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Línguas moçambicanas nas assembleias provinciais

Leonel Matias (Maputo)16 de julho de 2015

Pela primeira vez, as línguas moçambicanas serão usadas como instrumento de trabalho nas assembleias provinciais do país, pondo fim ao exclusivo que era reservado ao português, a língua oficial.

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Governo acaba de aprovar o uso das línguas nacionais nas assembleias provinciaisFoto: DW/L.Matias

A decisão foi tomada esta terça-feira (14.07) pelo Conselho de Ministros. Moçambique figura entre os países onde o português tem o estatuto de língua oficial, mas é falada essencialmente como segunda língua pela maioria da população, que se comunica nas línguas locais.

É "um grande avanço" quando se diz que um membro da Assembleia Provincial está autorizado a usar a sua língua e que o órgão tem de criar condições de tradução e interpretação nas línguas que ele usar naquele local, considera o docente e investigador de línguas moçambicanas Armindo Ngunga.

"Se estamos a falar de democracia, não pode haver participação se as pessoas não usarem a língua que melhor dominam", defende o docente, lembrando que os membros da Assembleia Provincial vêm das aldeias, onde não se fala português.

Também para o jornalista e linguista Ricardo Dimande a decisão é acertada e tem um "impacto bastante grande", uma vez que são línguas que ainda usadas pela maior parte do povo moçambicano. "Sentia-se que alguns deles têm dificuldade em articular as suas mensagens e comunicações em língua portuguesa", refere.

Armindo Ngunga lança um desafio a outras instituições, como a Assembleia da República, que "devia pensar seriamente no assunto", para que a língua não seja uma barreira à comunicação no Parlamento, defende. O investigador considera fundamental "promover a participação de todos os moçambicanos, em pé de igualdade, independentemente do recurso linguístico usado".

Ensino bilingue em 500 escolas

A maioria dos falantes do português reside nas cidades. Na capital moçambicana, Maputo, cerca de 40% da população fala português.

Para o linguista Ricardo Dimande, é importante que os cidadãos tenham a possibilidade de usar as línguas moçambicanas nas várias instituições públicas como tribunais comunitários, hospitais e esquadras.

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O setor da educação é uma das áreas que já introduziu o uso das línguas moçambicanas. O ensino bilingue está em vigor desde 2003-2004 em 23 escolas e cobre actualmente cerca de 500 escolas, que leccionam num total de 16 línguas envolvendo cerca de 80 mil alunos que aprendem a ler e a escrever na sua língua materna quando entram na primeira classe.

O vice-ministro da Educação, Armindo Ngunga, disse que o desafio futuro do seu Ministério é que entre 25% e 50% dos pouco mais de um milhão de alunos que entram na escola primária anualmente aprendam a ler e escrever na sua língua materna.

Quanto às vantagens do ensino bilingue, Armindo Ngunga afirma que "estas crianças são muito mais interactivas e extrovertidas, têm mais vontade de participar e aprendem muito melhor".

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