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Situação na República Democrática do Congo fora de controlo

Nuno de Noronha / Mark Caldwell / Lusa16 de agosto de 2016

Exército e missão da ONU na República Democrática do Congo (RDC) não conseguem conter os rebeldes ugandeses. Pelo menos 50 pessoas morreram num ataque da Frente Democrática Aliada (ADF) no fim de semana, em Beni.

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Foto: Getty Images/K.Maliro

Ao todo, já foram violentamente assassinadas 1.200 pessoas na cidade de Beni, na conflituosa província de Kivu do Norte em menos de dois anos, de acordo com presidente da organização Sociedade Civil de Beni, Gilbert Kambale.

O modus operandi é quase sempre o mesmo: os rebeldes irrompem pelas vilas, com catanas e machados em punho, desferindo golpes mortais em quem encontram pelo caminho.

"Existe uma grande raiva nesta região de Kivu do Norte em relação ao Governo de Kabila", explica o investigador Phil Clark, especialista em estudos africanos da Universidade de Londres.

Lembrando que o Presidente da RDC, Joseph Kabila, visitou a região três dias antes do massacre, o professor explica que a insegurança mantém-se e "o Governo não consegue trazer segurança a esta zona do país. As pessoas estão de facto cansadas dessa incapacidade do Governo de as proteger".

Esconderijo de rebeldes

Situada numa área montanhosa de difícil acesso, a região de Kivu do Norte é um bom esconderijo para os rebeldes. Segundo testemunhos de organizações da sociedade civil, os insurgentes ugandeses chegam a vestir os uniformes das Forças Armadas da República Democrática do Congo, para confundir, atrair e atacar a popula­ção.

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Também a Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO) não consegue evitar os ataques. Segundo Phil Clark, o mal-estar em Kivu do Norte é tão grande que alguns residentes locais desconfiam de que o próprio exército colabora com os rebeldes da ADF.

"O Governo acaba por ser mais parte do problema do que da solução", afirma o especialista. Por outro lado, acrescenta Clark, "as Nações Unidas continuam a falhar na protecção da população", o que também constitui "uma grande parte deste problema".

A Frente Democrática Aliada começou os ataques violentos em 1996, no oeste de Uganda. Desde então, o grupo tem crescido e aumentado a área de atuação para zonas próximas à fronteira com a RDC. "Este é um de muitos grupos a operar no leste do Congo. O seu objetivo é atacar a população local para aumentar o controlo sobre a região", explica o investigador.

Falta de controlo de Kabila

Por outro lado, o Presidente da RDC continua a demonstrar falta de controlo na região, ao mesmo tempo que pretende manter-se no poder a qualquer custo. "Joseph Kabila nunca teve controlo nas províncias do leste e, de facto, não pode dar segurança e paz a esta região", considera Phil Clark.

Joseph Kabila
Joseph Kabila, Presidente da RDCFoto: AFP/Getty Images/A. Wandimoyi

A situação atual também demonstra que Kabila se quer manter no poder, não importa de que forma. "Continua a reprimir a oposição, nomeadamente Moïse Katumbi, o seu principal opositor", lembra o investigador.

Segundo o especialista em estudos africanos, Joseph Kabila está "a tentar ao máximo adiar as eleições previstas para o final deste ano", para manter-se no poder para um terceiro mandato. "A situação política na RDC é extremamente volátil e o massacre em Beni no fim de semana só o mostra cada vez mais".

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