O diretor de investimentos da Africell, Ian Paterson, revelou à agência Lusa: "Estamos a prever fazer uma entrada muito relevante no mercado, vamos investir centenas de milhões de dólares em Angola. Estamos em discussões avançadas com vários dos nossos parceiros de financiamento para estruturá-lo adequadamente".
A operdora de telefonia móvel, criada no Líbano mas atualmente dirigida a partir da capital britânica, angariou nos últimos cinco anos 324 milhões de euros de entidades como a agência de investimento norte-americana US International Development Finance Corporation (USIDFC), dos fundos Gemcorp e Helios Investment Partners e da International Financial Corporation, que faz parte do Banco Mundial.
A dimensão do investimento planeado pela operadora pan-africana reflete a convicção no potencial do mercado angolano, o qual explodiu durante os anos de crescimento económico, mas tem vindo a descrever desde 2014, acompanhando a queda do preço do petróleo que arrastou Angola para uma crise económica.
"O mercado de telecomunicações é muito atrativo"
Um balcão da UNITEL em Luanda, Angola
De acordo com o Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), em 2019 o número de subscritores de serviços de telemóvel recuperou pela primeira vez em cinco anos, aumentando 12% relativamente a 2018, para 14,8 milhões, enquanto que a taxa de penetração passou de 45% para 49%.
A Unitel domina o mercado, com cerca de 80%, à frente da Movicel, que tem cerca de 20%, enquanto que a Angola Telecom (empresa estatal em processo de privatização) possui apenas uma posição residual.
"O mercado de telecomunicações [angolano] é muito atrativo porque há muito pouca concorrência verdadeira", reconhece Paterson.
E o gestor acrescenta: "A Unitel é um agente dominante no mercado e os clientes sofreram como resultado disso porque não receberam o melhor em termos de preço, valor e serviço que teriam se existisse uma concorrência verdadeira e o dinamismo que isso traz".
As promessas da Africell
A relação custo-benefício será uma componente importante da estratégia da Africell para romper no mercado angolano, procurando chegar a utilizadores que ainda não estejam a usar serviços 'premium' com planos de preços e aparelhos mais sofisticados, mas de custo mais acessível.
"Planeamos introduzir planos de preços muito mais criativos e flexíveis. Vamos ter mais soluções de alta velocidade, mais serviços de valor acrescentado. Em particular, coisas como pagamentos móveis e conteúdos, que não foram bem integrados no produto principal de comunicação, vão fazer parte da nossa solução", adiantou Paterson.
A Africell prevê criar 6.000 postos de trabalho diretos e indiretos nos próximos três a cinco anos, aproveitando ou formando recursos humanos locais, com o recrutamento a começar em breve.
Em termos de cobertura, pretende também aproveitar as infraestruturas já existentes, usando os cabos de fibra ótica e as torres de telecomunicações da concorrência para evitar "investimento duplicado desnecessário", mas essa questão depende do regulador.
"A nossa proposta é baseada no pressuposto que os regulamentos que o Governo gastou um esforço considerável a elaborar de partilha de infraestruturas e partilha de recursos de forma mais ampla serão implementados e cumpridos", vincou Paterson.
A empresa espera concluir as negociações com o Governo angolano e começar a operar em meados de 2021.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
-
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.
Autoria: Johannes Beck, Borralho Ndomba (Luanda), mjp