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Apoio de Taiwan a São Tomé não prejudica relações comerciais com a China, diz especialista

Nádia Issufo3 de abril de 2013

Interesses chineses e tawaineses no país africano dão origem a especulações quanto às relações de São Tomé e Príncipe com os dois países. Apesar da tensão entre China e Taiwan, especialista afasta a hipótese de conflito.

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Apoio de Taiwan a São Tomé não prejudica relações com a China, diz especialista
Apoio de Taiwan a São Tomé não prejudica relações com a China, diz especialistaFoto: Edlena Barros

São Tomé e Príncipe e Taiwan assinaram esta quarta-feira (3.04) o programa de cooperação bilateral para 2013 que abrange investimentos taiwaneses de 15 milhões de dólares norte americanos (11,6 milhões de euros) em diversas áreas do país africano. O Governo são-tomense reconhece que a assinatura deste novo programa de cooperação bilateral é prova do aprofundamento das relações entre os dois países, iniciadas em 1997.

Mas a presença simultânea de interesses chineses e taiwaneses em São Tomé e Príncipe levanta algumas questões sobre as relações de São Tomé e Príncipe com os dois países asiáticos, que não mantêm boas relações entre si.

Gerhard Seibert, analista do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, diz, em entrevista à DW, que não há motivos para alarme a curto prazo, mas deixa tudo em aberto.

DW África: A presença indirecta da China nos negócios são-tomenses pode causar algum tipo de dano na relação de São Tomé com Taiwan, até aqui, um dos principais financiadores do país?

Os 15 milhões de dólares de Taiwan vão ser aplicados na construção de novos estabelecimentos de ensino, conclusão de projetos de abastecimento de água, e projetos no setor agrícola são-tomense, entre outros
Os 15 milhões de dólares de Taiwan vão ser aplicados na construção de novos estabelecimentos de ensino, conclusão de projetos de abastecimento de água, e projetos no setor agrícola são-tomense, entre outrosFoto: DW

Gerhard Seibert (GS): Não acredito, por duas razões. Primeiro, este envolvimento de empresas chinesas, neste momento, é muito reduzido, porque falamos concretamente da zona conjunta de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe e Nigéria, onde estava a empresa petrolífera chinesa Sinopec e a sua subsidiária Addax. Mas, no ano passado, depois da divulgação de resultados inconclusivos sobre a presença de petróleo comercialmente viável nos blocos 2, 3 e 4, estas duas empresas retiraram-se da zona conjunta. Neste momento, só a Addax está no bloco 1 da zona. A presença é bastante reduzida, não só em São Tomé, trata-se de uma zona internacional, uma zona bi-nacional. A segunda razão é que, até agora, não há nenhum sinal da parte de Taiwan de estar preocupado com este envolvimento de uma empresa chinesa na zona conjunta com a Nigéria.

DW África: E há sinais de uma substituição de Taiwan pela China nas relações comerciais com São Tomé e Príncipe?

GS: A longo prazo nunca se sabe, porque pode haver desenvolvimentos também, por exemplo, entre a China Popular e Taiwan, que podem levar a que isso aconteça. Mas, neste momento, eu não acredito. Há sempre especulação, aliás, desde que São Tomé estabeleceu relações diplomáticas com Taiwan, em 1997. E, consequência disso, a China Popular cortou as relações com São Tomé e Príncipe. Houve sempre especulação sobre se São Tomé voltaria a estabelecer as relações com a China, ou seja, cortar com Taiwan. Mas isso nunca aconteceu e eu não acredito que vá acontecer a curto prazo. Desde que Taiwan apareceu em São Tomé que foi sempre um dos principais financiadores de projetos e do orçamento do estado e também existem alguns projetos com bons resultados da parte de Taiwan em São Tomé e Príncipe, sobretudo o projeto de combate à Malária.

DW África: O fato de países próximos de São Tomé e Príncipe, como Angola e a Nigéria, por exemplo, terem relações preferenciais com a China, pode conduzir São Tomé e Príncipe a uma aproximação a Pequim?

GS: Essa é uma boa pergunta. Eu diria que nunca se sabe. Isso pode ser um argumento: se existem, por exemplo, certas pressões dos estados membros dos PALOP e da CPLP, para, de um momento para o outro, mudar esta política. De fato, neste conjunto de países, São Tomé é o único que mantém relações de cooperação e diplomáticas com Taiwan. Mas eu diria que, a curto prazo, não vai haver alterações.

DW África: Há quase dois anos que Manuel Pinto da Costa não se encontra com o governo de Taiwan coisa que o seu antecessor, Fradique de Menezes, fazia com frequência. Pode-se dizer que as relações com a China ou Taiwan oscilam consoante o partido no poder em São Tomé e Príncipe?

GS: Não, pelo contrário. Houve especulação quando o MSTP chegou ao poder, em 2008, depois da primeira moção de censura, na altura em que Rafael Branco se tornou primeiro-ministro. Ele é de um partido independente de São Tomé que desde sempre manteve e mantém relações políticas com o partido comunista chinês. Mas, mesmo assim, quando Rafael Branco se tornou primeiro-ministro afirmou logo que o seu governo não era o partido. Portanto, esta diferença é real.

Gerhard Seibert (foto) não acredita na deterioração, a curto prazo, das relações entre São Tomé e Príncipe e a China, devido ao investimento de Taiwan no país africano
Gerhard Seibert (foto) não acredita na deterioração, a curto prazo, das relações entre São Tomé e Príncipe e a China, devido ao investimento de Taiwan no país africanoFoto: DW

Apoio de Taiwan a São Tomé não prejudica relações comerciais com a China, diz especialista