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Angola: PGR diz que é "ilegal" mandar remover vidros fumados

José Adalberto
22 de fevereiro de 2023

Donos de viaturas com vidros fumados têm dois meses para os remover. Multas podem ir até 220 euros. Quem quer vidros fumados terá de recorrer a empresas licenciadas. A Procuradoria angolana diz que a medida é ilegal.

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Foto: DW/R. Krieger

Pedro Domingos deixou de ter clientes desde que a polícia nacional anunciou as novas regras para os vidros fumados. Até aqui, o ganha-pão do jovem era colocar as películas nos vidros das viaturas, no mercado informal, em Luanda.

Desesperado com o fim da atividade, Pedro Domingos lança um apelo ao Governo: "Não podemos velar somente pela nossa vida, até porque o Estado, na sua constituição, diz que está para ajudar a população. No meu ponto de vista, esta lei veio para prejudicar a população."

A partir de agora, quem quer ter vidros fumados nas viaturas só os poderá colocar numa das mais de 300 empresas licenciadas para o efeito, espalhadas pelo país. Se os automobilistas têm "fumos" colocados noutro sítio, estão sujeitos a multas entre os 60 mil e os 120 mil kwanzas (cerca de 110 a 220 euros).

Segurança dita novas regras

A Direção de Trânsito e Segurança Rodoviária (DTSER) justifica as novas regras com a necessidade de garantir a segurança nas estradas. Os vidros para-brisas, por exemplo, têm de ter pelo menos 75% de transparência. Mesmo nos vidros de trás, a transparência não pode ser abaixo de 28%.

Sede da PGR em Luanda
Sede da PGR em LuandaFoto: DW/Borralho Ndomba

Para o presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), Francisco Paciente, as regras fazem sentido para os transportes públicos, tendo em conta a necessidade de garantir a segurança dos passageiros.

Mas Paciente não tem o mesmo entendimento em relação às viaturas privadas. "A privacidade também é um direito constitucionalmente consagrado, e aqui temos que ver efetivamente os limites, a gradação dos respetivos vidros", diz.

Medida ilegal?

A polícia deu aos automobilistas dois meses para retirarem "fumos" que não sejam de uma das empresas licenciadas. A Procuradoria-Geral da República (PGR) avisou, no entanto que, na legislação em vigor, não há qualquer norma que limite o uso de vidros fumados nas viaturas, considerando a proibição ilegal.

Para o jurista Agostinho Canando, a Procuradoria esteve bem, enquanto garante da legalidade. "O facto de a polícia estar a proibir o uso dessas películas, em princípio não é legal, por conta da retroatividade. Ou seja, possivelmente, existem pessoas cujas viaturas foram compradas há muito tempo, ou os vidros foram aplicados há quinze ou dez anos, e na altura não existia posição nenhuma da polícia", afirma.

Por outro lado, o presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola alerta que é preciso olhar com atenção para a postura das empresas licenciadas.

Com um número limitado de empresas autorizadas a colocar "fumos", os preços podem aumentar, refere Francisco Paciente: "Se a medida vem para diminuir a sinistralidade, nós concordamos. Só não concordamos com os preços que essas empresas vão praticar, em forma de monopólio."

De acordo com a polícia, para a aplicação de películas nas 300 empresas licenciadas, os interessados deverão desembolsar, no máximo, 140 mil kwanzas (cerca de 260 euros).

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