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Cimeira sobre Cabo Delgado expôs fragilidades da SADC?

9 de abril de 2021

O posicionamento da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) sobre a crise em Cabo Delgado está a ser alvo de críticas em Moçambique. Mas também há quem afirme que o bloco está apenas a ser cauteloso.

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Foto: Roberto Paquete/DW

Opiniões de analistas divergem em relação ao posicionamento da SADC na chamada "Dupla Troika", ocorrida na quinta-feira (08.04), em Maputo, sobre a crise de segurança em Cabo Delgado. A declaração final do encontro do bloco de países da África Austra indica a criação de uma equipa técnica que ainda vai avaliar as necessidades de apoio que Moçambique precisa para combater o terrorismo.

Os resultados da avaliação serão apresentados na reunião extraordinária da organização agendada para 29 de abril. O analista político Dércio Alfazema, do Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), entende que este posicionamento é cauteloso.

Cabo Delgado: traumas de guerra, sonhos de paz

"Esta reunião da SADC decorre da situação do ataque a Palma que despertou todo o mundo e que a SADC imediatamente se posicionou e realizou esta cimeira com carácter de urgência. Temos que dar tempo para que as decisões sejam consistentes e com bases e evidências seguras", diz.

Dércio Alfazema acredita que faz sentido este período de 20 dias em que se vai avaliar as necessidades de apoio a Moçambique porque, como diz, o terrorismo não se combate de forma unilateral. "É preciso o envolvimento de outros atores e outros países até porque a rede terrorista envolve muitos países. Eu penso que Moçambique está a avançar na perspetiva de se abrir a outros atores mas de forma controlada."

Posição espelha fragilidade da SADC

Já para o académico Mohamed Yassin, esta posição da SADC revela-se vazia e espelha a fragilidade da organização. O bloco de países da África Austral não pode fazer mais nada, senão produzir um comunicado que cumpre meras formalidades, diz o professor. "E um comunicado como aquele vai de encontro com aquilo que Moçambique quer. Na verdade o que quer não é a intervenção da SADC, é mera formalidade", argumenta.

O académico considera que há dois objetivos claros a longo prazo para Moçambique: "O primeiro é dizer fiz aproximação ao bloco regional que mostrou incapacidade de resolver o problema e abrindo a possibilidade de Moçambique escolher quem na verdade quer que lhe resolva o problema."

Segundo Yasin, a posição da SADC revela que Moçambique quer apenas dar o ponto de situação do conflito no norte do país. "Moçambique quer legitimar um preceito regional que na verdade faz parte da própria constituição da SADC. Moçambique ao aproximar-se da SADC já deixou claro antes do encontro que não quer uma intervenção da SADC, na verdade quer que a SADC tenha um conhecimento real sobre o que está a acontecer em Moçambique", conclui.

O terrorismo no norte de Moçambique já ceifou vida a mais de 2.000 pessoas e fez mais de 700 mil deslocados.