A cerca de três meses das eleições em Angola, o presidente da UNITA, o maior partido de oposição, chegou hoje (18.05) a Bruxelas, para encontros com representantes das várias instituições da União Europeia.
Em entrevista exclusiva com a DW África, Adalberto Costa Júnior, que é também coordenador-geral da Frente Patriótica Unida (FPU), uma aliança da oposição de que fazem parte a UNITA, o Bloco Democrático (BD), e o projeto político PRA JÁ Servir Angola, diz que está confiante num resultado eleitoral que permita uma alternância nas próximas eleições, previstas para a segunda quinzena de agosto.
Começámos por perguntar a Adalberto Costa Júnior quais os objetivos dos périplos internacionais que têm acontecido nos últimos tempos, incluindo a presente visita de dois dias a Bruxelas.
Adalberto Costa Júnior: Os mesmos [objetivos] que me têm feito andar um pouco por todos os países na procura de apoios ao processo eleitoral de Angola. E, acima de tudo, a tentativa de ter em Angola uma delegação de observação internacional nas eleições.
DW África: Qual a importância de ter observadores do ocidente, como os Estados Unidos ou a União Europeia? Não confia nos observadores africanos?
Protesto na província de Namibe
ACJ: Todos os processos eleitorais têm uma abertura à observação internacional. Sem a limitação aos amigos, aqueles que fazem aquilo que se pede que se façam. Posso-lhe dizer que nos atos eleitorais, o Governo angolano quis apenas os seus amigos a controlar e a chefiar as delegações de observação.
DW África: O registo eleitoral que terminou há pouco tempo em Angola tem merecido muitas críticas da UNITA. Porquê?
ACJ: A lei do registo oficioso obriga à publicação das listas dos cadernos eleitorais provisórios. Para que possam ser sujeitos a fiscalização e correção de erros. Estes últimos têm sido regulares. Nas últimas eleições, a deslocalização dos eleitores envolveu milhares de angolanos. Chegado o dia das eleições, muitas pessoas perceberam que os seus nomes não constavam nas listas dos municípios onde se tinham inscrito. O Governo angolano demonstrou má-fé ao não publicar estas listas eleitorais.
DW África: O que pensa da tentativa do Governo angolano de limitar as atividades dos institutos que fazem as sondagens políticas?
ACJ: As sociedades modernas e democráticas não devem temer a opinião dos cidadãos. As sondagens são elementos técnicos que todos utilizam e que demonstram a intenção de voto. O que acontece em Angola é que o MPLA levou ao Parlamento uma proposta que impede a legalização de empresas que fazem sondagens. Só tem medo da opinião do povo quem não tem garantias de que possa ganhar.
DW África: Outra questão que a UNITA levantou foi o caso da contratação de uma empresa, a INDRA, que fornece o material para a realização das eleições. Porquê?
ACJ: O problema é que esta empresa nunca agiu com a transparência exigida num processo eleitoral. No passado foi publicada a existência de um determinado número de boletins de votos. Mais tarde descobriu-se que tinham duplicado o número que tinham assumido. Onde foram usados os boletins não declarados? Outro caso: nas eleições, a empresa em causa imprimiu boletins educativos que traziam uma cruz sobre o MPLA, para se votar naquele partido. É uma absoluta ilegalidade.
DW África: Em Angola há quem duvide que a UNITA e os seus parceiros políticos tenham capacidade de governar devido à inexperiência no poder político…
ACJ: É para rir! Sendo assim, é melhor ficar com aquele que em 46 anos, não conseguiu criar estabilidade e infraestruturas e adiou as eleições autárquicas. Este Governo fez tudo para ir para casa descansar.
Congresso da UNITA
DW África: O que é que nos pode dizer sobre A Frente Patriótica Unida? tem pernas para andar?
ACJ: Foi uma vontade que se transformou em realidade. Chamo a atenção de que foi ameaçada no próprio dia em que foi criada [5 de outubro de 2021]. Nesse dia, as televisões anunciaram a anulação do congresso da UNITA para tentar inviabilizar a frente. É sinal que ameaça o regime.
DW África: O que é que o Adalberto Costa Júnior faria se fosse eleito Presidente de Angola?
ACJ: Serei o primeiro Presidente que, ao tomar posse, assumirá a totalidade da nação, sem excluir ninguém. Irá despir a camisola partidária para assumir a nação num seu todo.
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Os cartoons de Sérgio Piçarra
"Ajuste Direto"
80% da contratação pública em Angola foi feita por meio de ajuste direto, em detrimento dos concursos públicos, o que levanta sérios problemas de transparência. Muito crítico em relação às práticas do seu antecessor, o Presidente João Lourenço tem estado a trilhar exatamente o mesmo caminho que José Eduardo dos Santos.
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Presidente de Angola ou líder do MPLA em campanha?
O "cúmulo da partidarização" do Estado em Angola foram as palavras usadas pelo partido da oposição UNITA para descrever as recentes controvérsias que envolvem João Lourenço. O Presidente angolano está a ser criticado por usar a estrutura do Estado - como as deslocações às províncias e os próprios meios de comunicação presidenciais - para antecipar a sua campanha eleitoral às eleições de agosto.
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Os cartoons de Sérgio Piçarra
Urgência do assunto
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, ainda não respondeu a várias solicitações de audiência do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior. A Igreja Católica também fez vários apelos ao diálogo que não foram ouvidos, além de ter pedido transparência nas eleições gerais, previstas para agosto. Aparentemente alheio a tudo isso, o chefe de Estado continua a "dialogar" com outros atores.
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Ricos em vez de riqueza
O escritor moçambicano Mia Couto disse certa vez que os países africanos produzem ricos em vez de riqueza. Angola não é exceção.
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Quando é que a fome é "relativa"?
A "fome é sempre relativa", disse o Presidente angolano, João Lourenço, a 11 de dezembro. "Talvez por conveniência [...] política convenha repetir incessantemente a palavra 'fome', mas eu diria que o grande problema de Angola, se quisermos ser mais precisos é o pouco poder de compra dos nossos cidadãos, resultante dos altos índices de desemprego".
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UNITA e MPLA à espera do Tribunal Constitucional
O Tribunal Constitucional de Angola tem em mãos dois processos controversos relacionados com os dois principais partidos políticos do país. Em causa, a validação do XIII Congresso do maior partido da oposição, a UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, e a providência cautelar interposta pelo militante do MPLA António Venâncio para impugnar o VIII Congresso do partido no poder.
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Troca de "tiros nos pés" em Angola
O Tribunal Constitucional chumbou o congresso da UNITA, que elegeu Adalberto Costa Júnior, e Isaías Samakuva reaparece em cena para assumir o comando do maior partido da oposição. O Presidente João Lourenço teceu rasgados elogios ao seu regresso. Poderá estar o chefe de Estado a fazer campanha contra si mesmo? Na visão de Sérgio Piçarra, lembra o "tiro no pé" de Savimbi e a "satisfação" de Zé Dú.
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Tiro pela culatra?
O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, foi acusado de "tribalismo, intrigas, desvios de fundos". Este mês, o MPLA disse que a liderança de Costa Júnior está "por um fio". Mas o maior partido da oposição sacode as críticas e ganha cada vez mais popularidade. O tiro terá saído pela culatra?
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Casas queimadas
O Presidente angolano João Lourenço sai "chamuscado" da "Operação Caranguejo", com a Casa Civil e a Casa Militar da Presidência da República a "pegar fogo" devido a suspeitas de corrupção. João Lourenço exonerou o chefe da sua Casa de Segurança, Pedro Sebastião.
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"A solução"
Depois de uma semana marcada por reuniões e cimeiras, as políticas intercontinentais apontam a soluções... Mas antes de encontrarem as soluções... acha que já perceberam mesmo quais são os problemas no continente africano que precisam dessa tal solução?
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O botão único
Será que só passa um canal nos média públicos angolanos? A imparcialidade da imprensa pública é cada vez mais questionada em Angola. O maior partido da oposição no país disse recentemente que, a um ano das eleições gerais, em 2022, os órgãos de comunicação social do Estado "foram instruídos e elegeram o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, como alvo a abater".
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A perseguição
Futuro, será que, face às chuvas em Luanda, que fizeram 24 mortos e milhares de desalojados, mudou alguma coisa? Alguém atende?
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O míssil Cafunfo
Várias organizações de defesa dos direitos humanos exigem uma investigação célere aos recentes incidentes ocorridos em Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, e que provocaram várias mortes e feridos. O ministro angolano da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, admitiu terem existido violações dos direitos humanos de parte a parte e garantiu a realização de um inquérito.
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Contratação pública
80% da contratação pública em Angola foi feita por meio de ajuste direto, em detrimento dos concursos públicos, o que levanta sérios problemas de transparência. Muito crítico em relação às práticas do seu antecessor, o Presidente João Lourenço tem estado a trilhar exatamente o mesmo caminho que José Eduardo dos Santos
Autoria: Sérgio Piçarra