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Cabo Delgado: Apoio a deslocados é "insuficiente"

2 de julho de 2020

Famílias que fugiram aos ataques em Cabo Delgado dizem que continua a faltar comida, apesar do apoio das autoridades e das organizações. ONG sugere que se deem ferramentas aos deslocados para a sua autossubsistência.

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Foto: DW

Uma das consequências diretas dos ataques de insurgentes que assolam a província de Cabo Delgado é a crise humanitária que se instalou na região.

Centenas de famílias procuram refúgio em outros distritos considerados seguros. Todos os dias chegam deslocados a Pemba, Metuge, Chiure e a vários distritos na província vizinha de Nampula. Deixam tudo para trás nas zonas de origem e sobrevivem com a ajuda de familiares, das autoridades e de organizações humanitárias. Mas os apoios não têm sido suficientes.

"Temos recebido comida e outros apoios que o Governo traz. Mas há outros dias que não tem sido possível obter comida", afirma Alima, que fugiu com o marido e seis filhos para o distrito de Metuge e vive atualmente numa tenda dos centros de acolhimento erguidos na sede distrital.

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Alberto, outro deslocado a viver num dos centros de acolhimento de Metuge, aponta dificuldades relacionadas com o espaço na tenda. Partilha o espaço com cinco membros da sua família e com uma outra composta por sete membros.

"Gostaria que cada tenda servisse apenas para uma única família. Isso cria aglomeração num período em que nos dizem que muitas pessoas não devem estar juntas por causa do coronavírus."

Ferramentas para a autossubsistência

A situação dos deslocados foi tema de um debate promovido recentemente pelo Observatório do Meio Rural. Manuel Nota, da Cáritas Diocesana de Pemba, refere que, nesta altura, há uma grande falta de cobertores.

"Estamos no tempo de frio e temos crianças, mulheres que dormem sem cobertores. Há problema também de esteiras. As pessoas dormem nas tendas sem esteiras. Nós fizemos algumas distribuições lá, mas não foi possível dar a todos", explica.

Manuel Nota alerta também que há "problema sério" de falta de abrigos para acolher os deslocados, tanto nos centros de acolhimento como em casas particulares.

"As nossas casas são preparadas para um número limitado de pessoas e, quando se recebe mais pessoas, a casa fica superlotada. Algumas pessoas dormem em varandas… Então, o que temos de fazer, como organizações humanitárias, é arranjar material de construção e distribuir a esses deslocados para construírem abrigos temporários."

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João Feijó, do Observatório do Meio RuralFoto: DW

João Feijó, pesquisador do Observatório do Meio Rural (OMR), chama a atenção que só a entrega de donativos não chega. É preciso também reintegrar os deslocados: "Temos de considerar que não é sustentável alimentar essa população indefinidamente", afirma Feijó.

"É preciso criar um mecanismo de reintegração socioeconómica. Numa segunda fase, será necessário apoio em pequenos negócios para essa população, até mesmo para a produção de alimentos com vista à própria segurança alimentar. Portanto, é preciso apoio em créditos, insumos e em informação para tentarem retomar a atividade económica."

Estima-se que a violência em Cabo Delgado afetou mais de 200 mil pessoas e fez, pelo menos, 600 mortos, em mais de dois anos de conflito.