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A luta pela unidade da Nigéria

Katrin Gänsler | António Cascais
27 de setembro de 2017

A Nigéria é um dos países mais populosos e mais poderosos de África, mas é também confrontado com graves conflitos étnicos e religiosos. Algumas iniciativas promovem a paz em Kaduna.

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Apoiantes da independência da região de BiafraFoto: Getty Images/AFP/P. U. Ekpei

Entre as maiores étnias da Nigéria estão os Yoruba, os Haúça e os Igbo, que vivem na província de Biafra, no sudeste deste enorme país.

E é no Biafra que surgiu um novo movimento separatista denominado IPOB, sigla para "Povos Indígenas do Biafra", um movimento que pretende dar voz aos Igbos, maioritáriamente cristãos, que se sentem vítimas de discriminação, tanto no proprio Biafra, como tambem - e sobretudo - em regiões onde constituem minoria, como a região de Kaduna, de maioria muçulmana, no norte do país.

Já em 1967, a região de Biafra declarara unilateralmente a independência, o que provocara uma sangrenta guerra civil que, até 1970, causou cerca de 2,5 milhões de mortos e terminou com a reintegração - à força - no Estado nigeriano.

27.09. Nigeria Igbos Kaduna - MP3-Mono

Mas o conflito nunca foi resolvido completamente e, nos últimos anos, sobretudo nos últimos meses, parecem ter-se intensificado as reivindicações pela autonomia do Biafra.

O IPOB, considerado um grupo terrorista pelas autoridades nigerianas, condena a alegada violência exercida pelos soldados nigerianos contra os membros do grupo.

A tensão aumenta também no norte do país, nomeadamente no estado de Kaduna entre os Igbos, maioritariamente cristãos, e a maioria muçulmana.

Em junho, o conflito em Kaduna agudizou-se com ameaças de grupos islâmicos, lançadas contra as minorias cristãs que foram mesmo intimadas a abandonar a região até o dia 1 de outubro, que assinala o aniversário da independência da Nigéria.

"Juntos venceremos"

Mas nem todos os muçulmanos apoiam as hostilidades contra os Igbos cristãos. "Queremos a unidade. Não é importante se és cristão ou muçulmano ou mesmo animista. Somos todos nigerianos, independentemente de pertencermos às etnias igbo, haúça ou yoruba. Juntos venceremos, divididos falharemos", afirma Maryam Abubakar, diretora da organização humanitaria Womenhood Foundation of Nigeria, WFN, sediada em Kaduna.

Nigeria Kaduna Dominic Eze Uzu
Maryam Abubakar, da organização humanitaria Womenhood Foundation of Nigeria, WFNFoto: DW/K. Gänsler

Maryam Abubakar visita escolas para falar sobre o discurso de ódio, pois não quer que se espalhe em Kaduna um clima de medo e agitação.

Perante a incerteza que se vive em Kaduna, Muhammad Ibrahim Gashash, diretor da organização Cristão/Muçulmano Alternativa ao Conflito decidiu "preparar uma casa para os membros da comunidade Igbo". "Quem se sentir inseguro pode vir para aqui para se proteger", acrescentou Muhammad Ibrahim Gashash, que reconhece que, nos últimos tempos, "muitas pessoas têm falado de medo".

Mas até agora não foi preciso. Segundo Gashash, a forte presença da sociedade civil e do governo regional de Kaduna tem garantido a segurança.

Nigeria Kaduna Muhammad Ibrahim Gashash
Muhammad Ibrahim Gashash mostra a casa que pode acolher membros da comunidade IgboFoto: DW/K. Gänsler

Viver sob ameaça

Contudo, o clima de medo entre os Igbos, na região de Kaduna, parece não dissipar. As pessoas questionam: até quando conseguirão as diferentes etnias e religiões viver em conjunto?

Nigeria Kaduna Maryam Abubaka
Jornalista Dominic Eze UzuFoto: DW/K. Gänsler

O jornalista Dominic Eze Uzu, cristão e igbo, vive há mais de 40 anos no estado de Kaduna e ultimamente vê-se confrontado com ameaças dos radicais muçulmanos que querem que ele e a sua familia abandonem a região. Mas isso, para Dominic, não é opção.

"Todos os meus filhos vivem aqui. Quero que eles encontrem um trabalho quando estiveram na idade, mas tenho medo que sejam discriminados. Há muitas injustiças e muita desigualdade. Porque é que não somos tratados como autóctones, como cidadãos de Kaduna como todos os outros?", questiona o jornalista.

De fato, a familia de Dominic Eze Uzu não goza dos mesmos direitos que a população maioritária. Quem quer fazer carreira na administração pública tem que apresentar uma denominada "declaração de indigenidade". Certos postos continuam reservados a pessoas pertencentes às etnias autóctones.

Dominic critica essa prática. "Estamos ou não preparados para ser uma Nigeria unida?", questiona o jornalista nigeriano. "Se queremos uma única Nigéria teremos que tratar as pessoas em conformidade", conclui Dominic Eze Uzu.