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Anunciada a retirada dos rebeldes de Goma, na RDCongo

Silva-Rocha, Antonio28 de novembro de 2012

Os rebeldes do movimento M23 na República Democrática do Congo estão na disposição de se retirar da cidade ocupada de Goma. Mas há conflitos internos na milícia e o Governo não cede às exigências dos rebeldes.

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Testemunhas no local falam de pilhagens por parte dos rebeldes. Até o Banco Central foi assaltado em pleno dia, afirma uma agência de notícias. O que pode ser um sinal para uma retirada próxima dos rebeldes, uma semana após a conquista espetacular da capital de província, Goma, no leste da República Democrática Congo. O chefe militar do M23, Sultani Makenga, confirmou a retirada até à sexta-feira, 30 de novembro. Mas apenas na condição das forças de paz das Nações Unidas, MONUSCO, integrarem cem rebeldes, para ajudarem a vigiar o aeroporto.

Mas esta retirada está longe de representar uma vitória para o Governo de Kinshasa, diz Ilona Auer-Frege, da Rede Ecuménica para a África Central, que se empenha pela paz no Leste do Congo: "O M23 e quem está por trás deles, conseguiram o que queriam: expuseram a fraqueza do Presidente Kabila, demonstraram o seu poder e posicionaram-se militarmente".

Joseph Kabila enfraquecido

A verdade é que o avanço dos rebeldes obrigou Kabila a sentar-se à mesa das negociações. Algo que, até agora, recusava categoricamente, acabando por provocar a ofensiva militar da semana passada. Agora o Presidente encontrou-se já várias vezes com representantes do M23 na capital ugandesa, Campala. É certo que rejeitou as reivindicações concretas do líder político do M23, Jean-Marie Ruinga. Por exemplo, a libertação do líder da oposição, Etienne Tshisekedi, que se encontra sob prisão domiciliar. Além disso os rebeldes exigem um processo judicial correto e justo no caso do assassínio do ativista dos direitos humanos, Floribert Chebaya. Alegadamente, o Presidente protege o indivíduo suspeito de assassínio.

Auer-Frege diz que estas exigências dos rebeldes também são uma excelente campanha de imagem para o M23: "O catálogo de reivindicações confere-lhes uma aura de estadistas, tornando-os uma alternativa para Kabila. Ao pegarem no caso Thisekedi, o único concorrente sério de Kabila, mostram que têm aliados poderosos. Estas iniciativas têm como objetivo enfraquecer ainda mais Kabila. Penso que os rebeldes têm um excelente departamento de relações públicas".

Tensões internas no M23

Até terça-feira, 27 de novembro, Ruinga recusou-se sempre a abandonar Goma antes que as exigências fossem atendidas. Mas parece que agora conseguiu impor-se o seu rival interno, Sultani Makenga. O que reflete as tensões internas na milícia. Até agora, o M23 esforçou-se por não deixar transparecer estes conflitos internos, que têm a sua origem numa luta antiga pelo poder entre os líder rebelde, Laurent Nkunda, e o seu concorrente, Bosco Ntaganda, quando o movimento ainda era o Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), explica Jason Stearns, do instituto de pesquisa Rift Valley, em Nairobi, capital do Quénia: "Os dois campos defendem interesses diferentes e a divisão alastra-se aos soldados. A causa foi a detenção de Nkunda pelo exército ruandês em 2009, quando Ntagenda lhe sucedeu na chefia. Makenga é próximo de Nkunda - na altura, ele e os seus oficiais recusaram-se a submeter-se a Ntaganda".

Seja como for que termine este conflito, as pessoas em Goma são cautelosas. E acreditarão que os rebeldes se vão retirar da cidade, quando o virem com os próprios olhos, diz um habitante ao telefone.

Autora: Philipp Sandner
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha