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"Pioneiros de uma nova medicina, ou os Frankenstein do futuro?"

Laís Kalka13 de fevereiro de 2004

Políticos, médicos e as igrejas reagiram na Alemanha com indignação ao anúncio da primeira bem-sucedida clonagem de embrião humano para a aquisição de células-tronco por cientistas sul-coreanos.

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Embriões clonados na Coréia do SulFoto: AP

O questionamento acima, formulado pelo Financial Times Deutschland, define os dois pólos do debate ético em curso no mundo inteiro a respeito dos limites da biotecnologia. Na Alemanha, o anúncio de que cientistas sul-coreanos conseguiram clonar pela primeira vez um embrião humano e retirar dele células-tronco reacendeu o debate na imprensa e provocou reações de indignação de políticos e representantes de diferentes setores da sociedade.

Apenas vozes isoladas levantaram-se para saudar o progresso representado pela façanha dos pesquisadores da Universidade Nacional de Seul.

Clamor pela proibição internacional

Representantes dos partidos políticos rechaçaram quase que em uníssono o experimento e clamaram — uma vez mais — pela proibição da clonagem humana em todo o mundo. Demonstrando um consenso raro, social-democratas, democrata-cristãos e verdes alertaram para a degradação do ser humano como mero fornecedor de peças de reposição para a medicina. Somente uma porta-voz do Partido Liberal falou de um "resultado altamente interessante".

Nem mesmo um proveito médico — que ainda nem foi demonstrado — poderia justificar um procedimento no qual se matam embriões humanos, declarou a Conferência dos Bispos Alemães. E o Conselho Alemão de Medicina exigiu que se coloque um ponto final à ânsia dos pesquisadores de fazer tudo o que parece possível.

A ministra da Pesquisa, Edelgard Bulmahn, excluiu qualquer alteração na legislação alemã: "A clonagem terapêutica é proibida na Alemanha e continuará sendo proibida." A política social-democrata afirma que a lei de proteção aos embriões e a lei que regulamenta as pesquisas com células-tronco no país fornecem fundamentos seguros para os cientistas realizarem pesquisas dentro dos padrões internacionais.

A opinião da ministra é contrariada pelo especialista em medicina nuclear Detlev Ganten, para quem o experimento sul-coreano representa um "passo importante". O catedrático defende um afrouxamento da legislação alemã, que proíbe a destruição de embriões para a aquisição de células-tronco. Na Alemanha, só são permitidas pesquisas com células-tronco importadas, desde que as linhas celulares tenham sido retiradas de embriões antes de 1º de janeiro de 2002.

Comentaristas céticos

Comentários na imprensa alertam para o perigo implícito no fato de um pequeno círculo de cientistas determinar a direção a ser tomada pela sociedade. "Pois a ciência orienta-se pelo factível e não pelos valores", adverte o diário Freie Presse. O Süddeutsche Zeitung lembra que, em muitos países, a clonagem terapêutica é aceita de boa consciência pela população. "Por isso, a tentativa de proibir a técnica em todo o mundo está condenada ao fracasso."

Também o Wiesbadener Kurier está convencido de que os pesquisadores estão "muito longe de um claro não à clonagem de seres humanos".

Mas os políticos também têm sua parte de culpa no desenvolvimento, opina Uli Blumenthal, comentarista da emissora de rádio Deutschlandfunk. Afinal, "há seis anos os cientistas vêm anunciando regularmente autênticos ou pretensos sucessos em experimentos com embriões humanos".

Tempo suficiente para que eles já tivessem imposto a proibição internacional da clonagem humana, acrescenta. No entanto, eles até hoje barraram a iniciativa da Organização das Nações Unidas neste sentido, justamente por motivos "políticos".

Uma decisão a este respeito foi adiada para o segundo semestre de 2005. "O esclarecimento, 200 anos após a morte de Kant, continua sendo um processo inacabado", conclui Blumenthal.