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Economia digital conecta América Latina e Alemanha

Eva Usi (av)5 de junho de 2016

Em debate promovido pela DW com jovens empresários também do Brasil, participantes reivindicam imagem atualizada da América Latina, superando os quatro Ks: "Krisen, Katastrophen, Korruption, Kriminalität".

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Homens diante de monitores de computador
Foto: Getty Images/AFP/I. Mukherjee

O uso de aplicativos e plataformas digitais na economia avança em velocidade vertiginosa. A revolução tecnológica vai transformando praticamente todos os setores, do consumo, produção e sistema bancário, à publicidade e as técnicas mercadológicas.

No início de junho, a DW convidou até Berlim, para um intercâmbio sobre a nova economia digital na América Latina, jovens empreendedores que já praticam uma ponte virtual entre o continente americano e a Alemanha.

Entre os temas propostos constaram o engajamento de startups alemãs na região, os obstáculos que enfrentam e quais suas perspectivas de êxito, no longo prazo. A organização do evento ficou a cargo da Associação Empresarial para a América Latina (LAV, na sigla em alemão) e da empresa de relações públicas EdelmanErgo.

Tim Fabian Besser, CEO Besser International
Empreendedor Tim Besser (dir.): "Nem todo modelo digital tem suicesso garantido"Foto: DW/E. Usi

"Brasil não é o Eldorado"

Tim Fabian Besser é o diretor executivo e fundador da Besser International, que assessora, em questões de mídia online e comércio eletrônico, empresas alemãs candidatas a entrar no mercado brasileiro. Oferecendo grande potencial, graças a seu próprio tamanho, o país continua sendo o primeiro destino para os investimentos alemães na América do Sul.

"Apesar disso, não é o Eldorado", comenta Besser, em referência à mítica cidade de ouro cobiçada pelos conquistadores europeus. "Nem todo modelo digital tem sucesso garantido. Também leva muito tempo até uma nova empresa poder realmente funcionar." Além disso, ao contrário de outros países da região, no Brasil a mão de obra é cara.

Outras nações latino-americanas apresentam uma combinação semelhante de perspectivas e dificuldades. A Kreditech, com sede em Hamburgo, oferece pela internet créditos e microcréditos a pessoas físicas no México sem cadastro bancário ou que, por culpa de algum débito, são rechaçadas pelo sistema bancário tradicional.

Com 122 milhões de habitantes, o país americano tem um mercado potencial para esse tipo de serviço cifrado em 62 bilhões de euros. Segundo o funcionário da Kreditech Diego Velázquez Leitz, 86% dos mexicanos se encaixam na categoria designada pelo setor como "underbanking".

No momento, a firma hamburguesa disponibiliza microcréditos entre mil e 3 mil pesos mexicanos (47 a 142 euros) sem maiores exigências burocráticas. Apesar de ter inicialmente enfrentado, ela mesma, os empecilhos da burocracia mexicana, a Kreditech vê excelentes desdobramentos nesse setor em que ela foi pioneira, em 2013, mas o qual já conta, hoje, com 15 novas empresas.

Diego Velázquez Leitz, Kreditech
Firma de Diego Leitz oferece microcréditos a mexicanos pela internetFoto: DW/E. Usi

Inovação móvel em estudos de mercado

Nascido na Bolívia, Mateo Freundenthal chegou à Alemanha há dez anos para estudar engenharia. Através de crowdfunding, fundou em 2012 a empresa Honestly, que tem sede em Colônia. Seu produto é a app homônima, que permite a proprietários de restaurantes, lojas e prestadoras de serviços receber as cotações da clientela através de um terminal estacionário.

Honestly avalia a opinião dos consumidores em tempo real. "Ajudamos nossos clientes a manter seus fregueses mais satisfeitos e leais, e a vencer num mercado de competitividade", explica o jovem empreendedor.

Freundenthal também está consciente do potencial mercadológico da Bolívia e de outros países da região. "O gosto das pessoas na América Latina por usar telefonia móvel na vida quotidiana é enorme. Nós estaríamos prontos a começar nesse mercado, mas estamos procurando os sócios adequados", anuncia.

América Latina para além dos quatro K's

O paraguaio Alberto Behrens, encarregado de moderar os debates promovidos pela DW, trabalha para a EdelmanErgo, que se apresenta como maior firma de relações públicas em nível mundial, com sede em Chicago. Seus clientes são instituições estatais, partidos políticos, associações e ONGs.

"Por exemplo, estamos assessorando uma embaixada em assuntos de marca-país, como se apresentar na Alemanha, como definir a agenda, que temas priorizar, com quem tratá-los, quais divulgar na mídia", relata o especialista.

Ele lamenta a persistência, entre os alemães, da mesma imagem que se fazia de muitos países latino-americanos 20 anos atrás. "Os temas associados à América Latina continuam sendo crises políticas e econômicas, catástrofes naturais, corrupção e criminalidade." Em alemão, são os quatro K's: Krisen, Katastrophen, Korruption, Kriminalität.

"Isso não faz justiça à mudanças de paradigma na região. Não há a Ebay [no comércio eletrônico], mas há comerciolibre.com e despegar.com, duas firmas argentinas", aponta o analista. O pico digital se reflete numa geração jovem com uma experiência internacional e uma autoconfiança que a juventude de duas décadas atrás nunca teria.

Embora ainda um tópico pendente em muitos países, a educação fez progressos, assegura. Além disso, as redes sociais permitem a muitos jovens de latitudes diversas compartilharem suas vidas em tempo real, enfatiza Alberto Behrens.