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A luta contra a depressão e o suicídio em África

Martina Schwikowski | ms
24 de junho de 2019

Muitos países africanos debatem-se com altos índices de suicídio, para os quais não há explicações simples. Falta ajuda profissional e uma investigação mais abrangente sobre as causas.

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Foto: picture-alliance/Godong

O psicoterapeuta Hiram Chomba não poupa esforços para chegar aos pacientes que vivem nas comunidades rurais mais remotas. Às vezes chega lá de mota, outras vezes vai de "matatu", nome pelo qual são conhecidos os mini-autocarros do Quénia.

Chomba vive em Embu, uma pequena cidade perto da capital, Nairobi. Trabalha há quatro anos na organização "Befrienders Kenya", que ajuda pessoas que sofrem de depressão e têm pensamentos suicidas.

O psicoterapeuta também apoia pessoas que têm contacto frequente com pessoas que sofrem de doenças mentais. "Neste momento, estou concentrado na formação de agentes de liberdade condicional, que têm muitos encontros com suicidas", conta.

Crise no Quénia

"Os números são preocupantes. No Quénia, a crise já é real", afirma Hiram Chomba. Citando um relatório do Ministério da Saúde, o psicoterapeuta diz que quatro pessoas suicidam-se todos os dias neste país do leste de África.

Kenia Nairobi - kenianischer Psychotherapeut Hiram Chomba bei einem "Suicide Awareness" Workshop
Hiram Chomba trabalha na organização "Befrienders Kenya", que ajuda pessoas com depressão Foto: Privat

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Quénia não é o único país africano com altos índices de suicídio. Na Nigéria ou na Costa do Marfim, por exemplo, os números são ainda elevados do que na maioria dos países europeus, dos Estados Unidos da América ou da China, com mais de 15 suicídios por 100.000 habitantes por ano.

Hiram Chomba receia que os números oficiais no Quénia sejam apenas a ponta do iceberg: o psicoterapeuta acredita que não há dados fiáveis ​​sobre as taxas de suicídio no país. "No Quénia, a saúde mental não é uma prioridade e há pouco acesso a pessoal formado", diz, sublinhando que existem apenas 100 psiquiatras para uma população de 45 milhões e que o número de psicólogos é ainda menor.

Homens mais em risco

A organização "Befrienders Kenya" criou um centro de aconselhamento psicológico gratuito na capital, Nairobi. São principalmente mulheres da periferia que procuram ajuda. No entanto, em todo o país, a maioria dos afetados são homens, segundo Hiram Chomba.

A luta contra a depressão e o suicídio em África

O psicoterapeuta acredita que a mudança social é um dos fatores que contribui para os problemas psicológicos que muitas pessoas enfrentam. "A desintegração da cultura tradicional contribuiu para o aumento das taxas de suicídio", diz.

Chomba acredita que o desenvolvimento económico levou ao desaparecimento de normas e costumes tradicionais. E as expectativas sociais e culturais - especialmente dos homens - mudaram. Segundo o médico, a filosofia africana "Eu sou porque somos" está a perder importância nas sociedades modernas africanas.

Informação contra a estigmatização

O abuso de álcool, que é um sinal de alerta precoce de depressão, também se generalizou. "Queremos lutar contra isso. Estamos em contacto com empresas locais, líderes religiosos, políticos, líderes tribais e polícias", diz Chomba.

Através de campanhas de informação, o psicoterapeuta e a sua equipa querem lutar contra o estigma da depressão e ajudar parentes, vizinhos e colegas a reconhecer os sintomas de tendências suicidas.

Symbolbild - Alkoholisches Getränk
O alcoolismo é muitas vezes um sinal de alerta de depressãoFoto: Colourbox

Megan Vaughan, professora de História e Saúde Africana na University College London, confirma que a depressão e o suicídio ainda são temas tabu em África. No entanto, acrescenta, o reconhecimento de que a depressão é uma doença está a aumentar.

Na África do Sul, por exemplo, a crise do HIV trouxe a questão da saúde mental para o foco público. "No passado, eram os anciãos que davam conselhos. Mas os jovens precisam de outras formas de ajuda, mais adequadas às suas condições de vida", lembra Megan Vaughan em entrevista à DW.

Suicídio não é algo novo em África

Vaughan acredita que a ascenção social também é um dos motivos das altas taxas de suicídio. "A vida está a mudar rapidamente e em África também. A urbanização está a aumentar a um ritmo aceleradom, as pessoas já não vivem em estruturas de aldeias e com laços familiares", diz a historiadora, apesar de considerar esta visão, por si só, demasiado simplista.

Segundo Megan Vaughan, o suicídio não é algo novo em África: já ocorria em sociedades tradicionais africanas. "Nunca existe um único motivo pela qual as pessoas cometem suicídio e isso aplica-se a todas as regiões do mundo", afirma.

A historiadora defende uma investigação mais extensa sobre a depressão e o suicídio em África, para se obter conclusões mais claras e adoptar estratégias de prevenção mais adequadas.

Também o psicoterapeuta Hiram Chomba acredita que é preciso fazer mais. "Eu também perdi familiares que se suicidaram. Temos de agir mais cedo", conclui.

Há indícios de que alguns trabalhos jornalísticos sobre suicídio podem levar a reações de imitação. Se sofre de tensão emocional grave ou tem pensamentos suicidas, não hesite em procurar ajuda profissional. Pode encontrar mais informação sobre onde é possível encontrar ajuda neste site: https://www.befrienders.org