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Polícia angolana reprime estudantes em protesto

Manuel Luamba
17 de abril de 2021

A polícia angolana dispersou hoje (17.04) com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo uma manifestação de estudantes que protestavam em Luanda contra a subida de propinas e emolumentos nas instituições de ensino.

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Angola | Proteste gegen Polizeigewalt in Luanda
Foto de arquivo.Foto: Osvaldo Silva/AFP/Getty Images

Mais de 250 estudantes saíram este sábado (17.04), às ruas de Luanda para protestar contra o que chamam de "comercialização do ensino".Em causa está o decreto presidencial que autoriza a cobrança de propinas no ensino superior público. A manifestação foi dispersada pela polícia e houve detenções. 

"No fundo é por causa das propinas - estão muito altas. Há comercialização do ensino por parte das ministras da Educação, do Ensino Superior e das Finanças. Estamos a chamar atenção dessas pessoas para não comercializarem a educação", disse à DW África Francisco Teixeira, o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), sobre os objetivos do protesto. 

Os estudantes pretendem, exatamente que "se revogue o decreto 124/20, que autoriza cobrança nas universidades, e que se baixe as propinas nas universidades privadas", explica. 

Presidente do CNJ vaiado

No local da concentração – o Largo das Heroínas – o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, foi vaiado e expulso do local por supostamente não representar a juventude.

Mas Francisco Teixeira, presidente do MEA, reprova a atitude de alguns destes manifestantes. "Acho que é uma atitude errada. Nós temos que aprender a viver na diferença. Ele veio para atividade, é um jovem, é angolano, veio prestar a sua solidariedade para mim é muito normal. A atitude foi desnecessária".

Durante a marcha, os manifestantes exibiam cartazes com dizeres como"não matem o sonho da juventude - estudar é um direito e polícia, por favor, não me batam, não quero ser analfabeto".

Pedro Dambi, licenciado em Sociologia foi um dos participantes. "Embora eu já seja licenciado, estou a dar o meu contributo para que as gerações vindouras não encontrem as mesmas dificuldades que eu passei", disse.

Angola I Opositions Protest der UNITA Partei in Luanda
Foto de arquivo.Foto: Borralho Ndomba/DW

Também Augusto Sebastião, outro manifestante, explicou os motivos que o levaram a participar da marcha. "Estou aqui por causa da subida das propinas nas escolas.Eu não estou a conseguir pagá-las porque não trabalho".

Pessoas de vários estratos sociais participaram nos protestos, incluindo crianças que ao logo da marcha se juntaram a multidão. Entre políticos, estudantes e membros da sociedade civil, cantavam "quero educação gratuita". 

Gaspar dos Santos responsável da JURS – o braço juvenil do Partido de Renovação Social (PRS), disse: 

"Para além de políticos, somos estudantes. E, como estudantes, devemos procurar todos os métodos no sentido de garantir qualidade de ensino. Lutar para que os jovens tenham [acesso] ao ensino com facilidade. Nós conhecemos a realidade de Angola e estamos a ver que a implementação de vários emolumentos acabará por retardar aquilo que é adesão dos jovens no ensino". 

Conflito

Há escassos metros do Ministério da Educação, houve um impasse entre alguns manifestantes e a polícia. Alguns pretendiam marchar até a baixa da cidade onde se encontro o Ministério da Finanças, mas isso não foi permitido pelo corpo de segurança.  

Atitude da polícia agradava Francisco Teixeira, organizador dos protestos. "Atitude da polícia está boa até agora. Alguns manifestantes querem furar o círculo, mas está tudo sob controlo."

Já no destino da marcha, a polícia reforçou-se com meios humanos e materiais incluindo cães e dispersou a manifestação e houve a detenção de alguns manifestantes.

"Nem a polícia consegue explicar porque dispersou a manifestação e deteve alguns de nós", desabafou Francisco Teixeira. 

A DW África tentou sem sucesso ouvir a polícia angolana. 

Já Francisco Teixeira espera que a manifestação deste sábado (17.04) resulte em algo bom. "Vai resultar, porque já começamos a negociar com eles. Tenho certeza de que vamos voltar a sentar e chegar a um denominador comum", desabafou.

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