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Índia e África: Relação avança a passos largos

Martina Schwikowski | ck
15 de dezembro de 2019

O comércio com o continente africano assume cada vez mais importância para a Índia. As ligações que datam do período colonial beneficiam agora as relações. Mas a Índia quer mais além de matérias-primas.

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Foto de arquivo (2015): Primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na abertura da cimeira Índia-África, em Nova Deli.Foto: Reuters/A. Abidi

Distraído com a presença controversa da China em África, o Ocidente ignora que a Índia é hoje o segundo parceiro comercial mais importante daquele continente.

Embora o volume de negócios sino-africanos ainda seja três vezes superior, a Índia avança a passos largos. Segundo dados das Nações Unidas, o comércio entre a Índia e a África cresceu em média anual 17,2% desde 2001.

Algo que espanta até os especialistas, como o politólogo Philipp Gieg da Universidade alemã de Würzburg: "São dimensões incríveis, impensáveis há vinte anos ou trinta anos, quando os antigos poderes coloniais e os Estados Unidos da América dominavam em África".

Ligações históricas

Inicialmente, a Índia concentrou-se nos países da África Austral e Oriental, com os quais mantinha ligações históricas mais fortes. Na África do Sul, por exemplo, vivem mais de um milhão de indianos. Também o Uganda e o Quénia têm grandes populações de descendência indiana.

Os seus antepassados foram enviados para África pelos governantes coloniais britânicos como trabalhadores contratados para as plantações de cana-de-açúcar, na mineração ou na construção ferroviária - muitas vezes em condições brutais e exploratórias.

Hoje, as empresas indianas operam também noutras partes do continente africano, principalmente em países anglófonos e ricos em recursos como o Gana e a Nigéria.

Nigeria Port Harcourt Arbeiter auf Plattform Ölförderung
Petróleo representa cerca de 40% das exportações dos países africanos para a Índia.Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei

Fome de recursos

A força motriz do rápido crescimento do comércio entre a Índia e a África é a fome de matérias-primas do subcontinente.

"Uma economia em crescimento acelerado precisa de recursos. Há muito que a Índia tem que importar mais energia do que produz, o que levou a que se virasse para África para obter petróleo e outras matérias-primas", lembra Philipp Gieg.

Até hoje, a Índia importa de África sobretudo petróleo, ouro, carvão e outros minerais. Em contrapartida, o cabaz de bens provenientes da Índia inclui essencialmente produtos transformados, como os têxteis, a electrónica e os produtos farmacêuticos. Estará a Índia em posição de fazer concorrência à China?

Os analistas acham que a China leva um avanço muito grande em África, para além de estar mais industrializada e ter um menor índice de pobreza.

Ruanda PK Präsident Paul Kagame mit indischem Ministerpräsidenten Narendra Modi
Narendra Modi e Presidente Paul Kagame durante a visita do PM indiano ao Ruanda, em 2018.Foto: Getty Images/AFP/C. Ndegeya

Negócios são prioridade

Há similaridades na política africana dos dois países. Por exemplo, ambos não interferem em questões de direitos humanos.

"A Índia diz que não interfere nos assuntos internos de Estados soberanos. O lema é: ‘digam-nos o que precisam e nós vemos se podemos ajudar'”, diz Gareth Price, especialista do Sul da Ásia no instituto de pesquisa londrino Chatham House.

Mas também há diferenças: "Os indianos que investem em África optam por empregar mão-de-obra africana. Pequim tem por hábito exportar trabalhadores chineses para o continente. Essa é uma vantagem grande para a Índia", explica o analista.

Um papel global

O envolvimento indiano em África também tem uma dimensão política: a Índia pretende ser o porta-voz dos países no hemisfério sul. Os seus políticos gostam de lembrar que foram os primeiros a fazer da cooperação Sul-Sul uma prioridade.

Não é por acaso que os dez princípios das relações com o continente africano proclamados pelo primeiro-ministro Narendra Modi enfatizam a luta histórica conjunta de indianos e africanos contra as potências coloniais.

Agora, dizem os indianos, há que juntar forças para criar uma ordem mundial justa e democrática para o terço da humanidade que vive na Índia e em África.

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