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5 de agosto de 1942

Doris Bulau (ms/av)

No dia 5 de agosto de 1942, médico e pedadogo polonês foi deportado do gueto para o campo de extermínio. Diretor do orfanato judaico de Varsóvia, Korczak preferiu acompanhar suas crianças até a morte.

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Túmulo de Janusz Korczack no cemitério judaico de VarsóviaFoto: AP

Nascido em Varsóvia, em 22 de julho 1878, Henryk Goldszmit cresceu no espírito liberal do movimento judaico de esclarecimento Haskalah. Seu pai era um advogado judeu, porém cedo Henryk abandonou o meio burguês. Optou pela Medicina, e teria uma brilhante carreira internacional pela frente, se não tivesse escolhido outro caminho: ajudar os pobres e órfãos das favelas de sua cidade natal.

Desde pequeno, costumava sair escondido de casa para ir brincar com as crianças pobres. Quando resolveu se dedicar às crianças carentes, mudou de nome, passando a chamar-se "Janusz Korczak".

Esse pseudômino foi tirado do apreciado romance polonês do século 19 sobre Janasz Korczak e a bela espadachim. Mas o tipógrafo errou, transformando "Janasz" em "Janusz" – e ficou por isso mesmo.

Pedagogo na teoria e na prática

A partir de 1911, Korczak dirigiu o orfanato Dom Sierot (Casa dos Órfãos), construído conforme seus planos. Nele, colocou em prática todos seus ideais de educação como utopia de uma sociedade pacífica, sem distinção de classes. Até então, o mundo para ele estava dividido em duas classes: a dos adultos e a das crianças. Entre ambas reinava uma luta constante e desigual, onde as crianças não tinham a menor chance.

Paralelamente a seu extraordinário engajamento pelas crianças, Korczak batalhava como escritor, com certo fanatismo e desmesurada paixão pela causa infantil. Escrevia meticulosamente sobre educação e as peculiaridades da psicologia infantil, baseado em suas próprias experiências e ideologia, além de salientar a premente necessidade da igualdade de direitos.

Janusz redigiu seus textos sob circunstâncias adversas: durante as pausas de combate na Primeira Guerra Mundial, depois de puxados dias de trabalho, faminto, e até doente. Além de suas dissertações pedagógicas, ele se aventurou pela literatura de ficção, escrevendo um romance com muitos traços autobiográficos.

Atividades múltiplas

Em seu orfanato Dom Sierot, Korczak montou o que imaginava ser uma "república democrática infantil". Tinha um parlamento, um tribunal infantil, um jornal e muitas outras instituições, nas quais e através das quais crianças e educadores aprendiam a conviver sem que um grupo reprimisse ou dominasse o outro.

Além de diretor, médico e literato, Korczak acumulava outras funções. Era funcionário de uma emissora, diretor de uma escola experimental, editor de um jornal infantil e professor universitário. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ele voltou a vestir seu uniforme de oficial polonês, que já havia usado como médico militar, numa mostra de sua lealdade para com seu povo.

Em 1940 foi instituído o gueto judaico de Varsóvia, para onde também se transferiu o orfanato de Korczak. As 200 crianças e seu diretor viviam em condições indescritíveis. Até que, em 22 de julho de 1942, os nazistas invadiram o gueto, dando início à matança em massa de seus habitantes, através da chamada "transferência" para o campo de extermínio de Treblinka.

O "Velho Médico", como gostava de ser chamado, teve diversas possibilidades de se salvar, mas sempre as recusou, indignado. Numa quarta-feira, dia 5 de agosto de 1942, chegou a vez da "transferência" do orfanato, poupado até então. As crianças formaram filas de quatro. Korczak encabeçava o cortejo, de mãos dadas com duas delas, num protesto organizado e silencioso contra os nazistas.

Em suas últimas anotações, antes da marcha rumo à câmara de gás, o médico escreveu: "Não desejo nada de mau a ninguém. Não consigo. Não sei como se faz. Pai nosso, que estais no Céu. Essa oração nasceu da fome e da desventura. Pão nosso de cada dia. Mas isto que eu suporto, aconteceu mesmo. Aconteceu".