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Juiz da Suprema Corte dos EUA quebra silêncio de dez anos

1 de março de 2016

Conhecido por não questionar advogados durante audiências no máximo tribunal americano, Clarence Thomas faz sua primeira pergunta desde fevereiro de 2006 e causa espanto na corte.

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USA Supreme-Court-Richter Clarence Thomas
Foto: Getty Images/M. Wilson

"Senhorita Eisenstein, uma pergunta", interferiu o juiz Clarence Thomas, da Suprema Corte dos Estados Unidos, durante uma audiência nesta segunda-feira (29/02). O pronunciamento causou espanto entre os presentes – há dez anos o magistrado não fazia perguntas no tribunal.

Foi a advogada Ilana Eisenstein quem recebeu a honra das raras palavras do juiz. Durante a audiência, ela defendia uma lei federal para proibir a compra de armas de fogo – um direito de cidadãos americanos – para aqueles que foram condenados por violência doméstica.

Eisenstein já havia respondido a uma enxurrada de perguntas dos outros juízes quando Thomas a pegou de surpresa. "Você pode me dar outro exemplo no qual um crime de menor potencial ofensivo suspende um direito constitucional?", indagou o conservador.

Sentado ao lado da cadeira vazia de Antonin Scalia, outro ícone conservador no principal tribunal americano, morto no mês passado, Thomas não se viu satisfeito e fez mais perguntas durante alguns minutos, como se de repente tivesse recuperado a fala.

A última vez que o magistrado havia se pronunciado no tribunal para fazer questionamentos foi em 22 de fevereiro de 2006, num caso relativo à pena de morte no estado da Carolina do Norte. Desde então, quebrou o silêncio apenas uma vez, em janeiro de 2013, mas apenas para fazer um comentário bem humorado durante uma audiência.

Aprendendo em silêncio

O silêncio de Thomas, nomeado pelo então presidente George Bush em 1991 e o único negro entre os juízes da Suprema Corte, tornou-se curiosidade ao longo dos anos.

Em declarações anteriores, ele afirmou que não precisa fazer perguntas no tribunal porque os casos já estão muito bem esclarecidos nos processos por escrito. O juiz disse ainda que seus colegas interrompem demais os advogados, o que "não ajuda" em nada na apresentação dos casos.

Em 2000, porém, Thomas deu uma explicação mais pessoal para sua relutância em falar. Nascido na Geórgia, o magistrado contou que era muito tímido durante a infância por conta da "espécie de dialeto" que aprendeu com os avós. Para evitar gozações de seus colegas, ele se calou.

"Eu comecei a desenvolver o hábito de escutar… Eu não fazia perguntas na escola ou na faculdade de Direito. Eu podia aprender melhor apenas ouvindo", disse Thomas a um grupo de estudantes, há 16 anos. Após o pronunciamento desta segunda, uma mudança de hábito estaria por vir?

EK/afp/ap/rtr