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Fundação Aga Khan preocupada com violência em Cabo Delgado

26 de junho de 2020

A Fundação Aga Khan ainda não sabe quanto irá custar reconstruir o edifício que albergava o Instituto Agrário de Bilibiza. A escola em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, foi destruída na sequência de ataques armados.

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Foto: Fundação Aga Khan

A instituição financiou o projeto inicial com mais de 10 milhões de dólares (cerca de 8.9 milhões de euros), estando a reconstrução da única escola secundária técnica em Cabo Delgado dependente da normalização da situação militar na província, avançou à DW África o comendador Nazim Ahmad, representante diplomático do organismo responsável pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

"Estamos à espera que o processo fique completamente calmo e, de facto, não haja qualquer tipo de instabilidade, porque não temos hipótese de mandar os estudantes para lá", sublinha o comendador nascido em Moçambique, para quem estabilidade efetiva na região de Cabo Delgado é fundamental para a reconstrução e retoma das atividades do Instituto Agrário de Bilibiza.

Portugal Nazim Ahmad - Aga-Khan-Stiftung
Comendador Nazim AhmadFoto: DW/J. Carlos

"Nós não podemos [assumir] o risco e estamos à espera que o Estado nos dê essa garantia para poder retomar os nossos trabalhos. Eu tenho certeza que o Estado português [através do Instituto Camões] não vai deixar de nos apoiar, assim também como o Estado moçambicano para renovar não só as instalações e por o instituto outra vez em funcionamento", acrescenta.

A inoperância do instituto, devido à vaga de violência, também afeta a vida das comunidades, refere Nazim Ahmad: "As comunidades precisam que, de facto, haja aí novamente toda a movimentação, porque nós ao termos lá estudantes éramos obrigados a ter lá alimentação. Criou-se ali uma pequena cidade dentro das aldeias. E dada a situação presente e toda a instabilidade, estamos com grandes dificuldades para que os nossos funcionários possam trabalhar na zona."

Ataques armados e Covid-19

Com a destruição total das instalações, a Fundação transferiu os funcionários e colocou os estudantes noutras localidades, entre as quais Pemba e Nampula, onde estão a concluir os seus estudos.

No início deste ano, um grupo armado atacou a povoação de Bilibiza, situada a cerca 120 quilómetros a norte de Pemba, capital provincial. Os ataques afetaram o referido instituto agrário, um investimento emblemático que perspetivava um forte impato social e económico na região.

A escola agrária faz parte dos vários projetos emblemáticos desenvolvidos pela Rede de Desenvolvimento Aga Khan, implantada no país ao abrigo de um acordo assinado com o Governo moçambicano em fevereiro de 2014.

Mosambik Landwirtschaftliches Institut von Bilibiza
Terroristas destruíram a única escola secundária técnica em Cabo DelgadoFoto: Fundação Aga Khan

A Fundação, que apoia cerca de 300 mil famílias daquela província, está, por outro lado, preocupada com a situação da pandemia do novo coronavírus. "Infelizmente, dada a situação presente, não só dos ataques que têm ocorrido no norte de Moçambique, a situação da Covid-19 tem sido uma grande preocupação nossa", disse Nazim Ahmad.

A instituição propôs ao Governo português uma parceria para levar a cabo um projeto de produção local de máscaras e outros equipamentos de proteção individual, numa unidade fabril em Moçambique. Nazim Ahmad adiantou à DW África que é desejo dos parceiros desenvolver o projeto em todo o território moçambicano.

"Estamos, neste momento, com vários trabalhos em cooperação com o Estado português. Vamos dar um apoio bastante simbólico, mas importante com a entrega de produtos de proteção fabricado numa das unidades nossas presentes em Moçambique, que é gerida pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, e vamos fazer com que esse produto seja distribuído de norte a sul do país", revela.

Esta semana chegam a Moçambique ventiladores e máquinas de teste para o Hospital de Ibo, destinados a apoiar as populações da região norte, que deixaram de ter assistência hospitalar devido às incursões terroristas revelou ainda Nazim Ahmad, que falou à DW África à margem da apresentação, em Lisboa, do Plano de Ação na resposta à pandemia de Covid-19 entre Portugal, os PALOP e Timor-Leste.

Portugal disponibiliza cooperação na área da defesa

O chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, também manifestou "total solidariedade com o povo da província de Cabo Delgado", vítima de "ataques muitas vezes bárbaros conduzidos por grupos de natureza terrorista, que não conhecem nenhuma espécie de regra."

Em declarações à imprensa, o ministro agradeceu "ao Estado moçambicano, e em particular às Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, o facto de, com a sua ação, estarem a proteger os nossos compatriotas e os nossos interesses."

E disponibilizou cooperação a Moçambique na área da defesa: "Nós temos uma cooperação em defesa muito sólida, muito antiga e muito produtiva com Moçambique, naturalmente focada em duas grandes áreas: assessoria técnica e a formação. E cremos que essa cooperação tem permitido robustecer as capacidades do Estado moçambicano. E em quarto lugar, toda a disponibilidade e o empenhamento na construção de soluções de apoio internacional a Moçambique para a defesa da sua integridade territorial, para a defesa da sua soberania e para a defesa das suas populações."

Augusto Santos Silva falou também à DW África da ponte aérea, nomeadamente dos voos de cariz humanitária que visam apoiar o regresso de cidadãos dos países africanos de língua portuguesa retidos em Portugal por causa do surto da pandemia. A realização destes voos, já efetuados pela TAP para São Tomé e Cabo Verde, vai estender-se a Moçambique para recolha de portugueses, mas também para Angola, que tem em Lisboa um número significativo de cidadãos angolanos à espera de serem repatriados.

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