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As igrejas viraram negócio em Moçambique?

20 de julho de 2019

Mais de mil confissões religiosas não estão registadas em Moçambique. Diretor nacional de Assuntos Religiosos diz que Governo vai rever a legislação para tratar do avanço desregrado de igrejas.

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Igreja na periferia de Maputo, a capital de MoçambiqueFoto: DW/R. da Silva

O Governo de Moçambique está preocupado com a proliferação de confissões religiosas, cuja finalidade é ganhar dinheiro. Estima-se que mais de mil igrejas não estão registadas no país. As que têm aval para exercer esta atividade são de igual número.

Em Moçambique, há igrejas cujos líderes intitulam-se profetas, evangelistas ou pastores, que prometem aos crentes expulsar os maus espíritos, criar prosperidade na sua vida, curar, dar sorte, entre outros. Muitas vezes, estes religiosos não têm diploma, nem credencial para exercer a atividade religiosa.

O Governo aponta a ganância financeira, o desemprego, os conflitos internos e a luta pelo poder nas igrejas como a fonte para a propagação destas instituições. As igrejas, por seu turno, encontram na pobreza, na desagregação do tecido social e no desespero um terreno fértil para a sua proliferação.

Revisão da legislação

Mosambik | Kirchen
Mais de mil confissões religiosas não estão registadas em MoçambiqueFoto: DW/R. da Silva

Para o diretor nacional dos Assuntos Religiosos do Ministério da Justiça e Assuntos Constitucionais, Arão Litsuri, esse assunto "é delicado e precisa de uma reflexão conjunta".

O Governo está a preparar uma legislação para travar o avanço desregrado das igrejas em Moçambique, afirmou este sábado (20.07) num debate sobre a proliferação de igrejas e seitas religiosas em Moçambique. "A lei que continua a regular o funcionamento das igrejas dura desde 1971", disse.

"Neste momento, estamos a fazer uma revisão dessa lei que já foi vista por vários líderes religiosos. No próximo ano, vamos fazer a auscultação pública", afirmou a acadêmicos, religiosos e membros do Governo.

Listsuri não tem dúvidas de que a proliferação das igrejas está a ter um impacto negativo na sociedade, pois estas "fazem tudo para educar, mas também fazem tudo para extorquir os crentes". "É um grande problema", reconhece.

A pobreza como instrumento de prosperidade

Os referidos pastores e profetas usam a Bíblia e a interpretação desta muitas vezes de forma subjetiva. Usam água, supostamente abençoada por Deus, e fazem imposição das mãos nas cabeças dos seus crentes para deleitar a clientela.

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Debate sobre proliferação de igrejas reuniu académicos, religiosos e membros do GovernoFoto: DW/R. da Silva

O padre católico Salvador Bila entende que estes pastores ou profetas "são líderes carismáticos, ostentam luxo, usam linguagem acessível, imediata, apelativa e repetitiva para manter os crentes na sua igreja".

As igrejas emergentes trazem pessoas preparadas para servirem de testemunhos de sucesso. Os profetas com gritos, choros e muita descarga emotiva lançam mensagem aos seus crentes como esta: "É preciso plantar para colher", uma forma, que segundo o padre Bila, "acaba aliviando o espírito dos crentes".

Para o académico Teodoro Abreu, as confissões religiosas aproveitaram o liberalismo criado nos anos 1990 para o seu surgimento e proliferação. A pobreza e o momento difícil por que o país passa está a criar espaço para que as igrejas prosperem. Teodoro Abreu afirma que na sociedade moçambicana "já não há crentes, mas sim consumidores de produtos sagrados". "Temos crentes consumidores de milagres", afirma.

As publicidades de ações de profetas, evangelistas ou pastores são feitas nos canais de informação formais e nas redes sociais. O que leva as pessoas a aderirem a estas cruzadas são promessas de capitalizar o mal estar social. "Os profetas usam esta frase: 'Dou-te e espera um dia receber de volta', frisou o académico.