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Sines, um exemplo de integração

João Carlos (Sines)18 de agosto de 2015

A integração social e económica da comunidade cabo-verdiana de Sines é tida como exemplar em Portugal. A DW África visitou a cidade portuguesa, à procura dos migrantes dos anos 70 e de hoje.

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Foto: DW/J. Carlos

Por volta das 10 horas da manhã, um barco regressa ao Porto de Pesca de Sines, depois de mais uma campanha. Em dia de pausa, Joaquim Morais e um conterrâneo seu assistem à azáfama da descarga do pescado. É na pesca que eles ganham o seu sustento, como muitos outros cidadãos cabo-verdianos que fixaram residência no município.

Joaquim mora no cais, mas grande parte dos cabo-verdianos, que aqui chegaram entre a década de 70 e 80, vive no Bairro Amílcar Cabral, erguido com o apoio da autarquia. Timóteo Soares também viveu lá, mas, entretanto, mudou de casa. Já deixou Cabo Verde há 40 anos. Ele foi um dos primeiros imigrantes que se instalaram em Sines atraídos pela promessa do setor pesqueiro.

"Como todos os emigrantes, quando se sai do país procura-se ter uma vida melhor. Ao nível do trabalho, o nosso país não estava tão desenvolvido como gostaríamos. Então, emigrámos. Por acaso, vim parar aqui a Sines."

Portugal - Porträt Timóteo Soares
Timóteo SoaresFoto: DW/J. Carlos

Naquela altura, não havia dificuldades em arranjar emprego. Timóteo Soares trabalhou sempre na mesma empresa, construiu a vida e constituiu família sem grandes atropelos. Mas, os dois filhos, que já fazem parte da segunda geração, deixaram Portugal para ir viver na Irlanda do Norte e na Holanda, porque tornou-se mais difícil arranjar emprego. Hoje em dia, "é muito diferente do que quando viemos em 1975", diz.

Crise e desemprego

Ainda assim, recentemente, Milito Soares foi aliciado pelo irmão a vir para Sines para trabalhar num barco de pesca.

"Trabalhei três meses no barco, mas o patrão vendeu a embarcação e fiquei desempregado. Muita gente ficou à espera de indemnização. Depois, fui para a Petrogal, onde trabalhei quatro ou cinco meses. Já passei pela Repsol e pela Artenius. Estive um ano e tal desempregado. Agora, estou na fábrica de carvão, no Porto de Sines."

A falta de emprego é uma realidade que não afeta apenas a comunidade imigrante. Agora com nacionalidade portuguesa, Vânia Anjos, que veio de Cabo Verde com 10 anos, formou-se em arquitetura. Foi recentemente mãe e está, neste momento, desempregada.

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"Quando comecei a estudar, as coisas estavam bem. Foi na altura do 'boom' da construção em Portugal. Mas, entretanto, isto estagnou com a crise", afirma. "A construção em Portugal está completamente parada. Isto está muito complicado."

Apesar da conjuntura, ela diz que se sente bem integrada na sociedade portuguesa.

Sines - exemplo de integração

"Esta é uma comunidade que já está cá radicada há muitos anos e ajudou a construir a própria cidade. Também faz parte dela e é aceite como tal", explica Gracinda Luz, presidente da Associação Cabo-verdiana de Sines e Santiago do Cacém.

A associação promove, por exemplo, formações abertas a toda a comunidade.

Algumas famílias apostam na formação superior dos seus filhos, embora ainda seja em percentagem reduzida. "O cabo-verdiano veio para trabalhar. Se calhar, a escola ao nível superior não é tão importante ainda, mas sim concluir os estudos obrigatórios e buscar trabalho. Isso ainda é uma mentalidade que tem que ser trabalhada."

Portugal - Kapverdischer Verein in Sines
Sede da Associação Cabo-verdiana de SinesFoto: DW/J. Carlos

A Associação assumiu a integração como uma das suas bandeiras, trabalhando em parceria com a autarquia local.

Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, diz tratar-se de uma comunidade exemplar e realça o papel por ela desempenhado na evolução do concelho.

"A própria autarquia tem acompanhado a Associação Cabo-verdiana de Sines e Santiago do Cacém na dinamização das suas atividades. Recentemente, tivemos inclusive a honra da visita do sr. Presidente da República e do sr. primeiro-ministro de Cabo Verde, uma vez que inaugurámos a sede da Associação Cabo-verdiana."

A sede da Associação, anexa ao Bairro Amílcar Cabral, foi construída com 75 por cento de financiamento da União Europeia e comparticipação da Câmara Municipal de Sines, no âmbito do projeto do Centro de Dinamização de Interculturalidade e Apoio Comunitário. É, até então, a única associação em Portugal a erguer uma sede com esta estrutura.