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Angola apela à cooperação portuguesa no setor da saúde

João Carlos (Lisboa)1 de agosto de 2013

Angola quer atrair profissionais portugueses qualificados para trabalharem no país, de modo a suprir a carência de recursos humanos do setor da saúde. O apelo foi feito pelo ministro José Van-Dúnem, em Portugal.

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Angola apela à cooperação portuguesa no setor da saúde
Angola apela à cooperação portuguesa no setor da saúdeFoto: Fernando Sefrin

O pedido do ministro angolano responsável pela pasta da Saúde é extensível aos quadros angolanos na diáspora. José Van-Dúnem, que concluiu esta quinta-feira (1.08) uma visita de três dias a Portugal, esteve em Lisboa, Porto e Coimbra para conhecer melhor a realidade portuguesa e exortou os empresários a investirem em todas as áreas da saúde em Angola.

Apesar do crescimento exponencial da economia nos últimos anos, Angola apresenta indicadores de desenvolvimento social, nomeadamente na área da saúde, ainda pouco satisfatórios. Uma em cada sete crianças morre antes de completar os cinco anos, segundo os dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que apontam para 161 mortes em mil nascimentos. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o país apresenta das piores taxas de mortalidade infantil.


Apesar dos esforços, serviços não chegam a todos

Os números são inquietantes, mas José Van-Dúnem responde com ações que incluem o programa de vacinação. "Nós temos melhorias significativas na cobertura da vacinação de rotina e temos também intervenções com campanhas, com postos fixos e móveis, de modo a atingirmos todas as crianças, onde quer que elas estejam. E a possibilidade de elas morrerem devido a essas doenças diminui significativamente", afirma o ministro da Saúde.

José Van-Dúnem, ministro da Saúde de Angola, no último dia da sua visita a Portugal
José Van-Dúnem, ministro da Saúde de Angola, no último dia da sua visita a PortugalFoto: DW/J.Carlos

A malária e a tuberculose, bem como o sarampo, o tétano, a poliomielite e a meningite são as principais responsáveis pela mortalidade infantil em Angola. Segundo o ministro, as várias ações em curso visam reduzir o índice destas doenças entre a população. No entanto, a medicina ainda não é acessível a todos os angolanos, apesar de nos últimos anos estarem a surgir várias clínicas modernas.

Investimentos públicos em clínicas privadas

Empresas estatais como a Sonangol investem em clínicas privadas, quando os ganhos resultantes da exploração petrolífera deveriam contribuir para melhorar o acesso dos angolanos a serviços de saúde de qualidade.

Questionado pela DW África sobre esta discrepância, José Van-Dúnem afirma que "a Sonangol tem uma clínica que se chama 'Girassol', a mais moderna do país". De acordo com o ministro, a clínica "tem resposta a todas as necessidades que possam imaginar, no domínio da saúde. Quer dizer que [a Sonangol] está preocupada com a saúde dos angolanos".

Van-Dúnem acrescentou que a intenção principal da Sonangol é garantir assistência aos seus trabalhadores e de empresas associadas. Entenda-se, por isso, que o papel da petrolífera é complementar às actividades públicas. Neste sentido, acrescentou, "quem tem a responsabilidade de assegurar aos angolanos um serviço gratuito e com qualidade é o Governo, através do Ministério da Saúde".

Angola apela à cooperação portuguesa no setor da saúde

"E o Governo tem feito investimentos para modernizar os hospitais tanto em Luanda como a nível nacional", frisa o ministro angolano, acrescentando que "desde a paz, em 2002,construíram-se vários hospitais provinciais e centros de saúde e, de há dois anos para cá, há um esforço para que, a nível regional, se consiga dar uma resposta abrangente aos problemas de saúde que afetam os angolanos".

"Governo tem de garantir igualdade"

O plano de ação do Executivo, defendeu, também visa estender às zonas rurais serviços de qualidade, com o objetivo de reduzir as assimetrias ainda existentes e garantir o acesso universal à saúde. O ministro lembra que o Executivo tem "a obrigação de garantir uma saúde igual para todos os angolanos, onde quer que eles estejam" e sublinha que o governo realiza "campanhas de vacinação que visam melhorar a mortalidade infantil e materna, que têm repercussões muito positivas".

José Van-Dúnem com António Rendas, Reitor da Universidade Nova de Lisboa, numa conferência na capital portuguesa
José Van-Dúnem com António Rendas, Reitor da Universidade Nova de Lisboa, numa conferência na capital portuguesaFoto: DW/J.Carlos

"A esperança de vida aumentou, a mortalidade materna diminuiu, a mortalidade infantil também", afirma Van Dúnem, considerando que estes são "indicadores do esforço que o governo está a fazer para melhorar a saúde dos angolanos".

José Van-Dúnem falou à DW África à margem da visita de três dias a Portugal, visando estreitar as relações de cooperação e despertar o interesse dos portugueses em investir nas várias oportunidades que o setor da saúde oferece em Angola.

Cooperação portuguesa precisa-se

"Para o governo angolano a saúde é uma prioridade", diz o ministro, considerando que "não há desenvolvimento sem saúde". "Os investimentos públicos na área são uma prova disso e isto explica porque é que há o interesse em colaborar com Angola, do ponto de vista dos privados, seja na criação de clínicas privadas, na área da distribuição e produção de mediamentos ou na formação em saúde", exemplifica.

No final de um encontro empresarial, o ministro português da Saúde, Paulo Macedo, confirmou à DW que a formação é um dos focos da cooperação luso-angolana. "Angola tem um projeto ambicioso, através da abertura de novas universidades, das necessidades concretas que tem de mais profissionais de saúde e de querer formá-los em Angola e no exterior, para voltarem a trabalhar em Angola", afirma o ministro português, acrescentando que "Portugal pode desenvolver essa formação, que pode atingir um novo patamar".

Paulo Macedo realçou, por outro lado, a estratégia de internacionalização das empresas portuguesas na área dos medicamentos, dos dispositivos clínicos e de infraestruturas, que corresponde às necessidades específicas de Angola inscritas no Plano Nacional de Saúde do país para 2025.

António Russo Dias (à esquerda) é o Presidente do Conselho do Instituto Português de Higiene e Medicina Tropical, cujos projetos em curso com o Ministério da Saúde angolano foram também analisados durante a visita
António Russo Dias (à esquerda) é o Presidente do Conselho do Instituto Português de Higiene e Medicina Tropical, cujos projetos em curso com o Ministério da Saúde angolano foram também analisados durante a visitaFoto: DW/J.Carlos

O reforço da cooperação bilateral foi tema das conversações entre Paulo Macedo e o seu homólogo, a marcar o fim da visita a Portugal. O governante angolano, que se fez acompanhar de vários responsáveis do setor sob sua tutela, inteirou-se do funcionamento das principais infraestruturas hospitalares e das experiências portuguesas na área da indústria farmacêutica, respetivamente em Lisboa, Coimbra e no Porto.

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