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Cabo Delgado investe nos jovens para combater terrorismo

DW (Deutsche Welle) | Lusa
29 de setembro de 2021

Para inibir a adesão de jovens desempregados a grupos violentos, Governo de Cabo Delgado e parceiros investem na formação profissional. Cerca de 5 mil empresas, porém, encerraram na província desde o início dos ataques.

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Jovens do programa Mais Empredo, em PembaFoto: DW

Amisse Assane, de 26 anos de idade, é natural de Mocímboa da Praia, distrito que severamente foi devastado pelos terroristas. Por causa da instabilidade militar, teve de se refugiar com a sua família na cidade de Pemba, onde conta ter passado maus momentos devido à falta de meios de sobrevivência.

"Desde o dia que cheguei a Pemba [fugindo de Mocímboa da Praia,] passei mal por falta de condições, falta de emprego, falta de comida, uma vez que lá [eu tinha os] meus projetos, coisas para fazer, mas quando cheguei aqui é como se eu fosse um mendigo", conta o jovem.

Tal como Amisse, muitos jovens na província de Cabo Delgado enfrentam o problema do desemprego. Algumas correntes da sociedade chegaram até a associar o extremismo violento que assola esta parcela do país à falta de emprego ou oportunidades, particularmente para camada juvenil.

Formações e oportunidades

O programa "Mais Emprego", financiado pela União Europeia e com a duração de três anos, pretende mudar esta realidade, proporcionando diferentes formações profissionais de curta duração a 500 jovens de Cabo Delgado.

Cristina Paulo
Cristina Paulo: "Objetivo é aumentar a qualificação dos jovens de Cabo Delgado"Foto: DW

A coordenadora do projeto, Cristina Paulo, avança que o objetivo é "aumentar a qualificação dos jovens de Cabo Delgado, mas também aumentar a respetiva empregabilidade através da criação de oportunidades de emprego, quer nas empresas de Cabo Delgado, quer através do autoemprego".

Para além deste programa, vai arrancar nos próximos tempos outro treinamento em Higiene e Segurança no Trabalho também destinado aos jovens. A diretora do Serviço Provincial de Assuntos Sociais, Maria Isabel Raimundo, diz que a formação deve atender "jovens provenientes dos locais tidos outrora com alguma insegurança".

"E nós sabemos que o Governo, agora, está a fazer tudo por tudo para criar condições de segurança ao nível daquelas zonas. Esperamos, de facto, alguma orientação do nosso Governo por forma que as pessoas possam se deslocar em segurança e poderem se fixar naquelas zonas de origem. Enquanto isso acontece, a nossa camada juvenil tem que se formar para criar oportunidade de emprego por forma a melhor se inserir na sociedade", afirma Maria Isabel Raimundo.

Mão de obra para a reconstrução

Marcelino e Amisse são dois dos 50 jovens deslocados que desde a última segunda-feira (27.09) começaram a frequentar o curso de eletricidade. Depois do treinamento, Marcelino quer participar na reconstrução dos distritos destruídos pelo terrorismo, com particular destaque para Mocímboa da Praia, a terra de sua origem.

"Cada dia que passa eu quero voltar para casa, choro toda hora e, se o retorno acontecer, será uma grande vitória. Gostaria que tudo terminasse e se voltasse ao normal como antes. E sim, pretendo voltar para ajudar a reconstruir a minha vila", diz Marcelino.

Os jovens de Nampula que usam a música contra o terrorismo

Combate ao recrutamento de jovens

Recentemente um outro grupo de jovens terminou o seu treinamento no Instituto de Formação de Balama em áreas de soldadura industrial e eletricidade instaladora. Com estas capacitações, o Governo espera ter encontrado o antídoto que ajude a combater o aliciamento e recrutamento de jovens pelos grupos armados que têm vindo a destruir a província.

O secretário de Estado em Cabo Delgado, António Supeia, fez questão de frisar a preocupação do Executivo moçambicano com o recrutamento de jovens para as fileiras dos terroristas. "É importante dizer não ao terrorismo. Uma das ferramentas que estamos a dar é exatamente este emprego, para [os jovens] não serem aliciados para aquele lado de pessoas que estão mal posicionadas e querem destruir".

Numa altura em que a esperança já volta para Cabo Delgado, com a retoma das populações às zonas de origem, Supeia desafiou os graduados a contribuírem na reconstrução das infraestruturas sabotadas durante as invasões dos terroristas.

"Vocês que estão aqui como deslocados, viram que [eles os terroristas] destruíram infraestruturas. Então, nós temos que participar na reconstrução. Esses certificados dão-vos instrumentos para melhor participarem. Mas também temos que desenvolver a nossa província de Cabo Delgado e vocês estão formados para isso", disse.

A região de Cabo Delgado, em Moçambique, registou uma recessão média de 3,4% desde o início dos ataques. Segundo o ministro das Finanças perdeu-se 5 mil pequenas e médias empresas - o que significou a perda de 600 milhões de dólares.

Adriano Maleiane frisa que a solução deverá vir do orçamento, mas deixa claro que será muito difícil acomodar essa pressão fiscal. Entretanto, o diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional reforçou que é preciso atacar as causas subjacentes ao conflito e não apenas aumentar a despesa pública em gastos militares.

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