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A guerra híbrida russa contra a Ucrânia

Frank Hoffmann
22 de fevereiro de 2022

Além das tropas no terreno, Moscovo tem recorrido a ciberataques, mercenários e desinformação direcionada para desestabilizar o país vizinho.

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Ukraine | Konflikt in der Ostukraine
Foto: Anatolii Stepanov/AFP

Depois de vários dias de agravamento das tensões na fronteira com a Rússia, no leste da Ucrânia, intensificam-se os combates entre as forças armadas ucranianas e os separatistas pró-Moscovo. Segundo a agência de notícias DPA, já foram reportadas múltiplas mortes, um dia depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter reconhecido a independência das regiões de Donetsk e Lugansk, dominadas pelos separatistas.

Após a declaração do Presidente, foi formalizada a entrada de tropas russas no leste da Ucrânia, alegadamente para levar a cabo "missões de paz". A decisão foi condenada pela comunidade internacional, com muitos países a preparar pesadas sanções à Rússia. 

No espaço de uma semana, o Ministério da Defesa e duas das maiores instituições bancárias, o PrivatBank e o Oschadbank foram alvo de ataques cibernéticos sem precedentes. Durante algum tempo, os clientes não conseguiram usar os seus cartões de pagamento e ficaram sem acesso ao banco online.

São apenas alguns exemplos dos confrontos na guerra híbrida que a Rússia trava contra a Ucrânia há oito anos. O mundo tem feito vista grossa e, para a população ucraniana, tornou-se parte do dia-a-dia. 

Russland Präsident Putin Dekret zu abtrünnigen Regionen in Ost-Ukraine
Vladimir Putin assina os decretos que reconhecem a independência de Lugansk e Donetsk.Foto: Alexey Nikolsky/Kremlin/SPUTNIK/REUTERS

"No princípio da guerra híbrida, os meios não militares são particularmente importantes", diz Margarete Klein, investigadora especializada em temas do Leste Europeu do think tank Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

"O objetivo principal não é a conquista militar de território, mas garantir a influência. As demonstrações militares de poder, como o envio de tropas e os exercícios militares. Trata-se também de determinar a narrativa", afirma a especialista, acrescentando que esses são artifícios que o Presidente russo, Vladimir Putin, domina de forma "notável".

Preocupação internacional, serenidade em Kiev

Quem observa a comunicação social e as redes sociais na Ucrânia surpreende-se com o que vê. Enquanto decorrem discussões mundiais acerca da agressão russa ao país, muitos ucranianos estão surpreendentemente calmos.

Mesmo após os avanços russos, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez um discurso para projetar uma mensagem de calma: "Não temos medo de ninguém. Não devemos nada a ninguém. Não vamos dar nada a ninguém".

Há alguma ansiedade e famílias preocupadas que estão a pensar em deixar o país, para se juntar a parentes na Alemanha ou na Polónia. No entanto, o ambiente esteve até agora tranquilo em Kiev.

A população está habituada a esta guerra híbrida travada contra o país há oito anos, desde a chamada "Revolução da Dignidade", na Praça da Independência (Maidan), na capital ucraniana.

Ukraine Kiew Anwohner am Unabhängigkeitsplatz
Kiev, a 16 de fevereiro.Foto: CARLOS BARRIA/REUTERS

"É uma estratégia de desgaste, com a qual se tenta pressionar a Ucrânia, principalmente internamente, e assim, a longo prazo, trazê-la de volta a um curso pró-Rússia", diz a pesquisadora do SWP. "Uma meta com certeza é também provocar uma fadiga do Ocidente em relação à Ucrânia", termina.

A intenção é criar pressão, "especialmente ao retratar a liderança dos EUA como paranóica. Isso inclui o anúncio da retirada de tropas exatamente quando o chanceler federal alemão Olaf Scholz estava a visitar Moscovo", exemplifica Margarete Klein.

"Ao mesmo tempo, ainda não temos provas suficientes de uma retirada substancial, especialmente em relação às unidades que foram enviadas de longe, como da Sibéria ou do extremo oriente. Isso seria realmente um sinal de retirada. Em vez disso, são retiradas apenas tropas que podem ser enviadas novamente de forma rápida", explica a investigadora.

Putin tem a mira na economia ucraniana

Este espetáculo militar tem um impacto concreto na Ucrânia. Por causa do perigo de guerra, real ou não, a companhia aérea nacional Ukraine International perdeu a cobertura de seguro de curto prazo e anunciou que iria transferir as suas aeronaves para o exterior.

O Governo teve de considerar a criação de um fundo de segurança para a companhia aérea de 500 milhões de euros.

Ukraine Flugzeuge der UIA (Ukraine International Airlines)
Aviões da Ukraine International.Foto: Maxym Marusenko/NurPhoto/picture alliance

O rumo pró-europeu na Ucrânia, enfatiza Klein, está a receber apoio económico do Ocidente, sobretudo da União Europeia.

"Um dos objetivos de Putin é, portanto, atingir a economia da Ucrânia", explica.

A investigadora ressalta que a Rússia não está preocupada em ter um amortecedor de segurança contra os países da NATO da Europa do Leste, mas com o fim completo do curso da Ucrânia em direção ao Ocidente.

"O objetivo destas estratégias é criar incerteza e afugentar investidores", explica.

Recuperação rápida da pandemia

Economicamente, a Ucrânia está a ser bem-sucedida no seu curso para o Ocidente. Em 2021, a balança comercial entre a Alemanha e Ucrânia foi recuperada em apenas um ano após o choque da pandemia de 2020. Agora, está de volta a 7,7 mil milhões de euros.

"Cresce a impressão de que a Ucrânia se pode recompor", disse o chefe da Câmara de Comércio Alemanha-Ucrânia, Alexander Markus, durante uma conferência online em meados de fevereiro.

E acerca da guerra híbrida de Putin, Markus acha que "não vai funcionar", porque, acima de tudo, vê "jovens que querem criar algo" no país.

O espírito da revolução pró-europeia da Maidan é o que torna a Ucrânia tão interessante para os investidores ocidentais.

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