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Opinião: Rio foi tiro de advertência para o COI

Joscha Weber
22 de agosto de 2016

Com 15 mil atletas, 206 competições em 28 modalidades, a dimensão dos Jogos Olímpicos é grande demais. As arenas esvaziadas do Rio servem de alerta para o Comitê Olímpico Internacional, opina o jornalista Joscha Weber.

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Joscha Weber é jornalista esportivo da DW
Joscha Weber é jornalista esportivo da DW

A prova dos cem metros rasos é o ponto alto dos Jogos Olímpicos, e quase todo mundo que gosta de esportes assinaria embaixo dessa afirmação. Há poucas competições que fascinam tantas pessoas de todas as culturas como esse espetáculo de 10 segundos. Quando nem essa competição está com ingressos esgotados, algo vai mal no mundo olímpico.

Nos outros dias de competições do atletismo, o Estádio Olímpico estava frequentemente com apenas 60% de sua capacidade ocupada, e as arenas de argolas, esgrima, ciclismo de pista, futebol e até natação também ficaram frequentemente abaixo da capacidade de público. O motivo: para muitos brasileiros, os ingressos dos Jogos Olímpicos eram simplesmente caros demais. Mas essa não é a única explicação: pelo menos a metade dos cerca de 280 mil ingressos distribuídos a escolares não foi usada. Os Jogos Olímpicos perderam sua atratividade?

Sim e não. Não porque também os Jogos do Rio ofereceram decisões emocionantes, como a disputa de pênaltis entre Brasil e Alemanha, a semifinal do tênis entre Del Potro e Nadal, o triunfo de Fiji no rugby, a vitória de última hora do handebol francês sobre a Alemanha ou a final do ciclismo de estrada em Copacabana. As disputas esportivas entre pessoas de todos os países ainda fascinam e mantêm bilhões diante da televisão, do rádio ou do smartphone.

E, ao mesmo tempo, a resposta é sim, pois os Jogos se afastam cada vez mais de suas origens e de seus ideais. A crescente comercialização, a dúvida sobre as performances por causa do doping, a paralisação parcial do transporte público fora da área olímpica, as medidas de segurança cada vez mais necessárias são fatores que explicam um certo grau de desânimo do público.

E o Rio de Janeiro, que, na verdade, é uma cidade que ama o esporte, não está sozinho nessa: Munique, Cracóvia, Estocolmo, Oslo e Hamburgo já disseram não aos Jogos Olímpicos. Por causa dos elevados custos para os contribuintes, das exigências especiais do Comitê Olímpico Internacional (COI) e das prováveis ruínas esportivas sem uso, como em Atenas, muitas pessoas dizem basta ao gigantismo olímpico.

Se, além de tudo isso, funcionários de alto escalão do COI, como o irlandês Patrick Hickey, são flagrados no comércio ilegal de ingressos e detidos pela polícia, confirma-se o clichê do dirigente esportivo corrupto e ostentador, com o qual todo país-sede é obrigado a lidar. E se ainda há atletas, como os nadadores americanos Ryan Lochte e James Feigen, que inventam um assalto para desviar a atenção do próprio vandalismo, está claro que a imagem dos Jogos Olímpicos está arranhada. Ainda dá para acreditar na chamada família olímpica?

A suspeita sempre esteve presente, a cada salto, a cada corrida, a cada arremesso. Desempenhos enigmáticos, entre outros no ciclismo de pista, casos de doping no levantamento de peso. E durante controles de doping, alguns inspetores obviamente mal treinados confundiram os nomes e até mesmo o sexo dos atletas testados. Alguns voluntários anunciaram involuntariamente testes de doping que, na verdade, não haviam sido anunciados. Assim, deve ser colocado um ponto de interrogação por trás do sistema de controle no Rio. De qualquer forma, dezenas de retestes positivos de Pequim, Londres e Sochi mostram que a fatura só chegará mais tarde, e que jogos limpos são uma ilusão.

Também não devem deixar de ser mencionadas aquelas curiosidades com as quais os funcionários do esporte costumam surpreender a todos nós. Não só o fato de que a maioria da equipe russa teve permissão para participar dos Jogos Olímpicos, mas não dos Jogos Paralímpicos, coloca dúvidas sobre a lógica olímpica. Também a decisão de nomear a russa Yelena Isinbayeva como porta-voz dos atletas olímpicos, exatamente uma pessoa que foi excluída dos Jogos Olímpicos do Rio por suspeita de doping, provoca reprovação. Para não mencionar o fato de que o funcionário da Fifa Issa Hayatou participou das cerimônias de premiação – uma honra que não deveria ser concedida a alguém tão próximo de Blatter, contra o qual são realizadas investigações por suspeitas de corrupção.

E mesmo assim, os Jogos da Juventude ainda são uma ideia brilhante. A união dos povos do mundo em um lugar para uma competição esportiva pacífica e intercâmbios culturais continua algo maravilhoso. Mas tornar esta reunião cada vez maior e mais cara é um grande erro. O Rio deu um tiro de advertência ao COI, com suas arenas parcialmente vazias. Esperemos que a mensagem surta efeito.