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PolíticaAlemanha

Política africana entre a pandemia e a campanha eleitoral

Daniel Pelz
29 de janeiro de 2021

Os objetivos da política alemã em África são claros: promover o investimento privado e a prosperidade no continente. Mas a Covid-19 abalou a economia, levantando questões sobre o futuro da política africana de Berlim.

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Deutschland Compact with Africa Initiative in Berlin | Angela Merkel und Paul Kagame
Foto: Getty Images/AFP/J. Macdougall

Uma data importante na agenda da chanceler alemã Angela Merkel ficou em branco no ano passado: a obrigatória cimeira com os chefes de Estado africanos e a elite empresarial alemã foi cancelada. As reuniões eram já rotina na política federal desde 2017.

De qualquer modo, as empresas alemãs não teriam sido capazes de assumir muitos compromissos em matéria de investimento externo.

"A pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo em África devido ao lockdown em quase todos os países e às consequências das medidas que tomámos para combater a pandemia", disse à DW Günter Nooke, encarregado da chanceler para a África.

A pandemia surgiu justamente numa altura em que se verificava um interesse crescente por parte do setor privado alemão no continente africano "Para 2020 estava previsto um verdadeiro ano africano. A quebra causada pelo coronavírus foi dramática", disse à DW Tilo Halaszovich, professor de economia na Universidade Jacobs em Bremen.

O pesquisador conduziu um inquérito junto de 100 empresas com negócios em África. Destas, 75 planeavam expandir as suas atividades no continente em 2020. No fim e por causa da pandemia, apenas 13% conseguiram concretizar os seus planos.

Entwicklungsminister Müller in Kenia
O ministro do Desenvolvimento, Gerd Müller, um dos aquitetos da nova política africana, retira-se da política em setembroFoto: picture-alliance/dpa/B. Otieno

Quebras nas exportações e no comércio

Também os números do banco central alemão, Bundesbank, não auguram nada de bom. De janeiro a setembro de 2020, o investimento direto da Alemanha na África subsariana foi 698 milhões de euros, menos cerca de 171 milhões do que no mesmo período em 2019.

Não obstante, o Governo alemão pretende manter a sua política. "O enfoque no investimento por parte de empresas privadas em África e o enfoque no desenvolvimento económico autossustentável permanecem corretos, independentemente das pandemias que nos possam atingir ou da dimensão que a Covid-19 possa alcançar", diz Günter Nooke.

Também muitas empresas alemãs continuam interessadas em África. O setor privado está em posição de espera, diz o economista Halaszovich. Uma situação que, na opinião do perito, o Governo alemão devia aproveitar para encorajar o maior número possível de empresas a voltar rapidamente para África após o fim da pandemia. "Penso que o mais eficaz seriam medidas rápidas de incentivo em pequena escala, sem obstáculos burocráticos. Acredito que a procura seria grande", diz Halaszovich.

África estará ausente da campanha eleitoral

O que não será o suficiente para atrair mais empresas para África. Contudo, é precisamente esse o objetivo declarado da política em Berlim. Mas até agora, empresas alemãs dificilmente investem no continente.

"A Alemanha deve continuar a criar oportunidades de investimento atrativas para as empresas alemãs de modo criar os empregos tão necessários em África", disse à DW Rob Floyd, do Centro Africano para a Transformação Económica (ACET na sigla inglesa) no Gana.

Mosambik Straßenbau in der Provinz Niassa
Berlim aposta nos investimentos privados em infraestruturas africanasFoto: DW/M. David

Isto inclui conferências económicas com celebridades políticas africanas, mas também programas que, na sua maioria, passam despercebidos ao público. Por exemplo, o Ministério da Economia e o Ministério do Desenvolvimento em Berlim criaram extensas redes de consultadoria, que informam as empresas alemãs sobre as oportunidades nos mercados africanos e as possibilidades de obter financiamentos.

Resta saber o que o futuro reserva à política africana alemã e aos seus programas em África.

Em setembro realizam-se na Alemanha eleições parlamentares a nível federal. Tanto a chanceler Angela Merkel como o ministro do Desenvolvimento, Gerd Müller, justamente os principais arquitetos da nova política para África, não se recandidatam.

O encarregado da chanceler, Nooke, desdramatiza: "As novas iniciativas, a transformação do pensamento, o maior enfoque no desenvolvimento económico, no investimento privado, no desenvolvimento de infra-estruturas, tudo isto não pode depender nem dependerá apenas da chanceler ou do ministro do Desenvolvimento Müller", afirma.

Na verdade, devem ficar em Berlim muitos dos atores nos ministérios, associações empresariais e organizações de desenvolvimento que ajudaram a moldar a nova política de África.

Afrika: Tansania: Baustelle Strabag
O número de empresas alemãs ativas em África é reduzidoFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Um novo Governo terá novas prioridades?

Mas não se sabe ao certo quanto tempo e energia o Governo alemão ainda irá dedicar a África durante a campanha eleitoral.

"A campanha será dominada pela luta contra a pandemia e as suas consequências económicas e sociais. A política africana será empurrada ainda mais para segundo plano", disse à DW o pesquisador alemão Robert Kappel.

Muitos programas, como o Pacto com África ou o Plano Marshall para África, são concebidos para o longo prazo. Concentram-se em reformas na Alemanha e em África. Muitos já foram iniciados, mas estão longe de implementados.

O Pacto, por exemplo, centra-se nas reformas nos países parceiros africanos: combater a inflação e a corrupção, e reduzir os défices orçamentais. "É importante que as parcerias de reforma sejam reforçadas e continuadas. Os empresários só sentirão os seus investimentos protegidos se houver reformas contínuas ", diz o especialista do ACET, Rob Floyd.

Ninguém sabe ao certo, no entanto, se um novo Governo federal estará na disposição de continuar a financiar e a apoiar os programas.