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Universitários angolanos revoltados com propinas

14 de janeiro de 2020

Estudantes universitários sentem-se traídos pelo Presidente angolano, que quer assinar um decreto para pôr fim ao sistema de ensino gratuito nas universidades públicas. É "um erro grave" cobrar propinas, dizem os jovens.

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Foto: DW/B. Ndomba

O Governo de João Lourenço pretende cobrar uma "taxa de participação" nas universidades públicas angolanas, porque o Estado está sem condições para continuar a suportar exclusivamente todas as despesas nesta área de formação. A medida vai entrar em vigor num período em que muitos angolanos estão a perder os postos de trabalho.

Devido à situação financeira de muitas famílias, estudantes ouvidos pela DW África garantem que não têm condições para suportarem os estudos e que o Governo "está a cometer um erro grave ao cobrar propinas nas universidades públicas".

Se o Governo avançar com a medida, Paulo Timóteo, que quer estudar Língua Portuguesa na Universidade Agostinho Neto (UAN), é um dos que não poderá prosseguir os estudos. "Ao implementar a cobrança de propinas, o próprio Governo já está a cometer crime. Não estou em condições de pagar as propinas porque não trabalho e com isso não consigo pagar os estudos", explica.

Estudantes desmotivados

Segundo a Associação dos Estudantes da UAN, a comparticipação financeira no ensino superior público poderá deixar fora das salas de aulas cerca de 12 mil angolanos.

Nascimento Jorge e Salomão Eduardo, estudantes dos cursos de História e Sociologia no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), localizado na centralidade do Kilamba, afirmam que as propinas vão agravar a situação dos alunos de baixa renda.

Universitários angolanos revoltados com propinas

"A cobrança de propinas está a desmotivar muita gente que quer ingressar, porque muitos não têm condições para sustentarem as universidades", lamenta Nascimento Jorge.

Já quando não se cobrava propinas, lembra Salomão Eduardo, "os filhos dos pobres desistiam, imagine agora com a cobrança das propinas. E o preço das propinas vai continuar a subir, porque sabemos a realidade do nosso país."

Entretanto, as universidades privadas aumentaram os preços da mensalidade. Na segunda-feira (13.01), estudantes da Universidade Privada de Angola e da Universidade Jean Piaget de Angola, foram para as ruas protestar contra a medida.

"Sentimo-nos traídos"

Há vários meses foi também lançada a campanha "Propina Not", ou "Propina Não", grito de força contra a cobrança das propinas no ensino superior. O ativista Arante Kivuvu, líder do movimento, diz que a cobrança de propinas revela desonestidade por parte do Presidente João Lourenço.

Angola Francisco Teixeira, Koordinator der Studentenbewegung, MEA
Francisco Teixeira (MEA): "Presidente quer matar o ensino público"Foto: DW/B. Ndomba

"Se o Presidente assinar o decreto sobre a cobrança das propinas, estará a ser desonesto, porque no manifesto eleitoral de 2017 prometeu aumentar a comunidade estudantil de dois mil a três mil estudantes. E isso será possível com a não implementação das propinas", lembra. 

"Com a cobrança muitos vão desistir", afirma o jovem do "Movimento Propinas Not", que realizou no sábado (11.01), em Luanda, uma vigília contra a intenção do Governo de implementar propinas no ensino universitário público.

O coordenador do Movimento Estudantil de Angola (MEA), Francisco Teixeira, também afirma que os jovens angolanos foram traídos pelo chefe de Estado e o Governo está a tomar uma medida precipitada.

"Enquanto jovens sentimo-nos traídos. O Presidente mentiu-nos porque ele apresenta um PND [Plano Nacional de Desenvolvimento] diferente da ação que ele quer tomar agora. Ele quer agora matar o ensino público, gratuito e de qualidade. Para nós, é errado, votamos num Plano Nacional de Desenvolvimento que dizia que iria aumentar o número de estudantes no ensino público", sublinha.