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Relatório anual da Economia de Angola 2014 pouco otimista

Cristina Krippahl11 de junho de 2015

Quem o diz é Precioso Domingos, um dos autores de um relatório anual de referência sobre a economia de Angola. E mais: a crise está para durar e os que mais sofrem são os que menos têm.

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Foto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

Em Luanda foram apresentados relatórios críticos sobre a situação económica e social de Angola, supostamente um dos países mais ricos de África. Os autores independentes do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, publicado na quinta-feira, 11 de junho de 2015, chegam a conclusões pouco abonatórias para o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos. E prevêm um prolongamento da presente crise que prejudica, sobretudo, os mais pobres, como conferem os relatórios.

A DW África falou com um dos autores dos documentos, o economista Precioso Domingos:

DW África: Porquê esta projeção pouco otimista ?

Precioso Domingos (PD): É que o crescimento económico de Angola até aqui tem sido conduzido fundamentalmente pelo preço do petróleo internacional. Uma vez que a conjuntura internacional para o mercado de petróleo é o que é, esta situação vai perdurar. Por esta razão não se imaginam taxas de crescimento como já tivemos no passado. E Angola vai passar por um 'bom' bocado”.

DW África: No entanto o preço do petróleo começa a recuperar. Não se poderá dizer que o problema está prestes a ser resolvido?

PD: Tem havido algumas oscilações, é verdade. Mas, vejamos, qualquer preço, por mais que o petróleo atinja 80 ou 90 dólares, abaixo daquilo que era habitual, é sempre um prejuízo. E não é provável que o preço se venha a situar acima desse nível”.

DW África: A palavra-chave no relatório, e é uma que temos vindo a ouvir há muitos anos, é “diversificação”. Mas a diversificação parece que se tornou numa palavra para os discursos de domingo?

PD: É evidente que a palavra “diversificação” foi politizada. Nasceu em 2007/2008, na altura em que tivemos a crise conjuntural do petróleo. Mas não diversificámos nada na economia. O grande problema é que agora isto ocorre num contexto mais difícil. Naquela altura tínhamos condições para diversificarmos a estrutura da economia. Agora, com a situação económica que temos, pode ser que a diversificação ocorra, mas vai depender mais de empréstimos. Não é impossível, mas é muito mais complicado fazê-lo através de empréstimos, créditos ou investimento estrangeiro.

Afrika Tagelöhner in Luanda (Angola)
São os pobres quem mais sofre com a crise em AngolaFoto: picture-alliance/dpa/W. Langenstrassen

DW África: Justamente, passou agora pela imprensa que há acordos secretos entre Angola e a China para créditos avultados. Isso é uma solução?

PD: O crédito, dependendo do destino que lhe é dado, pode ser virtuoso. Mas há aqui uma série de receios. Na realidade, desde 2002 até mais ou menos 2014, os investimentos públicos foram avaliados em 93 mil milhões de dólares. Mas, infelizmente, o impacto sobre o crescimento económico – lembro que tivemos taxas de 16% ou 17% em termos de crescimento económico – mas o recorde que tivemos em termos de contributo dos investimentos públicos sobre o crescimento económico foi de dois por cento. Tudo bem, o dinheiro da China pode interessar, mas se calhar o mais importante era a priori fazermos uma reforma política. Até termos a certeza que cada dólar investido no país tenha um impacto maior.

DW África: Eu entendi corretamente quando diz que estes investimentos não tiveram o impacto desejado, isso se deve também, sobretudo, à falta de transparência destes investimentos, a não se saber, para onde exatamente vai o dinheiro?

PD: Absolutamente. Os investimentos públicos certamente foram um dos grandes para o enriquecimento de uma série de pessoas, que agora são as chamadas elites: Vamos fazer uma obra, que deveria custar cinco milhões de dólares. Mas pede-se à pessoa que supostamente defende o interesse público para escrever 15. E depois fazem a distribuição. Então, nesse ponto de vista havia o interesse de canalizar o máximo de investimentos públicos, para investir para ter acesso e para ser uma oportunidade de ter mais algum dinheiro.

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