O Governo moçambicano alertou esta sexta-feira (27.11) para o risco de os ataques armados em Cabo Delgado se alastrarem pela região, reforçando o pedido de apoio face à situação humanitária naquela província do norte de Moçambique.
"É urgente a sua contenção e erradicação do nosso solo pátrio, antes de desenvolver o seu potencial e se alastrar para outras regiões", disse Verónica Macamo, ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, falando durante uma reunião com as agências das Nações Unidas em Moçambique, realizada em Maputo.
A ministra defendeu que é "preciso cortar o mal pela raiz" e, para isso, é também necessário que a comunidade internacional condene de "forma contundente" os ataques de grupos armados no norte de Moçambique.
"A comunidade internacional deve estar connosco e ajudar-nos, porque é preciso [garantir] que aqueles atos não se consolidem e afetem outros países da nossa região e não só", referiu Verónica Macamo.
Num outro encontro, também realizado esta sexta-feira (27.11) em Maputo, a ministra pediu apoios adicionais para o combate aos ataques em Cabo Delgado, considerando a situação uma prioridade para o país.
É essencial criar emprego em Cabo Delgado
Para Verónica Macamo, é importante a capacitação e criação de postos de emprego para os jovens na região norte de Moçambique, para evitar que sejam aliciados pelos grupos insurgentes.
"Nos preocupa sobremaneira a emergência, as pessoas saem dos seus locais abandonando todo o esforço de anos de vida e o seu sustento e procuram deslocar-se para lugares considerados seguros", declarou Verónica Macamo, durante uma reunião com a princesa da Jordânia, Sarah Zeid.
A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
Artistas plásticos aderiram à iniciativa
Os artistas que participaram nesta exposição procuraram se expressar através de obras de pintura, escultura ou cerâmica. A exposição inaugurada a 20 de novembro foi organizada pela "Nós Arte" e estará aberta ao público em geral até 10 de dezembro de 2020. Metade do valor das obras será revertido para as vítimas do conflito em Cabo Delgado.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
Apoio às vítimas de Cabo Delgado
"O nosso intuito é direcionar o que vamos render de cada obra, 50% vai para as necessidades que há em Cabo Delgado e as necessidades são muitas neste momento. Vamos tentar delinear as prioridades: máscaras, desinfetantes, material de higiene para as senhoras, fraldas para as crianças, capulanas, arroz e feijão", esclarece o artista plástico "Chicken", promotor da iniciativa.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
Sensibilização social
"Chicken", o coordenador do Projeto "Nós Arte", explicou que o propósito desta mostra é converter as estatísticas de mortes e refugiados em estética. A expetativa é atingir o âmago da sensibilidade social para que se questione a violência e se solidarize com os moçambicanos vítimas do terrorismo.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
Artistas de Cabo Delgado
"Quando ligamos os noticiários, vemos o que está a acontecer: é a pandemia [da Covid-19], a guerra, a cólera, a malária... Cabo Delgado está a ser afetado por essas coisas", alertou "Chicken" que, como os outros artistas, é de lá oriundo: "O meu sentimento é de muita tristeza porque infelizmente tenho visto amigos e familiares a viverem momentos dramáticos." Obra na foto de Júlia.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
"Esperança da Província" de João Paulo Qhea
"Eu preferi que cada um de nós representasse como se sente no momento no coração e como está de espírito. Não podemos também estar a representar a guerra enquanto queremos paz. Então, cada artista trouxe aquilo que tem e aquilo que sentiu e se inspirou para fazer a sua obra. Não é linear", explicou "Chicken".
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
"Artimisia" de Sandra Pizura
Esta pintura de Sandra Pizura representa um grito de silêncio de qualquer coisa como fúria, vingança, inconsciência moral, guerra. André Macie, João Fornasini e Julia são outros dos artistas que participam na exposição "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado".
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
"O Jardim da vida" de Samuel Djive
Samuel Djive pretendeu trazer uma ideia daquilo que é o paraíso: "Se o paraíso é um espaço onde temos o bem estar, temos a paz, o amor, temos um progresso, temos uma construção positiva, então é isso que nós queremos para Moçambique. É o que eu quero para Moçambique, um país onde os meus netos e bisnetos se possam sentir orgulhosos de serem moçambicanos", comentou.
-
Exposição: "Cabo Delgado é Moçambique, Moçambique é Cabo Delgado"
Uma conclusão
Samuel Djive acrescentou que "a mensagem é tentar fazer com que as pessoas tenham a capacidade de dialogar sempre na busca de soluções. Nós, como artistas, faremos a nossa parte, mas existem entidades que são responsáveis por isso. Talvez possamos criar um movimento em que criemos também uma reflexão por parte das entidades responsáveis pela segurança e governação do país."
Autoria: DW (Deutsche Welle)