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Caso Mahamudo Amurane há três anos sem solução

Sitoi Lutxeque (Nampula)
4 de outubro de 2020

Ex-edil de Nampula foi assassinado a 4 de outubro de 2017, mas os autores do crime ainda são desconhecidos. Familiares de Mahamudo Amurane continuam à espera de um esclarecimento. E a justiça diz aguardar o processo.

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Familiares e amigos visitaram o túmulo de Amurane este domingoFoto: Sitoi Lutxeque/DW

Cidadãos de Nampula, no norte de Moçambique, continuam indignados com a falta de esclarecimento do assassinato do então presidente do Conselho Municipal local, Mahamudo Amurane, no final da tarde do dia 4 de outubro de 2017.

Maria Moreno é uma das cidadãs que falou à DW. "Nós hoje [domingo, 4 de outubro] estamos a recordar essa data, um trágico acontecimento. Achamos estranho que ainda não se saiba quem foi o autor, mas às vezes a dor se mistura com a esperança (do esclarecimento) e a vida vai correndo", lamentou.

A entrevistada aponta o retrocesso na cidade como estando, em parte, relacionado com o assassinato bárbaro do edil Amurane. "Se não tivesse sido interrompido este sonho, realmente a cidade de Nampula estava numa rota de desenvolvimento muito acelerado, e isso era um exemplo não só para Moçambique, mas para toda a África Austral. O doutor Mahamudo Amurane costumava dizer que nós seríamos a melhor cidade da África Austral. E eu acredito que, sim, se o tivessem permitido chegar ao fim do [primeiro] mandato e repetir o mandato, como já eram os indicadores, certamente nós teríamos chegado aí", defendeu.

Protestos no adeus ao edil de Nampula

Tribunal aguarda processo

As autoridades judiciais na província moçambicana de Nampula ainda não informaram quando é que os já constituídos arguidos do "caso Amurane" serão julgados. Contudo, asseguram que há trabalhos em curso para o efeito.

Sem gravar entrevista, o juiz presidente do Tribunal Judicial da província de Nampula, Alberto José Assane, disse este domingo (04.10), durante as cerimónias dos acordos gerais de paz, que "o processo ainda não chegou ao tribunal, ainda está na procuradoria". "Por isso não podemos dar detalhes", avançou.

Entretanto, o jornalista e ativista social Juma Aiuba considera que não haverá desfecho favorável deste caso e que a culpa vai morrer solteira. "Casos deste tipo nunca são esclarecidos [em Moçambique]. Amurane foi mais uma vítima de um assassinato político, então esse tipo de crime normalmente são crimes organizados. A morte de Amurane está, também, na gaveta e faz parte daquele nosso arquivo de mortos não esclarecidos", disse.

Mosambik I Drei Jahre nach der Ermordung des ehemaligen Bürgermeisters von Nampula
Foto: Sitoi Lutxeque/DW

Quem estaria por detrás desse crime?

Afinal quem estaria interessado na morte de Mahamudo Amurane? A DW perguntou a Juma Aiuba. "Em termos de autoria moral, qualquer um estaria interessado, seja a FRELIMO, RENAMO e MDM, mas, também, algum interesse empresarial podia ter encomendado a morte do Amurane. Mas, o simples facto de o Estado não conseguir gerir, trazer à tona e responsabilizar os criminosos, a culpa cai para o Estado", respondeu.

A reportagem tentou por várias vezes contactar a família de Mahamudo Amurane, desde a viúva, irmãos, incluindo sobrinhos, para obter algum comentário sobre o nível de satisfação relacionado com o processo de investigação, mas ninguém quis gravar entrevista. Mas, mesmo assim, os familiares dizem que ainda continuam a aguardar pela investigação e responsabilização do autor do crime.

E para marcar o terceiro ano após a morte do primeiro presidente do Município de Nampula saído de um partido da oposição, os familiares e amigos efetuaram este domingo (04.10) uma deposição de coroas de flores junto ao túmulo de Amurane.