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Arquivo informa sobre soldados desaparecidos

Pascal Pfitzenmaier/(rr)28 de março de 2005

Instituição criada em 1939 serviu para controlar a efetividade das tropas nazistas durante a guerra e até hoje ajuda filhos de soldados alemães a esclarecer destino dos pais.

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Que destino se esconde por trás destas cadernetas militares?Foto: dpa

"Talvez sejamos a única repartição pública que trabalha ininterruptamente desde sua criação, em 1939", diz Peter Gerhardt, vice-diretor da Deutsche Dienststelle. O departamento, dedicado à informação de familiares de soldados alemães desaparecidos ou mortos durante a Segunda Guerra, apenas mudou de nome nessas mais de seis décadas. É o sucessor da Wehrmachtauskunftstelle für Kriegerverluste und Kriegsgefangene.

Na parede de seu escritório, instalado numa antiga fábrica de munições na zona norte de Berlim, estão penduradas pinturas a óleo. Os motivos: navios de guerra da Marinha alemã. Gerhardt começou como estagiário no Arquivo da Marinha e já ocupa esta sala há mais de 40 anos.

"Os arquivos vivem", conta Gerhardt, enquanto mostra o fichário central, como é chamado o arquivo no qual estão guardadas informações sobre 18 milhões de soldados na mais estrita ordem alfabética. Cada uma das fichas nestas gavetas representa um soldado. "O fichário central é o coração da nossa repartição", conta. Cada solicitação de outros departamentos ou de parentes é registrada à mão por seus funcionários. Assim o fichário é mantido atualizado.

Filhos da ocupação procuram seus pais

Nos últimos quatro anos, as consultas feitas do exterior se multiplicaram: filhos de soldados alemães estão à procura de seus pais. "Na maioria dos casos, eles só conhecem o primeiro nome. Às vezes, também o posto que ocupavam ou a cidade onde nasceram", conta Gerhardt. "Nesse caso, a busca assemelha-se a uma consulta criminal e pode levar de seis a 12 meses." A cada mês, são feitas entre dez e 15 novas consultas, vindas de países que um dia foram ocupados pela Alemanha, como Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica e França.

A causa da ausência de consultas vindas da Itália ou do Leste Europeu – regiões igualmente um dia ocupadas – permanece mera especulação. "Conversei com uma equipe de repórteres da televisão italiana. Eles disseram que a situação na Itália do pós-guerra, que se assemelhava a uma guerra civil, sobrepôs-se às lembranças do tempo da ocupação alemã. Mas também que o catolicismo seria um motivo: as viúvas e os filhos de soldados encontraram proteção nas famílias."

Já para o Leste Europeu, acredita Gerhardt, os motivos são outros. Segundo ele, questionar as origens permaneceu nesses países um ato indesejável por motivos políticos até 1990. E, caso isso mude, ainda há a questão do tempo: a maioria dos filhos desses soldados está hoje com mais de 60 anos e seus pais muitas vezes nem vivem mais.

Arquivo incentivou a guerra

O órgão de informações é um resquício da Segunda Guerra Mundial. Ele foi criado poucos dias antes do início do conflito, em 28 de agosto de 1939, e suas atividades tinham, em princípio, um caráter humanitário: no caso de guerra, a Convenção de Genebra de 1929 obrigava seus signatários a registrar os dados pessoais de todo prisioneiro e a informar a Cruz Vermelha.

1939 Einmarsch deutscher Truppen in Polen
Chegada das tropas alemãs à Polônia em 1939Foto: dpa

Mas suas atividades acabaram servindo ao aparato nazista. Afinal, o órgão fazia o recenseamento dos próprios soldados. Cada enfermidade, cada ferimento ou desaparecimento era registrado nas fichas pessoais. Em caso de morte, os parentes eram informados. O objetivo por trás desse aspecto humanitário era, antes de tudo, controlar a efetividade das próprias tropas.

Após o fim da guerra, os Estados Unidos tiveram a intenção de destruir o arquivo, temendo que a Alemanha pudesse recompor seu Exército com a ajuda dos dados ali armazenados. Os franceses se opuseram, argumentando que o arquivo poderia ajudar a reencontrar soldados franceses forçados a lutar junto às tropas nazistas e que, por isso, acabaram aprisionados pelas forças russas. Foi decidido que o arquivo passaria ao controle francês, sendo transferido, na Berlim dividida, ao setor francês.

Arquivo cresce

Em 1949, a Grã-Bretanha entregou as fichas de seu arquivo de prisioneiros à Alemanha. A França fez o mesmo em 1952 e os Estados Unidos, em 1962. Após a reunificação da Alemanha em 1990, a repartição ficou encarregada de conferir o direito à aposentadoria de parentes de antigos soldados da República Democrática Alemã (RDA).

Sessenta anos depois, o órgão ainda lida com as conseqüências da Segunda Guerra. Com o desmantelamento do bloco soviético, foi possível obter acesso a arquivos que ajudaram a esclarecer o destino de muitos soldados desaparecidos. Nos países do bloco, diversas sepulturas foram convertidas em valas comuns. Nesses casos, o órgão informa os parentes dos mortos e atualiza as fichas do arquivo.

Organizado por país, o fichário ocupa salas inteiras em vários andares. As prateleiras vão até o teto e caminhar entre elas causa tontura. No total, estão arquivadas mais de 45 toneladas de atas com mais de 10 milhões de entradas individuais. E muitos destinos ainda aguardam para ser esclarecidos.