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Berlinenses usam criatividade para manter viva a cultura rave

Barbara Woolsey (mas)22 de outubro de 2014

Nos anos 1990, festas a céu aberto eram frequentes na cidade recém-unificada. Hoje, elas se tornaram ilegais, e entusiastas se desdobram para driblar a polícia e não deixar que a tradição se acabe.

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Foto: picture-alliance/dpa

A tradição das raves na capital alemã remonta ao início dos anos 1990. Na cidade recém-unificada após a queda do Muro de Berlim, jovens se encontravam em campos ao longo dos trilhos de trem ou em terrenos de fábricas abandonadas, com a música techno explodindo nas caixas de som. Os organizadores convidavam apenas alguns amigos, o que não impedia que a notícia se espalhasse – mesmo sem a ajuda da internet.

Com cerca de 2.500 parques e praças públicas e inúmeros prédios e terrenos vazios, Berlim é a cidade ideal para esses encontros musicais, que geralmente começam no final da tarde e se estendem até a manhã do dia seguinte. O problema é que as raves ao ar livre são atualmente ilegais.

Traga sua própria cerveja

Enquanto a polícia é obrigada a terminar rigorosamente com essas festas, há grupos que tentam manter o espírito rave vivo. Zurück zu den Wurzeln (De volta às raízes) é uma série da festas que acontece em Berlim e que segue rígidas regras: sem entrada, sem seguranças e BYOB (traga sua própria cerveja, da sigla em inglês).

A última festa, em julho, aconteceu em um local próximo à estação de trem de Ostkreuz, no bairro de Lichtenberg. As indicações diziam para seguir a música, passar por uma cerca de arame farpado e atravessar alguns arbustos. No caminho, pessoas sentavam na grama, outros dançavam ou brincavam com seus cachorros e alguns até se divertiam com seu bambolê.

Berlin Volkspark Friedrichshain
Com diversos parques e espaços vazios, Berlim é a cidade ideal para festas ao ar livreFoto: picture-alliance/dpa

Legalmente falando, aquilo tudo não deveria acontecer. "Nós solicitamos uma licença às autoridades locais para usarmos esse espaço até que construam apartamentos aqui em algum momento do futuro", diz Dragan, um dos organizadores. "Mas eles negaram! Eles preferem deixar o espaço sem uso, acumulando lixo, a ceder para a comunidade para uso temporário".

Dragan está acostumado a ouvir não, mas isso não impediu que a festa acontecesse por oito horas, até a polícia aparecer.

Truques e tramites

As autoridades berlinenses são tão familiarizadas com as festas quanto os fãs de música eletrônica, o que torna não ser pego um verdadeiro desafio. Os organizadores e frequentadores tentam driblar a polícia usando grupos fechados no Facebook ou compartilhando o local da festa no último minuto.

Alguns dos frequentadores, cansados de ver a polícia acabar com a folia, encontraram uma solução para o problema: "OpenAir to go". Os convidados trazem seus rádios e caixas de som portáteis e sintonizam uma freqüência de rádio pirata. O DJ toca ao vivo, usando um laptop e um controlador. A ideia foi tão bem sucedida que a marca de cerveja alemã Becks patrocinou uma dessas festas no começo desse ano com mil garrafas de graça.

"Um policial veio, mas ele só perguntou quando iríamos terminar e foi embora", conta Martin, um dos criadores da OpenAir to go. "Eles podem dizer para irmos embora, mas eles não podem parar a música."

Comercial e legalizada

Os berlinenses parecem ter uma fonte inesgotável de como escapar das reclamações da polícia. Rave Hänger, por exemplo, lidera passeios noturnos de bicicleta com música eletrônica "bombando" de caixas de som acopladas a um carrinho.

Ele compartilha as coordenadas do ponto de encontro no Facebook. Hänger lidera o grupo com sua jaqueta cravejada de LED e incentiva os participantes a levarem sua própria parafernália.

No entanto, esses eventos são poucos e não muito frequentes. O crescimento da popularidade da noite berlinense pelo mundo trouxe muitos turistas e novos clubes à cidade. Alguns também criaram suas próprias versões das festas ao ar livre.

17. Melt! - Festival in Ferropolis
Hoje, as festas ao ar livre também são organizadas pelos clubes comerciaisFoto: picture alliance / ZB

Enquanto a velha guarda despreza essas novas festas, é fácil ver por que elas também são atrativas. Os frequentadores pagam entrada e preços salgados por suas bebidas, mas essas festas são legais, então não há perigo em ser mandado para casa pela polícia.

Outra vantagem é que essas festas ao ar livre são em espaços anexos aos clubes. Assim, ela não acaba, mesmo que o clima não ajude.

Alguns clubes berlinenses que têm áreas ao ar livre são o Suicide Circus, Kosmonaut, ELSE e Wilde Renate. Há também alguns com áreas maiores, que tentam recriar uma atmosfera de festival de verão, como o Lichtpark, Rummelsburg, Badeschiff e Jannowitzbrücke.

Além de Berlim

Para Dragan, festas oficiais ao ar livre em um clube noturno não são uma alternativa atraente: "Divertir-se deve ser algo acessível", diz o organizador. "Não gostamos dessas raves de massa. Não queremos uma festa com três ou quarto mil pessoas, mas algo menor e com mais personalidade."

Em Halle, cidade próxima a Leipzig, uma lei entrou em vigor em abril de 2013 que permite festas espontâneas com até 500 pessoas em lugares públicos. Porém, há regras: bebidas não podem ser vendidas, e os organizadores não podem lucrar com o evento. Em Bremen, no norte da Alemanha, a câmara municipal está tentando implementar uma lei similar.

Enquanto isso, os entusiastas da cena em Berlim continuam à espreita em plena luz do dia, carregando toca-discos e geradores para locações secretas e esperando que a polícia não descubra onde eles estão. As batidas podem sempre aparecer, quando se menos espera.