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África do Sul: Secreta prevê aumento de violência xenófoba

Milton Maluleque (Joanesburgo)
6 de agosto de 2020

A secreta está a monitorar o aumento dos níveis de descontentamento por parte dos nacionais em torno dos postos de trabalho que não exigem qualificações e ocupados por estrangeiros. Moçambicanos estão receosos.

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Südafrika Xenophobie Rassismus Unruhen
Residente local com pedra na mão e uma arma tradicional Zulu, após conflito com estrangeiros em Durban, em abril de 2015Foto: Getty Images/AFP/

Com o aumento do desemprego na África do Sul, devido à crise económica motivada pelo novo coronavírus, os serviços de inteligência sul-africanos (SSA na sigla em inglês) entendem que o país será sacudido por ondas de violência xenófoba.

A existência de crescentes indícios de insatisfação e intolerância para com imigrantes oriundos dos países vizinhos, levam-nos a essa desconfiança.

Segundo a inteligência, as cidades de Pretória e Joanesburgo, província de Gauteng, de Durban, em KwaZulu Natal, e a Cidade do Cabo, na província do Cabo Ocidental, são descritas como propensas a ocorrência de ataques xenófobos num futuro próximo.

Em meados de julho camionistas sul-africanos manifestaram-se na província do Cabo-Ocidental contra empresas do setor dos transportes, alegando que estas empregavam mais trabalhadores estrangeiros e despediam os nacionais.

Phola Park, uma área do bairro de Thokoza, vizinha de Katlehong, a leste de Joanesburgo, registou até este último final de semana uma manifestação motivada pelas restrições no fornecimento da corrente elétrica por mais de um mês, mas que acabou por se transformar num ato de vandalismo e pilhagem de bens de estrangeiros.

Mosambik Maputo Protest gegen Fremdenfeindlichkeit
Vítimas de xenofobia na África do Sul num centro de trânsito em Boane, MoçambiqueFoto: DW/L. Casimiro Matias

Relatos de violência

Segundo o morador do bairro José Sobrinho, a polícia encontra-se a patrulhar a zona. Mesmo assim os estrangeiros optam por viver longe do local.

"Todos moçambicanos e todos zimbabueanos e outros são tanzanianos e outros são malauianos, de momento fugiram do local por causa destes ataques. Porque queimaram-lhes tudo, as mobílias, e foram expulsos das casas que arrendavam", conta Sobrinho.

Para além da destruição de bens e da expulsão de estrangeiros, duas mortes teriam sido registadas em conexão com os ataques, sendo as vítimas uma criança e um manifestante sul-africano.

Este não resistiu ao ser atingido por uma bala de borracha disparada pela polícia, como nos conta a moçambicana Amélia Honwana: "Morreu uma criança que os seus pais são do Zimbabué, a mãe estava a tirar roupas dentro de casa enquanto que a criança estava dentro do carro. Queimaram o carro enquanto que a criança estava dentro do carro".

Outro moçambicano, David Machava, diz que sobre "o moçambicano que morreu aqui não sei de nada, não ouvi nada. Só vi um sul-africano que teria sido abatido pela polícia."

Apesar destes ataques e da incerteza quanto a sua segurança, a jovem Amélia Honwana, descarta o seu regresso à Moçambique.

"Já me acostumei a viver aqui onde estou. Eu estou a trabalhar, mesmo agora estou no serviço, mas estou a trabalhar com medo porque trabalho com pessoas daqui da Africa do Sul."

Südafrika Xenophobie Rassismus Unruhen
Manifestação contra a xenofobia em abril de 2015Foto: Getty Images/G.Guercia

"O problema são os nacionais"

Para a líder da comunidade moçambicana em Katlehong, Urace Ndeve, que cobre a região de Tokoza, o problema não reside nos políticos, mas sim nos nacionais.

"O sul-africano não gosta de trabalhar, então quer tudo a força e quando vê uma pequena oportunidade começam a fazer confusão com as pessoas de fora, mas não é porque os líderes daqui gostam disso. Não gostam, mas eles em si e que se controlam e gostam de fazer essa confusão", entende.

Entretanto, a ministra sul-africana da Segurança do Estado, Ayanda Dlodlo, defendeu recentemente a realização de negociações entre a África do Sul e os seus vizinhos da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), para que se encontre um mecanismo de apoio mútuo e deste modo o nível de descontentamento permaneça no nível de fácil contenção.

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