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Angola: Clima de investimento apresenta melhoria

6 de março de 2019

Visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola ocorre numa altura em que a economia angolana apresenta melhorias. À DW África, analista diz que investidores estão satisfeitos com "sinais" dados por João Lourenço.

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Wirtschaftliche Situation in Angola l Tiago Dionísio
Tiago DionísioFoto: privat

O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, está em Angola para uma visita oficial de quatro dias, que termina no próximo sábado, dia 9 de março. No Palácio Presidencial, em Luanda, e após a reunião com o chefe de Estado português, o Presidente angolano João Lourenço afirmou que os dois países assinaram já, desde setembro, 35 instrumentos de cooperação. Um deles referente à regularização das dívidas de Angola a empresas portuguesas, considerado por muitos um tema sensível. Mas não para João Lourenço, que afirmou que esta não é uma "questão tabu" e que garantiu que, "desde que [a dívida] seja certificada, o devedor assume o compromisso de pagar".

Por seu lado, Marcelo Rebelo de Sousa classificou como "excelentes" as atuais relações entre os dois países, dizendo que esta é uma "parceria segura”, capaz de "enfrentar todos os imponderáveis da vida económica, social, financeira e política mundial".

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola acontece numa altura em que a economia angolana, em recessão desde 2016, por causa da queda do preço do petróleo, apresenta melhorias. Isso mesmo confirmou, em entrevista à DW África, Tiago Dionísio, economista-chefe da consultora Eaglestone, que afirma que "o sinal que João Lourenço tem dado, desde que tomou posse, é bastante positivo". O analista diz ainda que o "acordo com o FMI é "francamente positivo aos olhos dos investidores, porque quer dizer que Angola vai continuar a fazer esforços para melhorar a sua economia".

DW África: No âmbito da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola, o secretário de Estado da Economia angolano assegurou que os investidores poderão encontrar no país um "bom ambiente de negócios". Concorda? O ambiente de negócios melhorou efetivamente com a chegada de João Lourenço?

Tiago Dionísio (TD): Acredito que sim, o Presidente João Lourenço e o seu Governo, desde que tomaram posse, têm tido uma particular atenção às questões relacionadas com a corrupção e também com a governance das empresas públicas, e isso tem sido visto com muito bons olhos pelos investidores internacionais, que começam a olhar para Angola de uma maneira diferente. O aumento da transparência é muito importante para qualquer investidor que queira investir num país.

Portugal Joao Lourenco angolanischer Präsident
Presidente de Angola, João LourençoFoto: DW/J. Carlos

DW África: Será ainda prematuro dizer que as reformas levadas a cabo por João Lourenço, como por exemplo, as alterações à legislação do investimento estrangeiro em Angola, estão já a ter reflexo no país?

TD: Estas medidas demoram algum tempo a fazer efeito. Este tipo de políticas não produz resultados de um dia para o outro. O sinal que João Lourenço tem dado, desde que tomou posse, é bastante positivo, e acho que esses efeitos deverão continuar a ser evidenciados ao longo deste e dos próximos anos.

DW África: O que é que ainda tem de melhorar no país para que se torne apetecível aos olhos dos investidores?

TD: O facto de Angola ter assinado, no final de 2018, um acordo de três anos com o FMI [Fundo Monetário Internacional] é positivo aos olhos dos investidores internacionais. Quer dizer que Angola vai continuar a fazer um esforço, em parceria com o FMI, para melhorar a situação económica, e também outros setores. O setor da banca é um deles. Há muito tempo que andamos a defender que o número de bancos em Angola é elevado. Nos últimos meses, alguns desses bancos encerraram as suas portas. Agora, uma das medidas do programa do FMI é melhorar a estabilidade do setor financeiro no país. Isto vai passar, por exemplo, pela revisão aos balanços dos bancos locais, portanto, à qualidade dos ativos, o que poderá levar a que alguns bancos tenham que fechar. Acreditamos que o número de bancos em Angola, que neste momento se situa em torno de 26 ou 27, possa ser reduzido ao longo do corrente ano.

Angola: Clima de investimento está mesmo melhor?

DW África: No geral, ainda é considerado um risco investir em Angola? O que esperar dos próximos anos? Serão com certeza anos mais positivos...

TD: Acredito que sim. 2019 e 2020 deverão ser anos mais positivos. Acreditamos que o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] seja positivo. Na sua última previsão sobre Angola, o FMI disse esperar que a atividade económica cresça 2,5% este ano e acima de 3% nos próximos dois anos. Isso fará com que o sentimento dos investidores estrangeiros melhore também.

DW África: João Lourenço anunciou esta semana a sua recandidatura à presidência de Angola em 2022. Este anúncio pode ser considerado uma segurança para os investidores ainda indecisos?

TD: Creio que sim. Quando uma empresa faz um investimento é importante que haja alguma estabilidade, um rumo a seguir. E o facto do atual Presidente ter anunciado que se vai recandidatar reduz um pouco o risco político dos investimentos em Angola. Significa que as políticas que estão a ser implementadas, neste momento, deverão continuar nos próximos anos.

DW África: Os escândalos de corrupção que envolviam Angola, frequentemente, estavam de facto a "afugentar" o investimento estrangeiro do país?

TD: Creio que eram várias questões. Também o facto dos investidores internacionais terem evidenciado uma maior apetência para os mercados emergentes e o facto do setor petrolífero também ter tido anos muito complicados. Acho que a comunidade internacional também vai estar muito atenta à capacidade do Governo de dar a volta à economia. É importante que os dados económicos, a partir de 2019, sejam mais positivos e que, de facto, a atividade no país possa crescer no sentido de melhorar também as condições de vida da população local.

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