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Angola lidera Conferência da Região dos Grandes Lagos

Silva-Rocha, Antonio2 de agosto de 2013

A partir de dezembro, Angola vai presidir à Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. A decisão foi anunciada durante a 6ª Cimeira Extraordinária de chefes de Estado e de Governo da região africana.

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Na cimeira de Nairobi, que decorreu esta sexta-feira (2.08) em Nairobi, capital do Quénia, os participantes analisaram os relatórios do comité de ministros da Defesa da Região dos Grandes Lagos e do facilitador das negociações entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Movimento M-23, bem como da conferência interministerial sobre o grau de implementação do acordo-quadro referente à paz, segurança e desenvolvimento da República Democrática do Congo e da Região dos Grandes Lagos.

No final dos trabalhos, os chefes de Estado e de Governo ou seus representantes aprovaram uma declaração sobre a situação de segurança naquela região e no leste da RDC. O documento apelou nomeadamente à rápida conclusão do diálogo entre o Governo da RDC e o movimento rebelde e reiterou o pedido ao M-23 para parar com a guerra que leva a cabo contra o Governo.

Neutralidade justifica escolha, diz analista

A agenda da cimeira de Nairobi foi praticamente preenchida pela situação no leste da RDC, palco nas últimas semanas do reacender do conflito, que opõe os rebeldes do M-23 ao exército governamental do Congo democrático.

Angola foi designada para presidir uma conferência internacional sobre a região dos Grandes Lagos, em que deverão participar os 11 países que partilham fronteiras com a RDC e ainda as Nações Unidas, União Africana e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

Para Philipe Biyoya Makuto, professor de Ciências Políticas nas universidades de Kinshasa e Lumbumbashi, na RDC, a escolha de Angola é uma boa notícia porque se trata de um país que quer mostrar que é uma nação soberana da África Central na região austral do continente africano.

Em relação à crise que atinge a região dos Grandes Lagos, Biyoya Makuto disse à DW África que "Angola tem uma posição neutra em comparação com a defendida pelo Uganda ou outros países que estarão mais interessados nas riquezas congolesas"."Estamos na direção certa porque conhecemos a diplomacia angolana, uma diplomacia equilibrada e que certamente não irá criar problemas à região porque não tem uma dupla linguagem na gestão dos problemas da região dos Grandes Lagos", considera o analista.

Um dossier difícil, uma vitória angolana

O conflito armado naquela região já dura há muito tempo, embora inúmeras tentativas de pacificação já tenham sido levadas a cabo, sem sucesso.

O professor Makuto admite que o "dossier" não seja fácil, aliás, pelo contrário, mas encontrar uma solução para o problema, afirma, implica "um ator que não esteja envolvido no assunto". "O Uganda, por exemplo, está muito implicado no problema.

O Ruanda, a mesma coisa. Não têm posições neutras, mas Angola mantém distância em relação ao assunto e está interessada numa solução equilibrada, que é também uma posição defendida pela comunidade internacional", explica.

Também o analista e jornalista angolano José Eurico considerou a designação de Angola para acolher a conferência de dezembro como uma "notícia agradável porque representa uma vitória político-diplomática para o Estado angolano". "Uma vitória", frisa José Eurico, "decorrente da experiência que Angola foi acumulando ao longo dos anos, no que diz respeito à resolução de conflitos".

Para o analista, "é importante não esquecer que Angola é um país diretor e que conseguiu resolver o conflito que esventrou o seu tecido social e económico durante mais de quatro décadas". "O facto de ter conseguido resolver este problema internamente foi muito importante", conclui.

Angola apoia solução equilibrada

Angola é país vizinho da RDC e isso poderá ter as suas vantagens no processo de pacificação e estabilização da região dos Grandes Lagos no seu todo. É um vizinho não envolvido na causa congolesa. Angola é um país que, na realidade, quer solucionar de forma equilibrada a complicada situação na RDC", diz Biyoya Makuto, acrescentando que "os outros vizinhos que estão em conflito com o Congo democrático querem na verdade o desmembramento da RDC" e "esta é precisamente a tese que Angola recusa".

A DW África perguntou a Biyoya Makuto se o Uganda e o Ruanda vão aplaudir a posição de neutralidade que, como diz, Angola tem assumido no que concerne ao "dossier" que aborda o conflito mais visível na região dos Grandes Lagos. A isto, o professor responde que "o Uganda é suficientemente pragmático, mas talvez sejam os ruandeses a estar contra. Em todo o caso, Angola é um parceiro responsável, equilibrado e neutro face à região dos Grandes Lagos e a sua presidência poderá efetivamente ser uma missão de esperança".

Recorde-se que, apesar da presença de um contingente militar da ONU, a RDC, em particular, mas a região dos Grandes Lagos no seu todo, vive uma situação de instabilidade há mais de uma década, motivada pela proliferação de milícias e por uma alegada intromissão de países nos assuntos internos dos seus vizinhos. Os ciclos de conflitos e de violência entre forças governamentais e grupos armados já provocaram milhares de mortes e milhões de deslocados.