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AI acusa exército da Nigéria de violações dos direitos humanos

Silva-Rocha, Antonio1 de novembro de 2012

O exército participa no clima de terror que o grupo extremista islâmico Boko Haram faz reinar no Norte e Centro da Nigéria, denunciou a Amnistia Internaciona (AI).

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Num relatório de 88 páginas intitulado "A Nigéria envolvida numa espiral de violência", a organização de defesa dos direitos do homem dá conta de execuções arbitrárias e de operações punitivas contra os civis, levadadas a cabo pela força especial do exército nigeriano (JFT), na sequência dos atentados de Boko Haram. Esta força especial foi enviada para várias cidades , nomeadamente Maiduguri, bastião de Boko Haram, no Nordeste do país, para lutar contra os extremistas islâmicos.

Calcula-se que esses atentados e a consequente repressão no Norte e Centro da Nigéria terão feito pelo menos 2.800 mortos desde 2009.

Recorde-se que num relatório publicado no início de outubro, uma outra organização internacional, a Human Rights Watch, também admitiu que crimes contra a humanidade poderiam ter sido cometidos tanto pelas forças nigerianas como pela Boko Haram.

A violência no Norte da Nigéria está longe de ser solucionada

E, como se ainda fosse necessário, mais um atentado da autoria presumida do grupo extremista islâmico Boko Haram contra uma igreja em Kaduna, no passado domingo, 28 de outubro, prova que o problema da violência no norte da Nigéria está longe de ser resolvido. Os esforços do Governo não produzem resultados, pelo contrário, a situação agrava-se.

Há uma semana, num gesto simbólico de grande significado, os cristãos e os muçulmanos em Kaduna, no norte da Nigéria, celebraram juntos a Festa islâmica do Sacrifício, como contou à DW África o imã, Mohammad Nuraini Ashafa: "Sacrificámos um cordeiro juntos e festejámos tudo juntos, comemos e bebemos todos juntos. Não só os muçulmanos, mas também os nossos amigos cristãos. Levámos comida aos nossos amigos cristãos, para celebrarem connosco."

Por isso o choque causado pelo do atentado no domingo a seguir foi ainda mais profundo. Oito pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas, quando um bombista suicida fez explodir um engenho dentro de uma igreja. Suspeita-se a organização terrorista islâmica Boko Haram de estar por detrás deste atentado. A Boko Haram já reivindicou vários ataques contra igrejas nigerianas.

Os observadores avançam que o objetivo é sabotar o diálogo entre as religiões, já que o atentado voltou a atiçar cristãos contra muçulmanos. Ainda no mesmo dia foram chacinadas três pessoas por cristãos em alvoroço.

Boko Haram viola os direitos humanos e o exército causa muito sofrimento

O mais extraordinário é que este conflito só superficialmente pode ser considerado religioso, afirma Lucy Freeman, da Amnistia Internacional:
"As pessoas não estão entre duas frentes por motivos religiosos. De um lado está o grupo terrorista Boko Haram, que comete violações graves dos direitos humanos, e do outro está o exército, cujas retaliações também causam grande sofrimento. É sempre a população que sofre".

A pretexto de combater o terrorismo, o Governo lança mão de medidas drásticas, acusa a Amnistia Internacional. No relatório divulgado esta quinta feira (01.11) a organização documenta muitos casos de detenção sem culpa formada. A AI fala ainda de execuções sumárias. Mesmo ex-membros do exército criticam o procedimento do Governo.

Yahaya Shinka, um major na reforma, indigna com o facto dos verdadeiros culpados não serem punidos. Alguns cristãos atacam muçulmanos inocentes porque se sentem abandonados à sua sorte, explica o ex-militar para, em seguida, acrescentar que "as pessoas se interrogam sobre o papel do Governo. Será que tem um interesse na desestabilização do norte da Nigéria? Porque se não houver uma cooperação entre os cristãos e os muçulmanos, o Governo terá maior facilidade em alcançar os seus próprios objetivos ".

Líder espiritual empenha-se pelo diálogo das religiões na Nigéria

Por outras palavras, os cristãos no Norte, por se sentirem ameaçados, apoiam o Presidente Goodluck Jonathan, ele próprio um cristão do Sul. O imã Nuraini Ashafa esforça-se por limitar as danos causados pelo procedimento dos terroristas e do Governo. O líder espiritual muçulmano empenha-se pelo diálogo das religiões num centro criado para este propósito. Após o atentado de domingo, o líder espiritual visitou cristãos feridos no hospital e lançou um apelo na rádio com esta mensagem central dirigida aos dois lados:

"Apelamos para as pessoas para que percebam que estes são comportamentos que nada têm a ver com a tradição muçulmana ou cristã. Apelamos para que não abusem da religião como forma de chamar a atenção para problemas sociais. A nossa crise aqui não é religiosa, mas política, e exige uma solução política".

Mas enquanto o Governo não demonstrar de forma credível estar interessado numa solução política, estes apelos vão encontrar pouca ressonância.

Autor: Katrin Matthaei / Cristina Krippahl
Edição: António Rocha