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Polícias guineenses "presos" em Luanda estão em greve de fome

15 de outubro de 2012

Polícias guineenses estão em greve de fome em Luanda em protesto contra a demora no seu regresso à Guiné-Bissau. Eles foram a Angola para uma formação no âmbito da cooperação entre Luanda e Bissau, agora suspensa.

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Algemas
AlgemasFoto: picture-alliance/dpa

O curso intensivo de formação policial terminou em julho passado e de lá até agora nada aconteceu, ou seja, os polícias permanecem ainda em Luanda sem ocupação. O golpe de Estado do início deste ano na Guiné-Bissau deitou por terra os planos de cooperação e formação militar, que está a ser desenvolvida nos arredores de Luanda.

A greve teve início no dia 04.10 e poderá ir até ao dia em que as autoridades de Bissau aceitarem que se efetive o regresso dos seus homens que foram para uma missão de treinamento Angola.

Os 349 efetivos da polícia guineense encontraram esta forma para pressionar seu regresso à Guiné-Bissau, aguardado desde julho.

Polícias guineenses culpam o seu governo pelo atraso

O governo de transição na Guiné-Bissau é polémico, ele tem o apoio da CEDEAO, por exemplo, mas não é reconhecido pela CPLP
O governo de transição na Guiné-Bissau é polémico, ele tem o apoio da CEDEAO, por exemplo, mas não é reconhecido pela CPLPFoto: DW

Numa entrevista à agência de notícias Lusa, o porta-voz do grupo de polícias grevistas, Elsio do Rosário Gomes, disse: "A nossa preocupação é saber quando é que vamos. Analisámos a situação e concluímos que realmente o atraso da nossa viagem tem a ver com o nosso país."

O Novo Jornal, um semanário de referência em Luanda, publicou no fim de semana declarações de um agente sob anonimato, que afirmou haver garantias de que o seu regresso deverá acontecer nos próximos dias.

Os agentes policiais guineenses foram a Angola para uma formação de seis meses em diferentes áreas de especialidade da polícia, no âmbito de um acordo de cooperação entre Angola e o governo guineense deposto em abril deste ano após golpe de Estado militar.

Negociações nos bastidores

Em Luanda há informações segundo as quais as autoridades guineenses também estão a preparar a sua receção, citando fontes familiares. Na sequência dessa greve, na última quinta-feira (11.10), alguns elementos do grupo foram recebidos pelo Comandante geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, que lhes terá garantido uma solução para breve.

O assunto deverá ser tratado ao mais alto nível entre os dois Estados, apesar de alguma renitência de setores militares da Guiné-Bissau, devido ao facto deste efetivo ter treinamento militar em Angola.

O comandante em chefe das Forças Armadas Angolanas, José Eduardo dos Santos, na sua condição de presidente da República, terá nos últimos dias se inteirado da situação através de informes dos vários setores castrenses para a resolução do problema.

Receio de polícias bem formados?

Carlos Gomes Júnior era primeiro-ministro guineense quando os polícias foram para formação em Angola
Carlos Gomes Júnior era primeiro-ministro guineense quando os polícias foram para formação em AngolaFoto: DW

O dilema dos agentes guineenses agudiza-se devido ao facto da técnica militar que dominam ser moderna. O analista político Justino Pinto de Andrade diz que os guineenses saíram de Angola bem treinados, e apresentou os seguintes argumentos: "É preciso especializar a polícia também, não podemos ter uma polícia altamente generalista porque os crimes começam a ser altamente especializados."

Para o analista é necessário que a polícia tenha capacidade de resposta adequada aos problemas que vão surgindo, e remata: "A polícia não pode ficar atrás dos bandidos."

Estes polícias estão a cerca de um ano em Angola, e um dos homens morreu por doença. O governo angolano paga-lhes um subsídio mensal de 78 euros. 

Nos últimos oito anos no quadro dos acordos de cooperação militar, celebrados entre Luanda e Bissau, cerca de 600 guineenses receberam formação em distintas instituições policiais angolanas.

Os acordos de cooperação técnico-militar suspensos na sequência do golpe de Estado, que pôs fim à presença militar angolana na Guiné- Bissau, previam ainda a construção de um centro de formação para a polícia guineense.

Grevistas pedem ajuda ao seu governo

Um muçulmano guineense na imagem. Os diferentes setores da sociedade guineense foram chamados a intervir no caso dos polícias
Um muçulmano guineense na imagem. Os diferentes setores da sociedade guineense foram chamados a intervir no caso dos políciasFoto: DW

Ainda de acordo com Elsio do Rosário Gomes, no interior da Guiné-Bissau não há polícias à altura de resolver os problemas, porque as pessoas que lá estão já são idosas e poucas, e por isso sem capacidade de responder  às necessidades do país.

Já em momentos de desespero o porta-voz dos polícias grevistas dirigiu-se às autoridades do seu país nos seguintes termos: "Apelamos aos nossos governantes - os que estão lá agora - porque somos apartidários, que nos ajudem a voltar." 
 
Igual pedido foi lançado pelos polícias às dioceses de Bissau e de Bafatá, ao Conselho Nacional Islâmico, à Liga Guineense dos Direitos Humanos, ao Conselho
Nacional da Juventude, à Associação dos Combatentes e Liberdade da Pátria,
para que intervenham junto dos atuais responsáveis do país. 

Autor: Manuel Vieira (Luanda)/LUSA
Edição: Nádia Issufo/Renate Krieger