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Cabo Delgado: Qual o valor da vida do soldado moçambicano?

Nádia Issufo
30 de dezembro de 2021

Os números das baixas no Exército moçambicano são um exclusivo do Governo. O povo que o elegeu não tem estado a merecer uma satisfação, o que desencadeia contestações, mais ainda quando números de mortes chegam de fora.

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Mosambik I Soldaten der mosambikanischen Armee
Foto: Roberto Paquete/DW

A 23 de dezembro, os moçambicanos ficaram a saber, através de um comunicado da Missão Militar da SADC (SAMIM), que dois compatriotas de farda morreram no guerra contra os insurgentes em Cabo Delgado. A informação indignou a sociedade por ter chegado de fora, sendo que dentro de casa há autoridades competentes para o fazer.

André Thomashausen, especialista alemão em direito internacional, chama o Governo à responsabilidade: "Penso que num Estado moderno que gostaria de ser respeitado como um Estado de direito existe um legítimo e muito importante interesse da opinião pública e dos cidadãos em saber exatamente qual é a o sacrifício que Moçambique está a sofrer em Cabo Delgado."

"Para as ONG é muito difícil entender o secretismo que o Governo da FRELIMO está a seguir, recusando a fornecer números sobre as baixas, recusando a identificar as pessoas que ficaram feridas e que possivelmente perderam a vida", acrescenta Thomashausen. 

Não entregar o ouro ao bandido?

Determinados setores acreditam que o silêncio do Governo não passe de uma estratégia de guerra, não deixar que o inimigo conheça as suas fragilidades. Porém, nessa essa justificação esmorece o descontentamento em relação à postura do Executivo. Manuel de Araújo, edil de Quelimane e membro do maior partido da oposição, a RENAMO, também protesta.

"Qualquer Governo que se preze deve informar com isenção o seu povo. Omitir verdades não é algo que se preze e eu não recomendaria governo algum que escondesse as suas baixas. Aliás, os governos democráticos no mundo anunciam as suas baixas", diz.

Präsident von Mosambik besucht Militärstützpunkt
Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, numa visita ao Exército em Cabo DelgadoFoto: Roberto Paquete/DW

E num gesto de humanismo e esperado, as forças da SAMIM endereçaram, em comunicado, condolências às famílias das vítimas, uma solidariedade e conforto que não se assiste publicamente dos governantes moçambicanos.

As críticas a falta de comunicação sobre a situação em Cabo Delgado e particularmente sobre as mortes têm barbas brancas, mas mesmo assim o Governo da FRELIMO insiste em fazer ouvidos de mercador.

Heranças do tempo de partido único

Neste contexto, Thomashausen defende que "é legitimo o apelo da sociedade civil para que o Ministério da Defesa divulgue a identidade das vítimas, dos jovens que perderam a vida e feridos, porque muitos país estão sem notícias dos seus filhos, não sabem por onde andam, se ainda estão vivos. E isso é natural numa guerra que está a acontecer".

Há ainda o entendimento de que o Governo da FRELIMO, que conduz os destinos do país desde a independência em 1975, insiste em aplicar velhas práticas do tempo da guerra civil dos 16 anos, entretanto desajustadas. O especialista alemão fala em "tradição antiga no tempo do partído único em que o segredo do Estado era a lei superior a todas as outras".

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