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Caça furtiva em África aumenta com procura do marfim

27 de novembro de 2012

A era das grandes caçadas aos elefantes, corriqueiras ainda nas décadas de 70 e 80 do século passado, pertence ao passado. Pelo menos é isso que se pensava ainda há muito poucos anos.

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Dentes de elefantes apreendidos
Dentes de elefantes apreendidosFoto: picture-alliance/Safari/OKAPIA KG

A proibição internacional da venda do marfim em 1989 fez recuar significativamente a caça furtiva e as manadas de elefantes começaram a recuperar. Mas há alguns anos a caça furtiva voltou a aumentar, fomentada por um incremento da procura de mafim na Ásia, especialmente na China.

Para os elefantes no Quénia, a morte é silenciosa e chega de noite, por via de caçadores furtivos armados com flechas venenosas e apetrechados com óculos de visão noturna. São criminosos cada vez mais profissionais e sem quaisquer escrúpulos, armados até aos dentes, que estenderam as suas actividades às reservas naturais.

Patrick Omondi do Serviço de Protecção dos Animais Selvagens do Quénia, KWS, diz que, há cinco anos, contou 50 elefantes abatidos. Este ano já há mais de 300: "São mortos cada vez mais elefantes, apesar de todas as medidas que tomamos. Fazemos voos de controlo e vigiamos as manadas. Só neste ano morreram seis dos nossos guardas em combates com os caçadores furtivos, e nós matámos 30 deles. Mas é uma guerra que não podemos ganhar".

É uma guerra que se alastra por toda a África

Este ano caçadores furtivos já abateram mais de 300 elefantes no Quénia
Este ano caçadores furtivos já abateram mais de 300 elefantes no QuéniaFoto: picture-alliance/dpa

Estimativas apontam para 25 000 elefantes abatidos no ano passado, o número mais elevado desde 1989, quando foi proibida a comercialização do marfim.

Allan Thornton, director da organização privada "Agência de Investigação Ambiental", explica o motivo deste aumento ao afirmar que "houve uma explosão na China da procura por adereços e esculturas de marfim".

O interesse da China foi despertado por um acontecimento-chave. Em 2008 a Convenção de Washington sobre a Protecção das Espécies autorizou os países da África Austral a vender 100 toneladas de marfim na posse do Estado e a título excepcional. Grande parte do marfim era de antes de 1989 e o resto resultado da morte natural dos elefantes. E a maioria do marfim foi vendido à China.

Allan Thornton, destaca que a venda desse marfim foi um grande erro "porque acabou por criar o enorme mercado chinês de marfim que existe hoje. Para os inúmeros novos-ricos daqele país, o marfim tornou-se um simbolo de estatuto social".

O poder de compra deste país com 1,3 mil milhões de habitantes cresce rapidamente, e, com ele, a procura de marfim. Segundo Thornton, as autoridades não conseguem controlar o contrabando. O especialista calcula que 90% do marfim na China é de proveniência ilegal. "Bandos de traficantes na Ásia organizam o negócio criminoso em África", acrescenta.

Elites africanas corruptas organizam o contrabando

Queima de marfim apreendido no Quénia
Queima de marfim apreendido no QuéniaFoto: picture-alliance/dpa

A chegada ao continente de milhares de trabalhadores e engenheiros de firmas chinesas facilita a prática. Elites africanas corruptas organizam o contrabando,diz Tom Milliken, do Sistema de Informação de Comércio do Elefante. Esta organização tenta esclarecer as rotas do contrabando de marfim. Segundo Milliken, "as forças de segurança locais ou são corruptas, ou não têm meios para combater a tráfico". Há mediadores, acrescenta, que recrutam activamente caçadores furtivos entre a população: "Aparecem regularmente com a oferta de pagamento, e, no fim, a população acaba por entrar nas reservas e matar os elefantes".

O tráfico de marfim ajuda a financiar também grupos rebeldes como a al-Shabaab, na Somália, o Exército de Resistência do Senhor, no Congo e os Janjawid, no Sudão. O "boom" do marfim traz, pois, mais instabilidade ao continente e "pode significar a extinção dos elefantes", diz Patrick Omondi, da agência de protecção ambiental queniana.

Rinocerontes também vítimas de caçadores furtivos

Na África do Sul, os rinocerontes são também vítimas da caça furtiva
Na África do Sul, os rinocerontes são também vítimas da caça furtivaFoto: AP

Mas não são sómente os elefantes as principais vítimas dos caçadores furtivos. Segundo estatísticas divulgadas esta terça-feira (27.11) pelo Ministério do Ambiente da África do Sul, caçadores furtivos foram responsáveis pelo abate de 558 rinocerontes na África do Sul desde 01 de janeiro de 2012. Já foram abatidos em todo o país mais
140 rinocerontes do que em todo o ano de 2011, que se saldou com uma perda de 448 animais daquela espécie.

As autoridades afirmam ter detido desde o início do ano 246 suspeitos de caça ilegal de rinocerontes, contra 224 no ano passado e 165 em 2010. Algumas condenações conseguidas pelo Ministério Público sul-africano, como a de um cidadão tailandês sentenciado a 40 anos de prisão há duas semanas por organizar caçadas ilegais e contrabandear os chifres de rinocerontes para a Ásia, levam as autoridades a alimentar algum otimismo sobre o sucesso dos planos que foram postos em ação mais recentemente no combate contra este atentado contra o ambiente.

Os números oficiais revelam que a zona do Parque Nacional Kruger, no nordeste da África do Sul, é a mais atingida pelos caçadores furtivos. No perímetro do parque Kruger foram mortos este ano 362 animais, enquanto reservas públicas e privadas das províncias do Kwazulu-Natal, Noroeste e Limpopo perderam, em conjunto, desde 01 de janeiro, 186 rinocerontes.

Autor: Philipp Barth/Cristina Krippahl
Edição: António Rocha

Caça furtiva em África aumenta com procura do marfim