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Africanos no Brasil temem aumento da violência e xenofobia

18 de outubro de 2018

A disputa eleitoral no Brasil fez aumentar os episódios de violência por motivação política, facto que está a preocupar os africanos da região Sul do país. Alguns ponderam mesmo abandonar o país.

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Sara Santiago (esquerda) é de Cabo Verde e Márcia Pungo (direita) é de AngolaFoto: DW/L. Nagel

A campanha eleitoral para as eleições presidenciais do Brasil tem gerado vários casos de violência envolvendo eleitores e políticos. Depois do ataque ao candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro, um outro caso mediático fez manchete nos jornais no início deste mês, quando o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, foi morto com 12 facadas em Salvador, no estado da Bahia. O motivo do ataque terá sido uma discussão política.

Brasilien Bildkombo Jair Bolsonaro und Fernando Haddad
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) vão disputar a segunda volta das presidenciais brasileirasFoto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce

Para os estrangeiros africanos que vivem em Porto Alegre, no sul do Brasil, a corrida à presidência tem sido caracterizada por intolerância e disseminação de ódio, tanto nas redes sociais como na praça pública. "O brasileiro tem muito ódio para destilar e não tem preguiça de fazer isso", desabafa a angolana Márcia Pungo, de 23 anos, uma estudante universitária que vive há quatro anos na capital gaúcha. "Se a pessoa comentou algo que não vai ao encontro do que a outra acredita, essa pessoa já é digna de ser odiada. O brasileiro não tem vergonha de destilar o seu ódio", comenta a jovem que está convicta que deixará o país no próximo ano para regressar a Angola.

Preconceito disseminado

Sara Santiago, de 24 anos, estudante de comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), sente na pele o preconceito que impera entre muitos brasileiros. Natural de Cabo Verde e a viver no Brasil desde 2015, a jovem recorda uma situação "constrangedora" que sofreu em plena sala de aula assim que chegou ao país.

Escalada de violência preocupa cidadãos dos PALOP no Brasil

"Na primeira prova que eu fiz, tirei nota 8. Uma colega chegou ao pé de mim e retirou-me a prova da minha mão. Virou-se para a professora e perguntou por que é que eu, que vinha de África, tinha tirado 8 e ela 6", relata a universitária.

A cabo-verdiana admite estar preocupada com a atual situação, devido à escalada de violência. "Tenho medo de dar um passo fora ou que me batam porque sou negra, sou mulher e sou jornalista", lamenta a jovem. "Tenho todas as características que no momento, a favor do Bolsonaro, são contra", comenta Sara.

Falta de respeito pela opinião alheia

O guineense Germem Correia, de 28 anos, estudante de mestrado em Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), critica a posição agressiva dos brasileiros quando o assunto é política.

Brasilien Rio Grande do Sul | Germem Correia: Schüler von Guinea-Bissau in Rio Grande do Sul
Germem Correia, estudante da Guiné-Bissau no BrasilFoto: DW/L. Nagel

"Tu percebes que existe ódio. Cada um é livre de ter e escolher o seu partido, mas o importante é respeitar a opinião dos outros. Muitas vezes, as pessoas acabam por não entender isso", refere o estudante da Guiné-Bissau que vive há cerca de cinco anos no Brasil.

No dia 28 de outubro, 147 milhões de brasileiros são chamados às urnas para eleger o novo Presidente da República. Os eleitores têm de escolher entre os dois candidatos mais votados no primeiro turno: Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), que obteve 46,03% dos votos válidos, e Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que reuniu 29,28% dos votos.

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