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Visita do papa põe governo mexicano sob pressão

Astrid Prange (md)12 de fevereiro de 2016

Viagem de Francisco ao México é centrada nas injustiças sofridas pela população do país. Ele vai percorrer regiões afetadas plo crime organizado e encontrar vítimas de violações dos direitos humanos e da pobreza.

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Foto: Reuters/A. Bianchi

Seis papas já visitaram o México. Mas desta vez tudo é diferente. A viagem de Francisco ao segundo maior país católico do mundo, que começa nesta sexta-feira (12/02) e vai até a próxima quinta, é como uma peregrinação ao longo dos males da América Latina: o drama dos refugiados, o assassinato de mulheres no norte, drogas e violência no centro do país e o mundo dos empobrecidos maias, no sul.

O programa é salpicado por gestos cheios de significado. Um dos mais importantes é o encontro com vítimas de violência, no último dia da viagem, em Ciudad Juárez, como parte de uma missa. Também vão participar da missa os parentes dos 43 estudantes de Iguala "desaparecidos" desde setembro de 2014 – embora tenham tido negado seu pedido de um encontro privado com o pontífice.

Crimes impunes

Os 43 estudantes provavelmente foram mortos por traficantes, com cumplicidade de pessoas do meio político. "O encontro é um sinal importante e aumenta a pressão sobre o governo para promover, finalmente, o esclarecimento", afirma Jannika Rominger, especialista em México da ONG alemã Centro América Latina (LAZ, na sigla em alemão).

Cerca de 27 mil pessoas são consideradas "desaparecidas" no México. Elas estão entre as vítimas de uma guerra das drogas que cobre de violência o território mexicano. Na década passada, cerca de 100 mil pessoas perderam a vida na batalha entre cartéis, incluindo jornalistas, religiosos, políticos e ativistas dos direitos humanos.

Por isso, pouco antes da chegada do papa, ONGs mexicanas se dirigiram ao pontífice com uma carta aberta. O texto pede que ele aborde a situação dos direitos humanos no México em seus encontros com representantes do governo.

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Policial vigia fossa clandestina no México: cerca de 27 mil pessoas são tidas como desaparecidas no paísFoto: Reuters/H. Romero

"O governo do presidente Peña Nieto minimiza as graves violações dos direitos humanos e as trata como casos isolados", acusam os signatários, apostando na autoridade de Roma. "Confiamos que sua solidariedade com as vítimas contribua para que neste país a fé na paz e na justiça não sejam perdidas."

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, católico devoto, terá que ouvir os sermões papais. Pois o programa do pontífice não prevê eventos folclóricos com grupos de mariachi – e sim visitas a áreas problemáticas do país.

Retorno dos rebeldes

Elas incluem os estados marcados pela violência do tráfico de drogas, como Michoacán e Chihuahua, assim como Chiapas, de população predominantemente indígena. Em 1994, a região se tornou mundialmente famosa através do movimento zapatista sob o "subcomandante Marcos".

O bispo mexicano Raúl Vera foi, então, enviado pelo papa João Paulo 2° à diocese rebelde de San Cristobal de Las Casas, para conter o bispo local Samuel Ruiz, já que o teólogo da libertação apoiava os povos indígenas e o levante zapatista.

Mas Vera acabou se solidarizando com Ruiz, não cumpriu sua missão e também caiu em desgraça em Roma. Em 1999, Vera foi, então, transferido de Chiapas para o nordeste do México e nomeado bispo de Saltillo. Atualmente, as palavras do religioso de 71 anos recuperaram peso, pois ele é considerado um confidente do papa.

"A situação em Chiapas se tornou mais calma, mas em relação à grande pobreza da população, não houve muitas melhoras", afirma Raúl Vera. "Estou tão feliz que o papa venha a Chiapas", diz o bispo, em entrevista à DW. "O fato de que ele também visitará o túmulo de Samuel Ruiz é um sinal extraordinário. O gesto é tão forte quanto a beatificação da Virgem de Guadalupe!"

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Pobreza no país é um dos temas da viagem do papa FranciscoFoto: picture alliance/Demotix

A Virgem de Guadalupe é padroeira do país. Por um longo tempo, ela foi menosprezada pela Igreja Católica no México, assim como foram Samuel Ruiz e Raúl Vera. A homenagem papal aos dois teólogos da libertação mexicanos abriga, por isso, também uma mensagem de política eclesiástica.

"Durante anos, a hierarquia católica no México foi uma aliada devota do governo e se beneficiou disso", escreve o autor mexicano Jorge Zepeda Patterson no jornal espanhol El País. "Agora, alguns estão preocupados, com razão. As reformas do papa põem em xeque a normas enrijecidas da Igreja."

Se não bastasse isso, no México, a Igreja Católica também se vê envolvida em crimes impunes. O escândalo de abusos na Congregação dos Legionários de Cristo foi por longo tempo encoberto pelo clero mexicano. Somente em 2006, o fundador da congregação, Marcial Maciel, que abusou sexualmente de seminaristas durante décadas, foi afastado pelo Vaticano. Ele morreu em 2008, sem jamais ter ido a tribunal.