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Sotaque alemão oriental é discriminado

rw26 de novembro de 2002

Empresário bávaro nega-se a contratar telefonistas dos Estados do leste da Alemanha devido ao seu sotaque.

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Oeste engole o leste: lado pobre vítima de arrogância e preconceitosFoto: AP

Embora seja um país pequeno em comparação com o Brasil, a Alemanha e seus diversos Estados e regiões cultivam as tradições com muito afinco. Festas, comidas típicas e principalmente os dialetos diferenciam enormemente os alemães do norte e do sul, por exemplo. O vocabulário e as expressões usadas pelas pessoas de Munique, no sul, são como um outro idioma para alguém de Hamburgo, no norte, e vice-versa.

O alemão oficial, entretanto, é um só e teoricamente o mesmo ainda antes da unificação da Alemanha Ocidental com a de regime comunista, em 1990. O problema é o forte sotaque dos alemães orientais, ridicularizado como "caipira" no lado ocidental, de maior concentração industrial e, por isso, mais rico.

A celeuma cresceu na última semana, depois um anúncio de emprego para telefonistas feito por um empresário de Regensburg (sul do país). Johann Kapfhammer procura reforço para sua central de vendas por telefone, mas já avisa que não quer pessoas do leste alemão. Argumentando a necessidade de preservar o que chama de "diálogos de alto nível" dos seus funcionários, o empresário de 39 anos é considerado, no mínimo, mal informado.

O porta-voz da Delegacia Estadual do Trabalho no Estado alemão oriental da Saxônia está admirado. "Tantas pessoas daqui trabalham em vários Estados alemães e nunca houve discriminação neste sentido", admira-se Claus Welz. Ele lembra inclusive que na região de Görlitz fala-se alemão praticamente sem sotaque, "tanto que a Vodafone instalou nesta cidade sua central de atendimento por telefone".

Crítica da câmara

"Tais difamações perturbam as relações trabalhistas e devem ser evitadas", opina Walter Kaiser, da Câmara Alemã de Indústria e Comércio. Estes preconceitos não podem ser punidos por lei, pois cada chefe tem o direito de escolher seus funcionários, "mas a seleção preconceituosa é um absurdo", explica.

Também o psicólogo especializado em economia Detlev Liepmann considera bobagem os preconceitos contra o leste do país. "É contraproducente usar dialetos regionais para analisar a qualificação profissional de alguém", diz o professor da Universidade Livre de Berlim.

"Na linha de pensamento de Johann Kapfhammer, todo bávaro teria de reconhecer sua incompetência", acrescenta Liepmann, referindo-se ao difícil dialeto do sul da Alemanha. Aliás, pelo contrário, um estudo comparativo de 10 anos, feito pelo professor, conclui que a competência profissional é a mesma entre alemães do oeste e do leste.

O empresário responsável pelo anúncio considera-se mal interpretado. "De forma nenhuma quero difamá-los, só que já tive más experiências com candidatos de lá que nem apareceram nas entrevistas", argumenta.

A Delegacia do Trabalho de Regensburg entrementes já mudou o texto do anúncio, após um breve contato com Johann Kapfhammer. Agora, a frase "nenhum candidato do leste da Alemanha" foi substituída por "voz agradável ao telefone, sem sotaque".

Outro caso na Baviera

Em setembro último, outro empresário do sul da Alemanha havia chamado a atenção em nível nacional ao criticar os alemães do leste. Indignado com a reclamação de um casal da Turíngia, um fabricante de cortadores de legumes lhes escreveu uma carta em que os xingava como "incompetentes no uso de um aparelho de tão alta qualidade". Ao mesmo tempo, ameaçava engajar-se pela construção de um novo muro dividindo a Alemanha, "duas vezes mais alto que o anterior".

A notícia foi publicada pelo jornal Bild, de maior circulação no país, com a manchete "Este empresário insultou 16 milhões de alemães (o número de habitantes do leste do país)". A pressão da imprensa cresceu ainda mais quando foi revelado que tanto o empresário, de 68 anos de idade, como seu produto, eram originários do leste alemão.