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Opinião: Volkswagen vai de mal a pior nos EUA

Thomas Neufeld (as)21 de setembro de 2015

Problemas no mercado americano já havia de sobra para a montadora alemã. Só que o atual escândalo de manipulação de taxas de emissão ameaça diretamente o presidente Martin Winterkorn, afirma o jornalista Thomas Neufeld.

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Tudo estava pronto para que esta fosse a semana do presidente Martin Winterkorn, já que, na sexta, ele apresentaria seu plano de reestruturação do conglomerado ao conselho de administração. Agora Winterkorn está diante de um desastre de custos milionários para a empresa e da sua maior derrota pessoal como chefe da Volkswagen.

Os negócios nos Estados Unidos são um "evento catastrófico", afirmara o poderoso presidente do conselho de empresa [conselho que representa os interesses dos trabalhadores] da Volkswagen já no início de 2014. Ele se referia às fracas vendas de carros e sobretudo à incapacidade da diretoria em Wolfsburg de reagir à essa situação. Agora as investigações das autoridades ambientais americanas mostram que ele tinha mais razão do que pensava.

É verdade que Winterkorn foi sensato à época, reagiu com o costumeiro rigor e demitiu os responsáveis nos Estados Unidos, mas aí ele cometeu o erro estratégico propriamente dito. Pois, no mais tardar desde então, os Estados Unidos são um caso sob a responsabilidade direta do chefe do conglomerado. E o chefe sempre se apresentou como um engenheiro meticuloso e obcecado por detalhes.

O mundo dele é a tecnologia – e Winterkorn sempre acreditou ter pleno controle sobre esse mundo, e isso também num conglomerado de 12 marcas que, sob sua direção, duplicou a produção mundial de carros para 10 milhões de unidades. Agora ele precisa reconhecer: ele perdeu o controle.

Pois já faz 16 meses que correm investigações sobre manipulações nas taxas de emissões de gases por veículos a diesel. Tempo de sobra, portanto, para os engenheiros da Volkswagen agirem. Mas o que fizeram Winterkorn e seus comandados nos últimos meses? A maior montadora de carros do mundo – ao lado da Toyota – estava preocupada demais com o seu rápido crescimento. Novos modelos eram apresentados quase que toda semana, e todo ano eram inauguradas novas fábricas na China ou na América do Sul.

Na condição de chefe do conglomerado, Winterkorn foi durante anos também chefe da marca principal, Volkswagen. Faz pouco tempo que ele entregou essa função ao antigo diretor da BMW Herbert Diess, aparentemente tarde demais.

Nos Estados Unidos, o "evento catastrófico" fica cada dia pior. No mês passado, a Volkswagen foi obrigada a anunciar um gordo prejuízo. Se Winterkorn hoje lamenta as manipulações nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, afirma que deseja recuperar a confiança dos clientes americanos, então ele desconhece a real situação. Pois os clientes americanos já haviam claramente optado por carros da Ford, da GM e da Toyota mesmo antes do atual escândalo.

O que o conglomerado Volkswagen precisa é de uma nova estrutura de liderança. Mais responsabilidade para as marcas e menos autocracia por parte de Winterkorn. É isso que ele deveria apresentar ao conselho de administração nas próximas semanas caso deseje cumprir até o fim seu contrato, que se encerra em 2018.