008 auf einer Treppe im Bundeskanzleramt in Berlin bei der Veranstaltung "Deutschland sagt Danke!" für ausländische Arbeitskräfte (Zoomeffekt). Der neueste Migrationsbericht wird am Mittwoch (03.02.2010) von Bundesinnenminister de Maiziere (CDU) im Kabinett vorgestellt. Foto: Rainer Jensen dpa/lbn +++(c) dpa - Bildfunk+++
Migration in DeutschlandFoto: picture-alliance/dpa

O Banco Mundial fez os cálculos: África perde anualmente cerca de 23 mil académicos através de "braindrain“, em português, fuga de cérebros, ou, dito de outra forma: porque estes académicos emigram. No Canadá também se fez contas: segundo analistas, só com a emigracao de médicos, os países a sul do Saara perdem cerca de dois mil milhoes de dólares, a quantia que investiram na formação desses mesmos médicos.

As contas não são bem exatas. Por um lado, porque parte do dinheiro que os emigrantes ganham no estrangeiro regressa como apoio financeiro desses emigrantes às suas famílias e amigos que ainda vivem no país de origem. E se se tiver em conta que essa quantia, no total, equivale a cerca do dobro do que é investido pelos países industrializados em ajuda ao desenvolvimento, chega-se a um valor considerável.

Especialistas procuram estratégias

Por outro lado, nao se deve esquecer que parte dos emigrantes qualificados regressa ao seu país ao fim de alguns anos para trabalhar ou mesmo para investir o dinheiro que juntaram no estrangeiro. Aqui fala-se de “migração circular”. E precisamente aqui sao aplicadas estratégias que pretendem combater a fuga de cérebros.

Stefan Angenendt, da Fundação Ciência e Política, desenvolve essas estratégias. Pelo que observa há alguns anos, cada vez menos emigrantes ficam fora a longo prazo. Pelo contrário: há cada vez mais pessoas que, ao fim de algum tempo, regressam a casa ou dividem a sua vida entre os seus países de origem e a Alemanha. "Isso deve-se ao facto de hoje em dia ser mais fácil e mais barato viajar. Criaram-se redes pelas quais é mais fácil emigrar por um determinado período, porque já se conhecem pessoas no país de destino", explica o responsável.

Contudo, as normas de imigração de pessoas qualificadas para a Alemanha e para outros países sao muito rígidas. Seria necessário, por exemplo, "flexibilizar a data de regresso", diz Angenendt. Além disso, os imigrantes precisariam de mais apoio, aconselhamento e programas que os ajudassem a comecar do início quando regressassem aos seus países.

Student exchange © dondoc-foto #35217071
Emigrantes podem apostar na formação no país de destino e regressar com mais qualificações, dizem especialistasFoto: Fotolia/dondoc-foto

Migração circular pode ser vantajosa

Para Gunilla Finke, administradora do Conselho de Peritos das fundações alemãs de integração e migração, o objetivo da migração circular é sempre obter um ganho triplo. E tal significa, num caso ideal, que primeiro é o imigrante que ganha. "Ele ganha mais do que no seu país de origem. Pode continuar a receber formação e, no fim, tem mais qualificações", explica Finke, acrescentando que "aqui pode fazer contactos que possivelmente o ajudem quando ele regressar.”

Em segundo, ganha a Alemanha, porque o imigrante traz as qualificações necessárias ao país. E, em terceiro lugar, ganha o país de origem, porque o imigrante regressa com determinadas qualificações e mais experiência de trabalho.

ARCHIV - Ein Krankenpfleger sitzt am 15.04.2009 in einem Krankenzimmer eines Krankenhauses in Leiria (Portugal) an einem Computer. Zur Behebung des Fachkräftemangels in Deutschland wirbt die Bundesagentur für Arbeit jetzt gezielt in südeuropäischen Krisenregionen mit hoher Arbeitslosigkeit um qualifizierte Bewerber. Pflegepersonal aus Portugal findet dabei besonderes Interesse. Foto: Paulo Cunha/Lusa dpa (zu dpa 0530 «Deutschland umwirbt Fachkräfte aus Krisenregion Südeuropa» vom 18.07.2011) +++(c) dpa - Bildfunk+++
Especialistas tentam encontrar soluções para "fuga de cérebros" - a emigração de académicosFoto: picture-alliance/dpa

Na teoria parece simples. Na prática, segundo Gunilla Finke, nao é. "De facto, nao é nada fácil obter este triplo proveito", afirma a responsável, justificando: "muitos países nao conseguem cobrir sobretudo a procura de mão de obra na Alemanha – especialmente a mão de obra qualificada. A maioria das pessoas que pretendem emigrar desses países é pouco qualificada. Mas a Alemanha procura mão de obra altamente qualificada. E isso nao combina.“

Interesses dificultam promoção da migração circular

Além disso, ainda ninguém tem a receita de como aumentar a migração de triplo proveito. Em vez disso, há uma série de programas com diferentes abordagens que começa com o apoio à formação profissional: alguns países financiam cursos superiores, por exemplo, na Europa ou nos Estados Unidos, a baixos juros, sob a condição de, depois de terminados os estudos, se regressar ao país de origem.

O fomento da migração circular é também difícil, porque na Alemanha estao diferentes interesses em jogo: muitos políticos nao querem diminuir os obstáculos existentes à imigração, porque sabem que muitos dos seus eleitores têm medo de perder o emprego. Por outro lado, para as empresas seria proveitoso que se extinguissem esses mesmos obstáculos para imigrantes altamente qualificados, uma vez que procuram urgentemente mão de obra especializada. Mas essas mesmas empresas querem manter a sua mão de obra permanentemente e não temporariamente.

Autora: Klaus Dahmann / Marta Barroso
Edição: Maria João Pinto / António Rocha

20.06.12 Braindrain - MP3-Mono